Os juros futuros fecharam a sessão em baixa moderada nesta segunda-feira (21), atribuída a uma correção técnica diante dos prêmios considerados esticados, que colocaram boa parte dos contratos longos perto dos 13% no fim da semana passada. O movimento se deu na contramão da pressão do dólar, dos retornos dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) e da deterioração das medianas na pesquisa Focus. Apesar dos níveis elevados terem atraído alguns ajustes, a preocupação com o quadro fiscal permanece como fator fundamental a limitar uma melhora consistente das taxas.
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A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 12,66%, de 12,72% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 12,92% para 12,83%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 12,88% (de 12,96%).
Com a agenda esvaziada e num dia sem novidades na seara fiscal, houve espaço para algum ajuste, mas nada que indique tendência para as próximas sessões, a não ser que finalmente haja algo concreto sobre a agenda da revisão de gastos. Mas os players não contam com isso no curto prazo, ao menos antes do segundo turno da eleição, dada a percepção de que o governo espera o desfecho para entrar em ação.
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O Broadcast apurou que a equipe econômica nesta semana vai se concentrar na construção jurídica das propostas a serem levadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O plano é deixar “tudo pronto” para o retorno do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participa entre terça e quinta-feira em Washington das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial. Na sexta, ele volta ao Brasil. A Fazenda quer aproveitar a janela política aberta entre o fim do pleito municipal e a eleição dos novos presidentes no Congresso para avançar na agenda de corte de gastos. Como o tempo no Parlamento é curto até o fim do ano, serão escolhidas propostas “viáveis” de serem aprovadas entre o fim de 2024 e o primeiro semestre de 2025.
Para o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, o recuo das taxas pode ser atribuído a fatores técnicos relacionados à gordura da curva, pois se fosse baseado no noticiário ou fundamentos, outros ativos também estariam melhorando. Mas a bolsa esteve em baixa e o dólar, em alta, chegando a até R$ 5,73 nas máximas da manhã – a moeda americana teve uma inversão de sinal nos minutos finais, para fechar em baixa de 0,15%, aos R$ 5,6904.
“Já tem muita precificação de alta da Selic na curva, acima de 13% no fim do ciclo. Como neste começo de semana não há nada relevante, o mercado aproveita para corrigir antes do desenrolar da agenda”, explica o estrategista. O destaque do calendário econômico é o IPCA-15 de outubro na quinta-feira.
A semana começou com revisões no cenário de inflação e Selic pelo Bradesco e a própria Focus mostrou piora nas estimativas. O banco elevou a previsão de IPCA 2024 de 4,4% para 4,5% e reduziu 2025 de 3,9% para 3,8%, enquanto a estimativa de Selic passou de 11,25% para 11,75% em 2024 e de 10,50% para 10,75% em 2025.
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No boletim Focus, a mediana do IPCA para 2024 chegou ao teto da meta de 4,50%, ante 4,39% na semana passada, e a de 2025 subiu de 3,96% para 3,99%. A projeção suavizada de 12 meses à frente foi de 3,96% para 4,01%.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citou, evento da 20-20 Investment Association, em São Paulo, as preocupações com a desancoragem das expectativas e de métricas como as inflações implícitas, reforçando que a autarquia vai perseguir a meta de inflação.
E disse que as medidas para equalizar as contas públicas são importantes para a política monetária, uma vez que a falta de confiança na política fiscal dificulta o processo de convergência. Para que possa haver juros mais baixos, afirmou, é preciso um choque fiscal positivo. “Isso é muito importante para nós, no BC, para sermos capazes de diminuir os juros de forma sustentável. Porque, no fim, nossa missão é atingir a meta de inflação, e é muito difícil fazer isso quando existe uma percepção de que o fiscal está desancorado”, afirmou.