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Investimentos

Verde Asset encontrou a fórmula para superar a crise dos multimercados e bater o CDI?

Pela primeira vez desde 2016, a gestora ficou vendida em bolsa brasileira para se proteger do risco doméstico. Procurada, a Verde não comentou sobre o assunto

Verde Asset encontrou a fórmula para superar a crise dos multimercados e bater o CDI?
Luis Stuhlberger, responsável pelo fundo multimercado Verde Asset Menagement (Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO)
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  • Em novembro, o fundo Verde superou o CDI com uma rentabilidade mensal de 3,29% - o maior desde dezembro de 2023 - ao apostar na piora da bolsa e no aumento do dólar contra o real
  • A estratégia se mostrou assertiva. No mês passado, o Ibovespa encerrou com uma queda de 3,12, enquanto o dólar superou a cotação dos R$ 6
  • O bom desempenho não retira os desafios que a gestora comandada por Luís Stuhlberger terá de enfrentar no ambiente doméstico, tanto nesta reta final de 2024 quanto ao longo de 2025

As recentes mudanças na estratégia de investimento da Verde Asset, gestora com R$ 19 bilhões sob gestão, buscam deixar para trás os tempos difíceis dos multimercados e estancar a queda do patrimônio líquido dos seus produtos. Em novembro deste ano, o fundo Verde  – o principal produto da casa – reportou a maior rentabilidade mensal dos últimos 12 meses, com ganhos de 3,29%. Já o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) – principal benchmark do mercado – ficou limitado a um retorno de 0,79% no mesmo período.

O resultado positivo mostra que, apesar dos desafios para a classe de ativos, a gestora comandada por Luís Stuhlberger encontrou um caminho para lucrar em meio a deterioração do ambiente doméstico, pautada pelas incertezas ao redor das contas públicas. Em sua última carta mensal, a Verde fez duras críticas às propostas de cortes de gastos anunciadas pelo governo no fim de novembro e classificou o pacote como um “trem da alegria” mirando as eleições presidenciais de 2026.

A insatisfação se baseia, especialmente, no anúncio da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil junto com o ajuste fiscal. “A opção pelo populismo ficou patente na resolução que o governo deu ao pacote fiscal”, destacou a equipe econômica da Verde Asset em carta aos acionistas no último dia 11. Procurada pelo E-Investidor, a Verde não comentou o assunto.

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O descontentamento, porém, não é exclusiva da gestora. Outros agentes de mercado, como a Ágora Investimentos e o Goldman Saches, criticaram a posição do governo ao apresentar medidas com economias subestimadas e pouco direcionadas para solucionar o problema das contas públicas. Quando a proposta foi apresentada, o argumento do governo foi de que a isenção – uma promessa de campanha do presidente Lula – seria compensada pelo aumento do imposto para quem possui uma renda superior a R$ 50 mil por mês.

Apesar do contraponto, a Verde Asset se mantém cética quanto a essa probabilidade. “É assimétrica a probabilidade do Congresso aprovar o corte de até cinco mil reais (chance alta) versus a de aprovar toda uma nova metodologia de Imposto de Renda acompanhada de aumento para rendas mais altas (chance bem mais baixa)”, diz a gestora no documento.

O cenário reiteirou a necessidade de mudanças para proteger o portfólio contra o estresse dos mercados. O E-Investidor apurou que o fundo Verde ficou levemente “vendido” em bolsa brasileira pela primeira vez em oito anos por acreditar mais na queda das ações domésticas do que em uma possível recuperação. A decisão se mostra assertiva. Como mostramos nesta reportagem, o Ibovespa – principal índice da B3 – encerrou o mês com o pior novembro desde 2017, em queda de 3,12%. Já em dezembro, as perdas chegam a 3,56%.

A gestora também decidiu manter posição comprada em dólar contra o real. Enquanto a bolsa amargava perdas, o dólar foi na direção contrária e avançou 3,6% sobre o real, quebrando a barreira dos R$ 6 – o maior valor nominal já registrado na época em um fechamento. Já em dezembro, o câmbio à vista encerrou no pregão desta quinta-feira (12) cotado a R$ 6,12. Na renda fixa local, a Verde continuou comprada em inflação implícita longa desde agosto deste ano. Isso significa que a gestora avaliou que o mercado subestima o crescimento da inflação. A estratégia buscou proteger contra o ambiente hostil que se forma no mercado de renda variável brasileiro.

