O que este conteúdo fez por você?
- As incertezas sobre o início de corte de juros nos Estados Unidos e o risco fiscal no Brasil azedaram o humor dos inevstidores
- Com a deterioração do ambiente econômico, as corretoras avaliam como preço justo para o IBOV os 145 mil pontos. Atualmente, o índice permanece nos 121 mil pontos
- A situação obrigou as corretoras e bancos a revisarem as suas projeções para o dólar no fim de 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (19) manter a taxa Selic a 10,5% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado devido ao desequilíbrio das contas públicas que elevou o risco fiscal no Brasil. A indefinição sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos, com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda resistente para dar início ao ciclo de quedas, também minou o ambiente doméstico. Dado o novo cenário econômico, as corretoras foram obrigadas a ajustarem as suas estimativas do Ibovespa e o dólar para o fim de 2024.
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A maioria das mudanças iniciou em abril após a revisão das metas fiscais para os anos de 2025 e 2026. Na época, a equipe econômica comunicou que a meta para as contas públicas para o próximo ano sairia de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0% no próximo ano. Já para 2026, o superávit de 1% do PIB foi reduzido para 0,25%. As alterações aconteceram a menos de um ano do novo arcabouço fiscal entrar em vigor. Desde a mudança, o mercado pressiona o governo por um maior comprometimento com as contas públicas.
A tensão entre o governo e o poder executivo ganhou novos capítulos até a reunião desta quarta-feira (19). No dia 12, o presidente Luís Inácio Lula da Silva falou que está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia” em um evento para investidores. A declaração não agradou o mercado, que avaliou a postura do chefe do Planalto mais propenso a expandir os gastos públicos. A reação pressionou o dólar, que encerrou cotado a R$ 5,40, após uma alta de 0,83% naquele dia.
A cotação da moeda norte-americana só recuou quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre a possibilidade de o governo reduzir gastos, mas ainda permaneceu acima dos R$ 5,40. Já na véspera da reunião do Copom, nesta terça-feira (18) o presidente Lula voltou a criticar a postura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação à condução da política monetária no país. Em entrevista à rádio CBN, o chefe do Planalto afirmou que Roberto Campos Neto tem lado político e trabalha para prejudicar o Brasil.
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A saída dos investidores estrangeiros da bolsa de valores do Brasil em direção a outros mercados emergentes, como a Índia e México, e para os ativos de renda fixa dos Estados Unidos, também pressionou o câmbio e o desempenho do Ibovespa ao longo do primeiro semestre. Segundo os dados mais recentes da B3, mais de R$ 41,7 bilhões foram resgatados pelos gringos no acumulado de 2024.
Qual é a nova projeção para o dólar?
Dado o novo cenário, as chances de a moeda norte-americana encerrar o ano abaixo de R$ 5 ficaram ainda mais distantes. Agora, a maioria das corretoras e bancos estima um câmbio entre R$ 5 e R$ 5,30. As mudanças influenciaram na projeção do boletim Focus – pesquisa do Banco Central com os principais players do mercado – para o câmbio de 2024. A estimativa atual é de R$ 5,13, mas já foi de R$ 4,92 em janeiro e de R$ 5 no fim de abril.
“O risco fiscal está sendo mais precificado pelo mercado e consideramos que a dívida líquida do Brasil está bastante elevada. A perspectiva é de que ela continue subindo. Por isso, vemos que a depreciação do real veio para ficar”, afirma Cláudia Moreno, economista do C6 Bank.
Atualmente, o dólar segue cotado a R$ 5,40 em relação ao real.Nesta quarta-feira (19), por exemplo, a moeda americana teve leve alta de 0,14% e encerrou o dia a R$ 5,44. Ou seja, com base nas novas estimativas, a tendência é de que o câmbio recue nos próximos meses, mas não ao passo de sofrer uma forte desvalorização.
Esse movimento deve acontecer porque ainda há esperança de o Fed dar início ao ciclo de queda de juros em 2024. As expectativas dos investidores apontam para que essa decisão ocorra entre os próximos meses de novembro e dezembro.
Caso essa projeção se concretize, a tendência é de que haja um enfraquecimento da moeda até o fim de 2024. “A política monetária nos Estados Unidos tem sido até aqui o grande responsável pela forte desvalorização da moeda local frente ao dólar em função do enxugamento significativo da liquidez mundial que tem gerado”, diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
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Qual é a nova projeção do Ibovespa?
Os patamares de 160 mil a 170 mil pontos apontados no início do ano não fazem mais sentido para o atual cenário marcado por indefinições. Agora, o preço ideal para o Ibovespa está entre a faixa dos 135 mil e 150 mil pontos, conforme as novas projeções das corretoras. “Reduzimos o valor justo do Ibovespa devido às taxas de juros mais altas, mas continuamos vendo as ações brasileiras como atrativas”, informou a XP ao comunicar a revisão no dia 3 de junho.
Além do cenário macroeconômico desafiador, os ruídos relacionados à interferência política na gestão de algumas companhias também motivaram a mudança no patamar alvo do índice. O mercado foi surpreendido, por exemplo, com a decisão da Petrobras (PETR3; PETR4) em não distribuir os dividendos extraordinários da companhia durante o mês de março.
Os ruídos políticos envolvendo o papel da estatal não se resumiram a esse episódio. Em maio, uma nova surpresa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu Jean Paul Prates do comando da Petrobras. A saída já era ventilada desde o fim do ano passado e a causa da troca se deve à cobrança por maior velocidade na execução dos projetos anunciados pela empresa, segundo apurou o Broadcast.
Os eventos ajudaram o Ibovespa a acumular uma queda superior a 10% em 2024. Já em junho, as perdas chegam a 1,5%. “Quando olhamos para o novo ambiente, vemos que os indicadores são piores tanto na inflação no exterior quanto no ambiente doméstico. A volatilidade da Bolsa brasileira também aumentou”, afirma João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão.
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