Publicidade

Mercado

Falas de Haddad sobre revisão de gastos aliviam o câmbio e dólar fecha a R$ 5,36

Moeda teve queda de 0,70% nesta quinta-feira (13), com novas sinalizações do governo em direção à responsabilidade fiscal

Falas de Haddad sobre revisão de gastos aliviam o câmbio e dólar fecha a R$ 5,36
Dólar americano (Foto: Adobe Stock)
O que este conteúdo fez por você?
  • O dólar encerrou esta quinta-feira (13) com uma queda de 0,70%, cotado a R$ 5,36
  • O alívio do dia acontece depois de um discurso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendendo uma revisão nos gastos do País
  • Apesar do alívio, a moeda americana caminha para encerrar a primeira quinzena de junho com uma alta de 2,30% no mês, o que leva a valorização acumulada em 2024 para expressivos 10,6%, segundo o Broadcast

O dólar encerrou esta quinta-feira (13) com uma queda de 0,70%, cotado a R$ 5,36. Apesar do alívio, a moeda americana caminha para encerrar a primeira quinzena de junho com uma alta de 2,30% no mês, o que leva a valorização acumulada em 2024 para expressivos 10,6%, segundo o Broadcast.

O câmbio está no centro das discussões de investidores na semana depois de disparar para o maior valor desde janeiro de 2023 em meio a ruídos sobre o futuro da trajetória fiscal do País. Na quarta-feira (12), a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 5,43 durante um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que destacou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.

As falas acentuaram o sentimento negativo de investidores em relação ao equilíbrio das contas do Brasil, em um momento em que o Governo Federal enfrenta dificuldades para aprovar no Congresso medidas que aumentem a arrecadação fiscal e, assim, ajudem a União a entregar a meta de déficit zero prometida para 2025. Essa incerteza fez o câmbio disparar na quarta-feira, com o entendimento de que o ministro da Fazenda Fernando Haddad estaria perdendo força nos bastidores.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Hoje, no entanto, foi justamente Haddad o responsável por acalmar os ânimos, o que acabou se refletindo em um alívio na cotação do dólar.

Ao lado da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, Haddad fez um discurso em defesa da intensificação na agenda de revisão e corte de gastos, afirmando que as equipes econômicas do governo estão dando bastante força nesta pauta com uma reavaliação “ampla, geral e irrestrita das despesas do País”. Leia mais detalhes nesta reportagem do Estadão.

“O ministro da fazenda Fernando Haddad está perdendo poder dentro do governo e o mercado ficou com medo de que algum político menos comprometido com o fiscal do Brasil poderia assumir o lugar dele ou ganhar mais voz no governo; isso foi, especialmente, o que mais pesou ontem. Após a fala de Haddad sobre os avanços na agenda de revisão de gastos, os ativos locais passaram a operar em melhores níveis”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Com a reação mais amena do mercado ao cenário fiscal, o dólar conseguiu encerrar a sequência de altas que já durava a quatro pregões, desde a última sexta-feira (7). “Mercado aproveitou para realizar um pouco de lucro. O fechamento de exportações de minério de ferro com a recente alta da demanda e do preço pela China tem feito o preço hoje. Mas a nossa política e todos os seus desdobramentos em relação ao fiscal e ao ministro Haddad ainda jogam contra o real e limitam uma queda maior”, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

Dados lá foram ajudam

O risco fiscal tomou o protagonismo no mercado financeiro de tal forma que, na quarta-feira, anularam os sinais vindos do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, sobre o futuro da taxa de juros por lá. Nesta quinta-feira, no entanto, o alívio causado pelas falas de Haddad abriu espaço para que investidores voltassem a monitorar o cenário por lá. E houve um sinal positivo.

Publicidade

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês), um importante índice de inflação nos EUA, veio abaixo do esperado, levando o mercado a apostar que o Fed possa iniciar o ciclo de afrouxamento monetário em setembro. O monitoramento do CME Group mostra que essa possibilidade subiu de 63,3% para 69,5% logo após a divulgação dos dados de inflação.

“O mercado voltou a aumentar as apostas de um corte a mais pelo FED, ou seja, 50 bps em 2024”, diz Bruno Monsanto, economista da RJ+ Investimentos. “Se a dinâmica global de inflação se mantiver como está, o dólar pode recuar um pouco, mas voltar abaixo dos 5 reais é muito improvável. Por aqui a situação é ainda mais frágil, com a falta de compromisso do nosso governo com o fiscal e a capacidade de governar se deteriorando.”

O que esperar do resto de 2024?

As projeções do mercado para o câmbio ao final de 2024 começaram a ser revisadas. Em janeiro, a expectativa era que o dólar encerrasse o ano na casa dos R$ 5, mas a tese tem cada vez menos respaldo no mercado. A última edição do Boletim Focus trouxe uma expectativa de R$ 5,05, mas há quem esteja mais negativo em relação à trajetória da moeda americana. O Itaú BBA, por exemplo, elevou nas últimas semanas a sua projeção para o dólar para R$ 5,15 em dezembro.

Douglas Ferreira, diretor da mesa de cambio e investidor não residente da Planner Investimentos, explica que o dólar tem sido pressionado por essa combinação de manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos por mais tempo, enquanto, internamente, o Brasil passa por um momento turbulento na política. “Tudo isso contribui para a alta do dólar. Permanecendo esse cenário, entende-se que a alta do câmbio deve permanecer ainda por alguns meses”, destaca.

Felipe Corleta, da GTF Capital, também vê uma tendência de cotação elevada para frente. Segundo ele, o dólar pode voltar para o patamar de R$ 5,20 caso o governo consiga conciliar algum corte de gastos. “No entanto, isso precisa ser muito bem definido. Caso nada mude e as questões fiscais não se resolvam, a moeda pode continuar em tendência de alta. Isso, pelo menos, é o que mostra os dados técnicos”, salienta Corleta.

Publicidade

*Colaborou Renatta Leite