Segundo Virgilio Lage, especialista da Valor investimentos, a queda de hoje no Ibovespa acontece em meio às correções do mercado após a Bolsa ter subido forte na sexta-feira. “O investidor estrangeiro também está receoso com a reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela, trazendo instabilidade para toda a América Latina”, diz Lage.
Já Matheus Nascimento, analista da Levante, comenta que o mercado hoje reflete um nível maior de IPCA visto no Focus, com as projeções de inflação subindo de 4,05% para 4,10% para o fim de 2024. Ele lembra também que o maior ponto de risco está relacionado ao ciclo de juros atual, onde o mercado aguarda a quarta-feira para entender o tom do comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
“As curvas de juros sobem, precificando algum nível de alta, considerando o prisma fiscal, além desta revisão da expectativa de inflação”, diz Nascimento. Vale lembrar que as ações do Magazine Luiza são suscetíveis a juros pelo fato de a empresa depender do ambiente macroeconômico.
Outro ponto é que a empresa da família Trajano vem enfrentando um momento difícil na Bolsa. Desde o fechamento do pregão do dia 15 de julho, os papéis da varejista acumulam uma queda de 17,02% até sexta-feira (26). O único dia de alta no período foi na própria sexta-feira, quando as ações da companhia encerram com ganhos de 2,5%, a R$ 11,89.
O que esperar do balanço do Magazine Luiza?
Analistas do Santander disseram em relatório enviado à imprensa na semana passada que a varejista deve lucrar R$ 19 milhões no balanço do segundo trimestre de 2024. O número deve significar uma reversão do prejuízo de R$ 199 milhões do segundo trimestre de 2023. A divulgação dos resultados do Magazine Luiza no segundo trimestre de 2024 está marcada para o dia 8 de agosto, depois do fechamento do mercado.
Os especialistas estimam que o Magalu no 2T24 deve manter a tendência positiva do primeiro trimestre de 2024 com um aumento da rentabilidade, medida pela margem bruta. O Santander diz acreditar que a rentabilidade da empresa de varejo deve crescer 1,7 ponto porcentual e ir dos 28,8% do segundo trimestre de 2023 para 30,5% do segundo trimestre de 2024.
Segundo os analistas do banco, a varejista deve reportar um Volume Bruto de Mercadorias (GMV, na sigla em inglês) de R$ 15,4 bilhões no segundo trimestre de 2024, alta de 4,6% ante o mesmo período do ano anterior. O banco também espera que a companhia do setor e-commerce reporte um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 669 milhões na base ajustada no segundo trimestre de 2024. O número representa um crescimento de 52,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
Dentro desse volume, os analistas calculam que a empresa da família Trajano deve registrar um crescimento de 10% das vendas das mesmas lojas na base anual. O indicador serve para medir o quanto uma loja existente a mais de um ano vendeu menos no período do ano anterior.
O que o investidor deve fazer com as ações do Magazine Luiza?
Embora o Santander projete uma continuidade na melhora do balanço do Magazine Luiza, os especialistas dizem que o investidor não deve comprar MGLU3 no momento. A recomendação do banco para as ações do Magalu é neutra, com preço-alvo de R$ 23, potencial alta de 93,4% na comparação com o fechamento de sexta-feira (26), quando a ação encerrou o pregão a R$ 11,89.
A recomendação neutra inclui alguns riscos que a ação do Magazine Luiza apresenta para o investidor. Conforme o Santander, o papel está suscetível a uma piora do cenário macroeconômico levando a um crescimento de vendas e recuperação de margem mais lentos do que o esperado, concentração das vendas da empresa em categorias de bens duráveis e a alta alavancagem e despesas financeiras limitando as oportunidades de investimento da companhia.
Já a equipe do BB Investimentos reconhece as dificuldades que a empresa possui com os juros em um patamar elevado. Isso porque a taxa básica de juros da economia, a Selic, está em 10,50% e o mercado estima que o Banco Central deve manter o indicador nesse mesmo nível até o fim de 2024.
No entanto, as especialistas reforçam que o Magalu conseguiu reverter sua situação ruim dos últimos anos. A companhia passou a ter uma margem de lucratividade maior e teve um lucro líquido de R$ 212,2 milhões entre outubro e dezembro de 2023, o que ajudou a reduzir o prejuízo do fim do ano. Em 2022, o Magazine Luiza reportou um prejuízo líquido de R$ 499 milhões. Em 2023, o prejuízo foi 96% maior, de R$ 979 milhões.
No primeiro trimestre de 2024, a empresa reportou outro lucro de R$ 27,9 milhões. Para as analistas do BB Investimentos, o destaque do trimestre foi o aumento da posição de caixa e, principalmente, a alta da rentabilidade da varejista. A margem Ebitda (proporção do lucro em relação à receita líquida da empresa, expressa em porcentagem) cresceu 2,5 pontos porcentuais na comparação anual, indo de 4,9% para 7,4%.
As analistas também apontam a alta de 2,6 pontos percentuais da margem bruta, que mede a rentabilidade da companhia, que foi de 27,3% no primeiro trimestre de 2023 para 29,9% em igual período de 2024, com outro ponto de virada da empresa da família Trajano. “Entendemos que a companhia tem apresentado bons números e uma estratégia consistente com foco no aumento de lucratividade e margens, não apenas de vendas”, dizem Georgia Jorge e Andréa Aznar, que assinam o relatório do BB Investimentos.
Por isso, as analistas estão otimistas com a ação e calculam um preço-alvo de R$ 36,80 para as ações do Magalu até o fim de 2024. A cifra equivale a uma potencial alta de 209,5% na comparação com o fechamento de sexta-feira (26), quando a ação encerrou o pregão a R$ 11,89.
Ou seja, cabe ao investidor decidir se prefere seguir as estimativas do BB Investimentos e comprar a ação ou se prefere ir conforme o Santander e não realizar nenhuma compra de Magazine Luiza (MGLU3) na carteira.