- Somente no primeiro semestre deste ano, as empresas listadas desembolsaram R$ 147 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP)
- O montante é bastante relevante e supera os R$ 144 bilhões distribuídos no primeiro semestre de 2022, ano em que houve um pagamento de dividendos recorde
- Para Rafael Schmidt, operador de renda variável da One Investimentos, uma das explicações para a soma expressiva neste ano está nos balanços financeiros das companhias, que vieram melhores do que o esperado no 1º trimestre e continuam surpreendendo no 2º tri. Veja cinco empresas para ganhar renda passiva na segunda metade do ano
Somente no primeiro semestre deste ano, as empresas listadas desembolsaram R$ 147 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP), segundo dados levantados por Einar Rivero, do Elos Ayta. O montante é bastante relevante e supera os R$ 144 bilhões distribuídos no primeiro semestre de 2022, ano em que houve um pagamento de dividendos recorde. Naquele exercício, as empresas repassaram R$ 387 bilhões em proventos, volume impulsionado pelo “superdividendo” da Petrobras (PETR3; PETR4).
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Vale lembrar que dividendos são parte do lucro das empresas dividido entre os acionistas. Os juros sobre capital próprio (JCP) também remuneram os investidores, mas esse mecanismo reduz o lucro tributável das companhias, resultando em um pagamento menor de impostos.
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Para Rafael Schmidt, operador de renda variável da One Investimentos, uma das explicações para a soma expressiva em dividendos e JCPs neste ano está nos balanços financeiros das companhias, que vieram melhores do que o esperado no primeiro trimestre e continuam surpreendendo no seguinte. Os últimos resultados devem sair nesta quinta-feira (15). “Essa temporada de resultados tem sido espetacular. No setor financeiro, Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC3; BBDC4), Santander (SANB11), BTG Pactual (BPAC11), XP (XPBR31), todos têm soltado resultados excelentes”, diz Schmidt. “Com empresas gerando mais caixa, e com mais caixa sobrando, você tem mais dividendos para distribuir.”
O raio X dos dividendos em 2024
O volume de dividendos e JCP pagos neste ano também parece estar menos concentrado em grandes players do que em 2022. Naquela época, 55,6% da distribuição do primeiro semestre foi feita por Petrobras e Vale (VALE3) – veja mais aqui e aqui. Já no primeiro semestre de 2024, até o momento, esse porcentual atrelado às duas gigantes foi de 45,38%.
Na visão de Laís Martins, sócia da Fundamenta Investimentos, outro movimento explica esse panorama. “Provavelmente há um efeito relevante de antecipação de dividendos por parte das companhias por conta da possível tributação de dividendos em estudo no governo”, diz Martins. De qualquer forma, para frente a expectativa é positiva em relação a dividend yield (DY, porcentual pago pelas empresas em dividendos em comparação ao valor da ação). “Há boas perspectivas no setor de bancos, por exemplo, e em empresas com boa geração de caixa”, afirma a especialista da Fundamenta Investimentos.
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A plataforma Meu Dividendo, especialista em antecipação de proventos, projeta que a distribuição de dividendos em 2024 poderá bater o recorde de 2022. "A partir da análise do pagamento de proventos nos últimos sete anos, constatamos que, estatisticamente, 54% do total de proventos é geralmente pago no segundo semestre, o que sugere que esse pode vir a ser o ano com maior distribuição de proventos já registrado na B3", afirma em nota a empresa de dados ao E-Investidor.
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Na segunda metade do ano, contudo, a distribuição de JCPs deve ganhar os holofotes. Isto porque, a partir de dezembro do ano passado, por determinação do Congresso Nacional, os juros sobre capital próprio só poderão ser distribuídos dentro do ano corrente. E neste primeiro semestre, o foco ficou com o pagamento de dividendos relacionados ao exercício de 2023.
Apesar de ser tentador ver o dinheiro "pingar na conta", Lis Grassi, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, aconselha os investidores a não se deixaram seduzir somente por elevados dividend yields. "Se o foco são os dividendos, devem investir em empresas mais estáveis, de setores perenes, cujos resultados não oscilam tanto de acordo com a economia do País", afirma Grassi.
Veja as melhores apostas para ganhar renda passiva no segundo semestre, segundo analistas da Ágora Investimentos, Nord Research, EWZ Capital, One Investimentos, Fundamenta Investimentos e Trígono Capital.
As melhores ações para ganhar dividendos no segundo semestre
Vale e Petrobras: as rainhas dos dividendos
A Vale e a Petrobras ainda figuram entre as principais recomendações quando o assunto são dividendos. Henrique Castiglione, CEO da EWZ Capital, aponta as duas empresas como as grandes campeãs dos proventos no segundo semestre e no acumulado do ano.
Segundo Castiglione, a Vale deve continuar a se beneficiar dos preços do minério de ferro e manter uma política de dividendos estável. “Com expectativa de continuidade na geração de caixa, a empresa é vista como uma das principais pagadoras de dividendos no setor de mineração”, diz o CEO. Já a Petrobras deve seguir se beneficiando dos preços do petróleo mais altos no exterior. “Com políticas de dividendos consistentes, a Petrobras deve continuar sendo uma das maiores distribuidoras de dividendos no segundo semestre”, afirma.
