- O baixo desempenho do Ibovespa no longo prazo mostra que a bolsa de valores pode não entregar retornos acima da renda fixa como diz o consenso do mercado
- Há algumas razões para a derrota do IBOV para o CDI. Alta exposição a commodities e incertezas no cenário macroeconômicos impedem um desempenho mais robusto para o principal índice da B3
- Apesar do baixo desempenho, os analistas dão dicas de como os investidores podem lucrar ao investir na bolsa de valores. Veja as dicas!
A desconfiança dos investidores com a capacidade do governo em equilibrar as contas públicas trouxe um cenário de crise para a Bolsa de valores brasileira. O Ibovespa encerrou o primeiro semestre do ano com uma desvalorização de 7,7% diante da incerteza no campo fiscal. Já no mercado de renda fixa, o estresse econômico expandiu as oportunidades de ganhos com a presença de títulos com rentabilidade de IPCA+6%.
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A nova realidade parece ser um momento pontual para os ativos de renda variável, visto que há um consenso entre os analistas ao indicar que este mercado se torna mais rentável no longo prazo e consegue superar a renda fixa. No entanto, um estudo da Tag Investimentos aponta que o cenário ruim da Bolsa é mais comum do que se imagina. A afirmação se baseia no desempenho do Ibovespa, principal índice da B3, que não conseguiu superar o CDI no acumulado dos últimos 20 anos.
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“O argumento que estamos vivendo uma fase atípica não se sustenta, embora olhando-se o gráfico de 20 anos do Ibovespa os momentos acima do CDI ocorrem, só que sucedidos por momentos abaixo, com bastante volatilidade e retorno, na média, insatisfatórios”, diz André Leite, CIO da Tag Investimentos.
Essa realidade de 'sobrevivência' do principal índice da B3 se transforma em um desafio não apenas para os investidores, como também para os gestores do fundo de ações que precisam encontrar estratégias que sejam capazes de superar o benchmark e o CDI.
Ainda segundo a Tag Investimentos, em um universo de 676 fundos de ações, apenas nove conseguiram ter um tempo de vida de 20 anos e entregar uma rentabilidade de um CDI+2%. Ao elevar a régua dessa rentabilidade para CDI+4%, apenas quatro fundos conseguem ter um desempenho superior. Isso significa que a contratação da gestão ativa pode ajudar o investidor brasileiro a conseguir ultrapassar o CDI ao investir em renda variável.
O grande problema surge com a oferta de outras opções de investimento que garantem esse retorno mais fácil, o que transforma o trabalho dos gestores ainda mais árduo. “Um retorno de CDI + 2% (nossa régua mais baixa) é algo que se obtém com uma relativa facilidade com uma carteira pulverizada de crédito privado. Se for de produtos isentos, é mais fácil ainda”, diz Leite.
Por que o Ibovespa não bate o CDI?
A resposta para entender a dificuldade do principal índice da B3 não superar o CDI no longo prazo pode ser encontrada na composição da carteira teórica do Ibov. Cerca de 36% das ações listadas são de empresas ligadas a commodities, que possuem retornos voláteis por estarem suscetíveis aos ciclos econômicos. Se compararmos com o S&P 500, cerca de 40% da sua composição estão expostas a ações do setor de tecnologia que possuem empresas dominantes nos segmentos em que atuam.
“O Ibovespa, além do setor de commodities, tem como segundo maior peso o setor financeiro, que tem passado por uma disrupção pelas fintechs”, comenta Leite. A instabilidade política também impede que o Ibovespa consiga ter um desempenho maior em comparação ao CDI.
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Na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), realizada em junho, o colegiado decidiu interromper o ciclo de queda da Selic e manter a taxa básica de juros a 10,50% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado devido ao desequilíbrio das contas públicas que elevou o risco fiscal no Brasil.
