Definitivamente, o ano de 2024 não foi bom para o investidor de ações no Brasil. O Ibovespa acumulou queda de 10,36%, enquanto uma aplicação de renda fixa atrelada a 100% do CDI rendeu 10,82% no mesmo período.
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Se a comparação for feita com dólar ou o S&P500, o Ibovespa perde de goleada. A moeda norte americana aumentou cerca de 27%, e o principal índice da bolsa dos EUA subiu aproximadamente 25% no mesmo período. Já o S&P500 dolarizado (soma do ganho do índice com a variação do dólar – IVVB11) subiu 58%! Sorte de quem seguiu nossas recomendações para dolarizar o patrimônio.
A queda do desemprego de 7,6% (jan/24) para 6,1% (non/24) e o crescimento do PIB acima do esperado (provavelmente 3,5%) não foram suficientes para animar o mercado de ações, diante da piora das expectativas fiscais que contaminou o preço dos ativos no Brasil
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O aumento dos juros futuros e do dólar estiveram fortemente ligados à piora dos fundamentos fiscais, do lado quantitativo e qualitativo.
No acumulado em 12 meses, até outubro de 2024, o déficit primário e o nominal ficaram respectivamente em R$240 bilhões e R$1,027 trilhão, enquanto o nível de endividamento chegou a 78,6% do PIB no mesmo período. Esses números estão muito aquém do desejado. Para se ter uma ideia, para estabilizar a dívida pública seria necessário um superávit primário de pelo menos 2% do PIB.
Do ponto de vista qualitativo, todas as medidas do governo –do pacote fiscal ao o arcabouço fiscal – foram tímidas no corte de gastos. Resultado: a realidade se impôs, o dólar e os juros subiram, e a bolsa caiu.
Infelizmente, em nossa visão, o ajuste das contas públicas deverá ficar para o próximo governo. Com esse prognóstico, é possível que o dólar continue neste patamar e os juros também.
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A pressão no dólar e nos juros não virá apenas da falta de perspectiva fiscal, mas também da expectativa do mercado de que as políticas de Donald Trump trarão mais inflação para os EUA, como tarifas protecionistas, deportação de imigrantes ilegais (encarecimento da mão de obra) e medidas de desregulamentação dos negócios (maior aquecimento da economia).
Se, de fato, houver mais inflação nos EUA, os juros seguirão pressionados por lá, sustentando a cotação do dólar perante as demais moedas no mundo, o que também dificulta a queda dos juros por aqui, à medida que o carry trade – ganho no diferencial de taxa de juros – fica menos atrativo e mais arriscado para o investidor global.
Um fator que poderia trazer um pouco de otimismo para nós é o pacote de estímulo do governo chinês para tentar aquecer a economia do gigante asiático. Um maior aumento do PIB chinês significa maior crescimento para o Brasil, e entrada de dólares no País.
No entanto, a forte recuperação da economia chinesa está difícil de ocorrer. Por enquanto, a previsão de crescimento de 2025 para a China gira em torno de 4,5%, mesmo com todos os estímulos fiscais e monetários lançados pelo governo de Pequim recentemente.
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Mas vamos ao que interessa, o que fazer com os investimentos diante do cenário descrito ao longo deste texto?
Dólar
Muitos vão dizer que agora a moeda norte-americana está cara para comprar. Que vão esperar um pouco até cair. Ouvimos esta conversa quando estava R$5,00; R$5,20; R$5,50; R$5,70, e por aí vai. A verdade é que o dólar chegou a bater mais R$6,30, fazendo R$5,90 “ficar barato”.
Como é muito difícil prever para onde vai o dólar, as compras devem ser recorrentes. Devemos pensar em investimentos atrelados ao dólar, pensando no risco, e não apenas na rentabilidade.
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Outro ponto é que mesmo que o dólar caia, as altas das ações nos EUA podem mais do que compensar os investimentos em dólar.
Em resumo, o ideal é ter pelo menos 20% da carteira dolarizada, de preferência com o patrimônio fora do país
Renda fixa
Excelentes oportunidades em taxas prefixadas, pós fixados híbridos, (atrelados ao IPCA) e pós fixada flutuante (CDI e Selic). Para perfil conservador, títulos de baixa duration. Para mais rentabilidade títulos de média duration.
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Renda variável
Várias ações e fundos imobiliários ficaram muito baratos diante do atual cenário. Como a economia é cíclica, o momento é bom para aquisição. Mas tenha em vista que os ganhos com a valorização de preço poderão aparecer somente a partir de 2027.