- Com cerca de 25% das receitas atreladas aos EUA, investidor de WEG deve acompanhar a eleição de perto
- Candidatos têm propostas diferentes em relação à taxação de importações; veja qual pode prejudicar a WEG
- Analistas fazem estimativas para as ações da WEG; veja se Donald Trump ou Kamala Harris podem afetar a empresa
A votação para eleger o próximo presidente dos Estados Unidos termina nesta terça-feira (5) e com os dois principais candidatos, a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump em uma disputa voto a voto, segundo as últimas pesquisas eleitorais. Os impactos dessa eleição para os brasileiros em geral, portanto, ainda não estão evidentes, mas os investidores da WEG (WEGE3) precisam ficar atentos pois quem os americanos escolherem pode mexer com as ações da empresa.
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Em linhas gerais, Donald Trump prega o protecionismo e visa taxar cerca de 60% das importações da China e até 20% das importações vindas de outros países, como o caso do Brasil, para, segundo ele, proteger a maior economia do mundo. Diferente de Trump, a candidata democrata busca uma abordagem pró-livre mercado na relação comercial com outros países, o que, a princípio, pode favorecer empresas brasileiras com negócios em terras norte-americanas, caso da WEG.
Lucas Laghi, analista da XP Investimentos, lembra que os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 25% da receita da WEG, tanto via produção no próprio país quanto exportações do Brasil para lá, compreendendo produtos como motores industriais, equipamentos de automação, transformadores, entre outros. Desse modo, a eleição americana está relacionada a uma fatia relevante nas receitas da empresa.
O que a vitória de Kamala Harris significa para a WEG?
O analista da XP diz estimar que a WEG poderia ser uma das beneficiadas num cenário de eleição de Kamala Harris, dada a potencial aceleração em investimentos com viés ambiental, seguindo a agenda climática do atual presidente americano, Joe Biden. “Nesse sentido, a WEG planeja iniciar a produção e a venda de aerogeradores nos Estados Unidos nos próximos anos, além de já estar exposta ao forte mercado de transformadores no país, também impulsionado pelos investimentos em renovação de infraestrutura elétrica no contexto de transição energética, defendida por Harris”, diz Laghi. Thiago Tavares, analista Lumi, também concorda que a WEG tem a ganhar caso a candidata democrata vença a eleição por conta da agenda ambiental dela.
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Já Chrystian Matias, analista da Levante Inside Corp, diz que a vitória de Harris seria ligeiramente mais vantajosa para a companhia brasileira, pois garantiria a continuidade e, possivelmente, maior incentivo às energias renováveis nos EUA. Ele destaca que os polos de geração de energia solar e eólica estão situados longe dos principais centros consumidores americanos, exigindo investimentos substanciais em infraestrutura de transmissão para conectar as projetos de geração aos consumidores.
“Além disso, a rede elétrica dos EUA está envelhecida, o que também requer investimentos significativos em modernização. Esse panorama tem favorecido empresas como a WEG, que vem registrando forte crescimento em seu segmento de Geração, Transmissão e Distribuição (GTD) no exterior para atender a essa demanda”, argumenta Matias.
Bruno Benassi, analista de Ativos da Monte Bravo, também concorda que Kamala Harris seria positiva para a WEG por causa da questão ambiental. No entanto, ele coloca que a companhia hoje tem outras avenidas de crescimento que independem de quem será o presidente dos EUA. Com Harris ou Trump, a demanda por energia nos EUA deverá crescer, o que é positivo para o negócio de transformadores da WEG. “E é importante lembrar que as companhias não têm conseguido atender toda a demanda de transformadores, então existe uma demanda muito forte que deve continuar pelos próximos anos e tira um pouco o risco político, se ele existir”, explica Benassi.
O que acontece com a WEG se Trump vencer a eleição?
No caso de uma vitória de Trump, os analistas se dividem. Uma ala diz que a vitória do republicano deve deixar o investidor da WEG de cabelo em pé. Outra metade relata que, se ele ganhar, as chances de crescimento de receitas podem ser menores, mas nada que assuste e tire o sono do investidor.
Segundo Thiago Tavares, analista Lumi, em um cenário de vitória de Trump, há o risco de implementação de medidas protecionistas, incluindo eventuais tarifas sobre bens importados, o que poderia impactar as vendas da WEG nos EUA. “Essas decisões dependeriam das políticas comerciais de Trump, que em seu governo anterior favoreceu barreiras em setores estratégicos. As tarifas poderiam variar, mas normalmente as taxas de importação adicionais ficam na faixa de 10% a 25% para produtos industriais”, aponta.