Em abril, o governo decidiu alterar as metas fiscais para os anos de 2025 e 2026. Na época, a equipe econômica comunicou que a meta para as contas públicas para o próximo ano sairia de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0% no próximo ano. Já para 2026, o superávit de 1% do PIB foi reduzido para 0,25%. As alterações aconteceram a menos de um ano do novo arcabouço fiscal entrar em vigor. Desde a mudança, o mercado pressiona o governo por um maior comprometimento com as contas públicas.
A indefinição sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos, com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda resistente para dar início ao ciclo de quedas, também mina o ambiente doméstico. Esse combo resultou na saída dos investidores estrangeiros da bolsa brasileira em direção a outros mercados emergentes, como a Índia e México, e para os ativos de renda fixa dos Estados Unidos. Segundo dados mais recentes da B3, mais de R$ 37 bilhões foram resgatados pelos gringos no acumulado de 2024.
Como ganhar dinheiro na Bolsa?
Se o Ibovespa não consegue bater o CDI no longo prazo, a dúvida que fica para o investidor brasileiro é como ganhar dinheiro investindo em ações. O segredo, segundo João Piccioni, analista da Empiricus, está no acompanhamento das mudanças econômicas que surgem tanto no ambiente doméstico quanto no mercado internacional e identificar as companhias que podem se beneficiar com esse movimento.
“Ele precisa estar atento ao que está acontecendo no exterior em termos de inovação, quais são as empresas que estão desenvolvendo novas tecnologias ou serviços e o seu potencial de concorrência”, diz Piccioni. Atualmente, a bola da vez segue com as ações do setor de tecnologia que têm conseguido entregar retornos acima da média mesmo com o alto patamar dos juros nos Estados Unidos. Os papéis da Nvidia (NVDA) são as principais beneficiadas com o atual cenário.
No entanto, há papéis de companhias brasileiras que também são referência de inovação tecnológica. Embraer (EMBR3), Nubank (ROXO34), Banco Inter (INBR32) e Weg (WEGE3) são alguns exemplos citados pelo analistas que apresentam um desempenho contrário ao da bolsa de valores. Enquanto o Ibovespa amarga uma desvalorização de 5,6% em 2024, as ações da Embraer (EMBR3), por exemplo, esbanjam uma alta de 63,91% no acumulado do ano, sendo responsáveis pelo melhor desempenho do índice.
Os bancos, seguradoras, empresas do setor de energia, saneamento e telecomunicações também costumam ser as companhias mais recomendadas pelos analistas para quem busca segurança e rentabilidade na Bolsa de Valores. Além de estarem em setores perenes, são empresas que possuem o histórico de distribuição de dividendos.
Por que é importante acompanhar o portfólio
Não basta apenas investir nas ações e esperar que os retornos cheguem automaticamente na sua conta bancária. As alocações devem ser acompanhadas de perto pelos investidores para avaliar se a tese de investimentos daquela companhia ainda se confirma. Eduardo Rahal, analista chefe da levante inside corp., explica que não há uma regra fixa de quando deve ocorrer essa avaliação, mas reforça a importância de se estabelecer uma periodicidade para realizar os ajustes necessários no portfólio.
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"Uma alocação ótima gira em torno de 15-20 ativos para um portfólio, exigindo do investidor a disciplina de acompanhar os cases de investimento, a evolução das companhias e eventuais mudanças", afirma Rahal. Como o processo de análise das companhias exige tempo e conhecimento sobre Bolsa do investidor, recorrer a fundos de investimentos e carteiras recomendadas podem ser interessante, pois esses instrumentos possuem uma gestão de analistas que realizam todo o "trabalho de curadoria" das melhores ações para se investir.
"Na carteira recomendada, o cliente segue a alocação indicada de forma bem simples. O investidor pode acompanhar todos os cases dentro da carteira, estudar as teses e acompanhar as empresas investidas. Ele recebe ainda os dividendos das empresas diretamente na conta", ressalta Rahal.
Já sobre os fundos de investimentos, a desvantagem é que os gestores divulgam as suas posições com meses de atraso, o que impede o investidor saber exatamente quais são as empresas estão presentes no portfólio. Em contrapartida, a alocação costuma ser mais acessível.