- Analistas do mercado financeiro viram os números do Bradesco como positivos, o que mostra que o banco está no caminho certo
- Único ponto de preocupação do balanço do Bradesco é a margem financeira total, que segue abaixo do guidance
- A maioria dos analistas ouvidos pela reportagem recomenda compra para as ações do Bradesco, somente uma casa está neutra
O Bradesco (BBDC4) divulgou nesta segunda-feira (5) um lucro líquido recorrente de R$ 4,7 bilhões no segundo trimestre de 2024, alta de 4,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Na visão do CEO do banco, Marcelo Noronha, a companhia cresce em linha com o mercado e sem colocar o investidor em risco. Durante coletiva de imprensa, o CEO do banco afirmou ter convicção de que a empresa deve entregar o lucro acima do projetado para o acumulado de 2024 (guidance).
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“Tenho convicção de que vamos entregar o lucro acima do guidance. Se eu for na linha mais arriscada, posso crescer, mas posso ter o custo de provisão mais acima. E nós perseguiremos cada número. Se eu for revisar uma linha, eu terei que revisar as outras também”, disse o CEO do banco. A companhia no entanto, não divulga projeção de lucro para o acumulado de 2024.
A fala de Noronha acontece após a companhia ter reportado uma margem financeira total de R$ 15,6 bilhões, queda de 5,9% na comparação com o segundo trimestre de 2023. No acumulado do primeiro semestre de 2024, a margem financeira total do banco ficou em R$ 30,7 bilhões, recuo de 7,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
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O recuo de 7,5% na margem deixa a instituição financeira atrás da meta estipulada pelo guidance (projeção feita pelo banco), que estima um crescimento de 3% a 7% da margem financeira total de 2024. Em meio a diversos questionamentos durante a coletiva sobre esse distanciamento da meta, o CEO do banco comentou que a empresa não capturou todo o crescimento no segundo trimestre de 2024. Segundo ele, esses avanços finais devem se refletir no terceiro trimestre.
“A expectativa é que a gente tenha números cada vez melhores (na margem bruta total). O ano contra ano o número é negativo, mas no trimestre contra trimestre o crescimento acontece. Nossa expectativa no terceiro trimestre é entregar um crescimento maior que no segundo trimestre”, aponta Noronha.
A companhia do setor financeiro reportou uma rentabilidade, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Médio (ROAE, na sigla em inglês), de 10,8% no segundo trimestre de 2024, alta de 0,6 ponto porcentual em relação ao primeiro trimestre de 2024 e queda de 0,1 ponto porcentual na comparação com o mesmo período do ano passado.
O Bradesco está com a rentabilidade menor que a dos pares. Itaú e Banco do Brasil encerraram o primeiro trimestre de 2024 com esse indicador acima da faixa dos 20%. Durante a coletiva, o próprio CEO do banco reconheceu que o número está abaixo dos concorrentes e que isso gera um desconto para a ação do banco.
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Em meio a essa estimativa, o E-Investidor questionou Noronha sobre quando o banco espera atingir esse maior patamar de rentabilidade. Segundo ele, a gestão espera que o patamar da faixa dos 20% do ROAE seja atingido “o quanto antes”, mas ele preferiu não dar uma data específica.
Para Noronha, o resultado mostrou que o plano de reestruturação da empresa está no caminho certo. Ele lembra que o banco fechou 411 agências no segundo trimestre de 2024 e que “naturalmente há mais espaço para reduzir mais”. Ele comenta que o Bradesco Expresso é uma boa forma de atender o cliente. O Bradesco Expresso funciona como uma pequena agência em comércios. Nessa modalidade, o cliente consegue fazer saques, empréstimo pessoal, abertura de conta, entre outros 15 serviços.
Metas sobre tecnologia do Bradesco estão dentro do esperado
Outra promessa do Bradesco para o seu plano de reestruturação é buscar uma melhora na tecnologia. Isso porque, o consenso do mercado é que a instituição financeira ficou para trás em relação aos pares nesse quesito. Em fevereiro, quando anunciou seu plano de reestruturação, Noronha estimou levar 75% das transações na nuvem até 2025. Na época, o banco estava com 45% de suas transações na nuvem.
Questionado pelo E-Investidor sobre em qual patamar o banco está nessa transição, Noronha preferiu não dar um número preciso, mas comentou que o caminho está seguindo o ritmo dentro do esperado, com o banco rumando para atingir a meta de 75% das transações na nuvem na meta. “No entanto, vale lembrar que estamos aplicando essa mudança não pelo fato de a nuvem custar menos. E sim, porque essa mudança torna o banco mais eficiente nas aplicações”, comenta o CEO.