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A Ágora Investimentos mantém a mineradora na sua Carteira de Dividendos, com expectativa de um DY de 9,5% em 2024. A casa destaca que a empresa apresentou um desempenho financeiro sólido no ano, com lucro líquido R$ 22,9 bilhões no primeiro semestre do ano, acima dos R$ 14,4 bilhões do mesmo período do ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 20,2 bilhões no segundo trimestre e R$ 37,8 bilhões no acumulado do semestre.
“Destacamos que a empresa apresentou um desempenho sólido, com os volumes de produção de minério de ferro na Usina S11D atingindo um nível recorde pelo segundo trimestre consecutivo”, diz a Ágora, em relatório.
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A Nord também aposta na Vale como uma das campeãs de dividendos no segundo semestre de 2024, com DY projetado para 10% no acumulado do ano. “A política de proventos atual determina uma distribuição mínima de 30% do Ebitda ajustado menos investimento corrente. A depender dos resultados e fluxo de caixa, a Vale ainda pode distribuir dividendos extraordinários e elevar ainda mais seu rendimento”, diz a Nord, em relatório.
Itaú lidera em DY no setor de bancos
No setor de bancos, a grande referência são as ações ordinárias do Itaú (ITUB3; ITUB4). A Nord, assim como os especialistas da EWZ, da One e Fundamenta Investimentos, destacam a instituição financeira como uma das grandes pagadoras de dividendos do segundo semestre.
As falas do CEO do Itaú sobre o pagamento de dividendos extraordinários animaram os investidores. “O Itaú voltou a ser uma excelente opção quando o assunto é recebimento de dividendos. Apesar de já ter pago um ótimo provento no primeiro semestre de 2024, tudo leva a crer que o banco não se contentará apenas com os JCPs mensais”, diz a Nord, em relatório. Somente no primeiro semestre de 2024, o DY do banco ficou em 7,5%, de acordo com a casa.
Castiglione, da EWZ, também vê o ativo como atraente em relação a dividendos. “A empresa se beneficia de uma base de clientes ampla e de sua gestão eficiente”, diz. O preço-alvo dos papéis está em R$ 45. No segundo trimestre de 2024, o banco registrou lucro líquido de R$ 9,8 bilhões, 16% superior ao registrado no mesmo período do ano passado – confira nesta reportagem.
Telefônica Brasil pode pagar até 100% do lucro em dividendos
A Ágora Investimentos e a Nord Research apostam na Telefônica Brasil (VIVT3), dona da Vivo, para o recebimento de bons dividendos. A expectativa é de um DY superior a 7% em 2024. “A Vivo tem mostrado excelente desempenho no segmento móvel, capturando uma boa parte das adições líquidas e aumentando o receita média por usuário”, diz a Ágora, que possui recomendação de compra para VIVT3, com preço-alvo de R$ 59 – alta de 16% em relação ao patamar da última quinta-feira (15). “No primeiro trimestre de 2024, a Vivo registrou o maior crescimento de receita de serviços móveis entre os três principais players (Oi e Tim)”, afirma a casa.
Outro ponto que chama a atenção diz respeito à decisão da Vivo, no início deste ano, de manter o pagamento de dividendos próximo a 100% do lucro líquido anual até 2026. No primeiro semestre de 2024, o resultado foi de R$ 2,1 bilhão, alta de 8,2% em relação ao mesmo período do ano passado. “Apesar do dividend yield relativamente baixo no primeiro semestre (4,1%), a Telefônica Brasil tem tudo para entregar um excelente rendimento em 2024 e nos próximos anos”, aponta a Nord, em relatório. “A remuneração da empresa ainda contará com programas de recompra de ações", afirma – menos ações em circulação significa maior lucro por ação.
Cemig é aposta para renda passiva
As companhias elétricas não podem ficar de fora. A Cemig (CMIG4) é vista pela Ágora Investimentos como uma boa oportunidade, pois a estatal mineira opera tem sido muito bem administrada e com espaço para aumento dos dividendos distribuídos em 2024. A venda da participação de 45% na Aliança Energia por R$ 2,7 bilhões para a Vale deve gerar um rendimento de dividendos adicional de 3%. No total, o DY da empresa deve girar em torno de 10,5% no ano.
“Lembramos que pode haver uma segunda etapa de aumento de dividendos se a Cemig negociar com sucesso uma redução de sua provisão de plano de saúde no segundo semestre de 2024, o que implicaria um rendimento adicional de quase 2%, levando o total de 2024 para quase 13%”, diz a Ágora, em relatório. “Isso tornaria o DY da Cemig o mais alto de nossa cobertura.”
Martins, sócia da Fundamenta Investimentos, e Werner Roger, sócio e diretor de investimentos da Trígono Capital, também apontam a Cemig como uma das principais pagadoras de dividendos do segundo semestre. Vale lembrar que a empresa tem caixa previsível e anunciou, na última quarta-feira (14), R$ 1,42 bilhão em proventos extraordinários. A surpresa fez os papéis fecharem a sessão com a maior alta do Ibovespa, de 7,84%, para R$ 11,97.
O BTG Pactual (BPAC11) projeta que a Cemig pode distribuir até R$ 4,47 bilhões em dividendos em 2024, o que representa um dividend yield de 14%.