Já a posição global permanece estável desde outubro, assim como a alocação comprada em juro real nos Estados Unidos em virtude dos efeitos da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas. Para os próximos meses, o desafio de Stuhlberger é entender se as oportunidades amarradas em novembro chegaram ao fim. “Para continuar com essa performance é necessário entender se o câmbio e a perspectiva sobre os juros vão piorar ainda mais. Se a gestora continuar apostando nisso, é provável que mantenha ou dobre a sua aposta contra o Brasil”, avalia Ricardo José de Almeida, professor de finanças do Insper.

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Em dezembro, a ausência de propostas eficazes para solucionar o problema das contas públicas, na avaliação do mercado, fez o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), projetar a Selic a 14,25% no primeiro trimestre do próximo ano. Em reflexo ao mau humor dos investidores, os títulos do Tesouro Direto renovaram as máximas históricas nesta semana. Durante as negociações de quarta-feira (18), por exemplo, os títulos prefixados com vencimento para 2027 encerraram com prêmios de 15,33%. Já os títulos do Tesouro EDUCA+ com vencimento para 2026 ficaram com rendimentos de 7,78% mais a variação da inflação, uma janela rara.

A alta dos prêmios acompanha a disparada do dólar, que encerrou a quarta cotado a R$ 6,26 – o maior patamar desde o início do Plano Real, em 1994.  O desempenho do câmbio também acompanha o estresse do mercado como impasse sobre a tramitação do pacote fiscal na Câmara dos Deputados. A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norter-americano) em reduzir os juros americanos na quarta-feira (18) em 0,25 pontos-base também pesou sobre o câmbio.

Como mostramos nesta reportagem, a redução das taxas dos juros dos Estados Unidos costuma abrir espaço para o fluxo estrangeiro buscar melhores retornos em mercados emergentes, como o Brasil, e aliviar a pressão sobre o dólar. Por outro lado, com o risco fiscal no radar, o capital gringo pode não vir em direção ao mercado brasileiro.

O que esperar dos multimercados em 2025

Os dois últimos anos não foram fáceis para os fundos multimercados. Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, no acumulado deste ano, até novembro, os saques desses chegaram a R$ 324,2 bilhões, um salto superior a 141% em menos de um ano. A Verde Asset não saiu ilesa desse cenário. Segundo dados da ComDinheiro, plataforma de inteligência financeira, o fundo Verde perdeu R$ 263,6 milhões em um intervalo de um ano.

Os volumes refletem a insatisfação dos investidores com as dificuldades enfrentadas pelos fundos superaram o CDI. Para 2025, o ambiente não será diferente. Os membros do Copom decidiram ajustar a Selic em 1 ponto porcentual na última reunião do ano, realizada no dia 11 de dezembro. Com a elevação, a taxa básica de juros saiu de 11,25% para 12,25% e há espaço para novas duas altas da mesma magnitude nas próximas duas reuniões, caso o cenário esperado pelo colegiado se confirme.

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“A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação“, informou o comunicado. O tom mais duro do BC endossa a virada de chave da condução da política monetária no País. Em janeiro de 2024, a perspectiva era de continuidade do ciclo de queda da Selic. Em agosto, o mercado voltou a apostar em uma retomada das taxas de juros diante do desequilíbrio das contas públicas.

Na época, os principais bancos de investimentos e gestoras, como a Verde Asset, falavam em um ciclo de aperto monetário de curto prazo. Agora, nesta reta final de 2024, as projeções mostram que os juros podem alcançar o patamar dos 15% ao ano ainda no primeiro trimestre deste ano. O processo de transição do cenário econômico – e até inesperado há alguns meses – obriga os gestores de multimercados a ajustar as suas estratégias e a se adequarem ao novo contexto para conseguir sobreviver ao ambiente doméstico.

“O grande problema desse cenário é que os gestores vão precisar tomar risco (no próximo ano) para superar o CDI. E se a estratégia não for eficiente, o estrago na carteira será muito grande”, diz Victor Miziara, sócio da Performa Ideia. Apesar do período difícil com meses de altos e baixos, a rentabilidade do fundo Verde continuou acima do seu benchmark. Entre novembro de 2023 a novembro de 2024, o Verde FIC FIM registrou uma valorização de 13,33%, enquanto o CDI ficou em torno de 10,84%.

Ao olhar para intervalos de tempo maiores, a performance continua superior ao da taxa de referência. De acordo com a ComDinheiro, de 2019 a novembro de 2024, o fundo da Verde teve uma valorização de 52,71%, contra 50,43% do CDI. Já na série histórica, o fundo só perdeu para o CDI em apenas quatro anos desde 1997. Os números mostram que os períodos ruins fazem parte do modelo de negócio da classe de ativos, mas os resultados relevantes costumam surgir no médio e longo prazo. Até lá, os investidores precisam ter fôlego para enfrentar o momento ruim da indústria dos fundo multimercados que promete durar por mais tempo.

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