No resultado, o Bradesco também apresentou uma queda de 1,6 ponto porcentual da inadimplência. O indicador foi de 5,9% no segundo trimestre de 2023 para 4,3% em junho de 2024. A inadimplência de 5,9% no segundo trimestre de 2023 considera o não pagamento de um cliente large corporate. Sem considerar esse cliente, o indicador teria encerrado aquele trimestre em 5,7%.
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A baixa na inadimplência também resultou em uma redução nas perdas. As Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) ficaram em R$ 7,2 bilhões no segundo trimestre de 2024, baixa de 29,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O dinheiro é reservado para cobrir os calotes dos clientes.
Na visão de Noronha, essa melhora da inadimplência, em combinado com a queda das provisões, mostra a estratégia do banco em conceder crédito para clientes com boas avaliações. Ele até comenta que isso pode gerar um spread (ganho de juros) um pouco menor, mas isso está de acordo com medidas adotadas por todo o mercado bancário. “Nas concessões de empréstimos, calibramos o preço em função do risco. Eventualmente, você pode ter os empréstimos (safras) perdendo um pouco mais de risco, mas dentro do que o mercado vem fazendo”, pontua.
O que o investidor deve fazer com as ações do Bradesco agora?
A reação do mercado é muito positiva. Por volta das 13h16min, as ações do Bradesco subiam 5,53%, a R$ 13,35. Para a XP Investimentos, o banco apresentou resultados positivos e acima do consenso do mercado. Os especialistas comentam ainda que, apesar dos níveis ainda deprimidos, eles estimam que o banco apresentou resultados consistentes apontando para uma trajetória positiva.
“Os indicadores de qualidade de crédito continuam a melhorar com a queda da inadimplência. O banco parece pronto para retomar o crescimento gradual com confiança. Apesar dessa recuperação, que pode ser o início de uma trajetória positiva, ainda vemos alguns desafios pela frente e mantemos nossa perspectiva cautelosa”, comentam Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, que assinam o relatório da corretora.
Para os analistas, embora ainda seja cedo, os dois primeiros trimestres sob a nova gestão já mostraram que o processo de transformação será extenso e demorado, com a expectativa de que o banco atinja um ROE acima do seu custo de capital próprio apenas em 2026. Por causa disso, a XP tem recomendação neutra para as ações do Bradesco com preço-alvo de R$ 16 para o fim de 2024, uma potencial alta de 26,5% na comparação com o fechamento de sexta-feira (2), quando a ação encerrou o pregão a R$ 12,65.
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Para a Ativa Investimentos, o resultado do Bradesco é bastante positivo. Os analistas comentam que o grande destaque está na demonstração da capacidade em voltar a crescer o top line enquanto consegue melhorar a qualidade da carteira de crédito. A corretora comenta que, com um volume dos spreads e concessões crescentes, o banco conseguiu evoluir sua margem financeira com clientes em 5,0% e também de reduzir a inadimplência.
“Vale ressaltar que o resultado do empresa do segmento financeiro não é só positivo no trimestre, é principalmente no qualitativo, nos parece um fim do movimento de risco da carteira enquanto a qualidade segue melhorando, dando maior confiança nos próximos resultados do banco”, aponta Pedro Serra, que assina o relatório da Ativa.
Por causa dessas premissas positivas, o analista recomenda compra para as ações com preço-alvo de R$ 17 para o fim de 2024, uma potencial alta de 34,4% na comparação com o fechamento de sexta-feira. Além da Ativa, o Safra também recomenda compra para o papel do banco de Osasco. Os analistas comentam que a ação está descontada ao ser avaliada em 0,84 vez o Preço da ação sobre o Valor Patrimonial da empresa. (P/VPA).
Os analistas do Safra comentam que a instituição financeira apresentou um lucro líquido 1,4% acima do consenso. A equipe do banco relata também que a margem financeira com o cliente foi outro destaque positivo, com o crescimento 5% na comparação entre o segundo trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2024.
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“O resultado foi muito positivo para as ações. A empresa apresentou receitas maiores, com forte desempenho no segmento de pequenas e médias empresas, que impulsionou margem financeira. A qualidade dos ativos veio melhor do que o esperado, confirmando nossa opinião de uma melhora nas tendências para o portfólio do Bradesco (BBDC4)”, dizem os analistas do Safra.