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Ele lembra também que uma eventual taxação pode reduzir a competitividade dos produtos da WEG, pressionando margens e diminuindo possivelmente o volume de vendas. Com a alta dependência dos EUA para motores de baixa tensão e transformadores de energia, a WEG poderia enfrentar desafios em reter sua participação de mercado. Ainda assim, o especialista relata que a demanda consistente por energia nos EUA e o backlog (fila de produção) prolongado no setor de transformadores poderiam mitigar parcialmente esses efeitos.
Tavares reforça ainda que uma taxação aumentaria os custos para clientes americanos, diminuindo potencialmente as receitas e os lucros. Porém, devido ao posicionamento de longo prazo da WEG em fornecer produtos essenciais para infraestrutura energética, o impacto direto nas receitas e nos lucros depende da intensidade das novas taxas e da capacidade da companhia em repassar custos aos clientes. “Embora sem dados exatos, uma queda significativa poderia ocorrer caso a tarifa viesse acima de 15% e limitasse o repasse desses custos aos consumidores”, explica o analista.
O dólar na conta das eleições dos EUA
Lucas Laghi, da XP Investimentos, se mostra menos pessimista. Ele comenta que outros fatores precisariam ser considerados em uma possível eleição de Trump, como a depreciação cambial no contexto de um dólar potencialmente mais forte, que poderia parcialmente compensar uma piora das exportações do Brasil para lá caso Trump implemente medidas protecionistas (sendo ainda incerto e difícil estimar o impacto direto para a WEG).
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Em relação às questões ambientais, Chrystian Matias, da Levante, lembra que uma administração Trump daria prioridade ao licenciamento e à expansão de projetos de combustíveis fósseis, potencialmente enfraquecendo leis de conservação e políticas climáticas nos EUA. Ele lembra que isso poderia diminuir a competitividade de projetos renováveis e incentivar o ressurgimento de investimentos originários de fontes tradicionais de energia.
“No entanto, mesmo se Trump tentar alterar ou reverter aspectos da lei de investimentos em energias renováveis, qualquer mudança significativa exigiria aprovação do Congresso, o que pode ser um processo lento e difícil, especialmente se o Congresso estiver dividido. Portanto, os projetos iniciados sob os incentivos de energia limpa provavelmente continuarão a ser executados no curto prazo, independentemente de uma mudança de governo”, diz Matias.
Bruno Benassi, da Monte Bravo, diz que os produtos da WEG feitos no México podem sofrer drasticamente, o que seria amplamente negativo para a empresa, que anunciou um investimento de R$ 336 milhões no país latino nos próximos cinco anos. Por outro lado, o especialista lembra que os impactos da vitória de Trump sobre a WEG podem ser menores que o esperado. Isso porque, caso o republicano decida aplicar a taxação sobre a empresa, a WEG poderia colocar a Marathon, fábrica da companhia que está em fase de consolidação nos EUA, para operar em capacidade máxima.
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“Não acreditamos que a WEG será afetada pelas taxações de Trump, poderíamos ver uma redução em suas margens já que a operação da Marathon trabalha com margens menores que o consolidado da WEG. Porém, com plantas e capacidade ociosa, poderíamos ter um cenário de boom industrial que poderia fortalecer as marcas recém-adquiridas pela empresa brasileira nos EUA”, diz Benassi.
Vale a pena comprar a ação da WEG?
De modo geral, independentemente de quem ganhar a eleição, os analistas estão otimistas com a WEG e recomendam compra para a ação WEGE3. A XP Investimentos tem recomendação de compra para o papel da companhia com preço-alvo de R$ 54, uma baixa de 1,27% na comparação com o fechamento de sexta-feira (1º), quando a ação encerrou o pregão a R$ 54,70. A Levante mantém recomendação de compra para a WEGE3, com preço-alvo em R$ 62, o que indica um avanço de 13,34% na comparação com o fechamento da última sexta-feira.
A Monte Bravo também recomenda compra para a ação com preço-alvo de R$ 61,50, um crescimento de 12,4% na comparação com o fechamento de sexta-feira. O analista comenta que vê o papel como atrativo pelo fato de a WEG ter exposição direta ou indireta a tendências de forte crescimento do consumo de energia nos EUA e em outros países. Além disso, ele afirma que a companhia tem se consolidado no setor de motores industriais e de ciclo longo, que tem margens maiores.
De modo geral, os analistas dizem que a vitória de Kamala Harris seria melhor para a WEG (WEGE3), mas se Donald Trump levar as eleições, a companhia ter alternativas para mitigar o efeito da vitória do candidato republicano e, por isso, o investidor deve manter o papel na carteira e fazer novos aportes na empresa.