A Cosan (CSAN3) confirmou nesta quinta-feira (16) que alienou 173.073.795 ações de emissão da Vale (VALE3), representativas de uma participação no capital social votante da companhia de aproximadamente 4,05%. Com isso, a empresa zerou a sua posição na mineradora. A informação, antecipada pelo Broadcast, foi confirmada em fato relevante. “A decisão da companhia se baseou exclusivamente no objetivo de otimizar sua estrutura de capital”, explicou a empresa em comunicado.
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A operação já era aguardada pelo mercado. Em setembro de 2024, a Bloomberg reportou que a Cosan havia comunicado a investidores que estava avaliando todas as opções para fortalecer seu balanço, incluindo a possível venda parcial ou total de sua participação na Vale.
A companhia já chegou a ter 4,9% do total de ações da mineradora. Em 2022, a holding destacou que o investimento na Vale representava mais um passo na jornada de diversificação de portfólio da companhia, apostando em ativos irreplicáveis nos setores em que o Brasil tem clara vantagem competitiva.
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Nesta quinta, as ações das duas companhias fecharam em alta, em dia de correção no Ibovespa. A Cosan subiu 0,58%, cotada a R$ 8,63, e a Vale teve ganho de 0,13%, a R$ 52,57.
Agora, mesmo após zerar a participação na Vale, Rubens Ometto Silveira de Melo, presidente do Conselho de Administração da Cosan, reforçou o apreço pelo ativo da mineradora. “Sempre acreditei no Brasil e por isso invisto aqui. A Vale é um ativo extraordinário e confio muito na nova gestão. Entretanto, o patamar atual da taxa de juros nos obriga a reduzir a alavancagem da Cosan. Na minha trajetória de empreendedor, fui ficando mais pragmático. Já passei por muito e aprendi que o foco deve ser na disciplina financeira para podermos continuar crescendo”, disse em nota.
Alívio no caixa e no endividamento: Cosan mira o futuro com venda da Vale
Para o Itaú BBA, a notícia foi positiva para o conglomerado, que controla empresas como a Raízen (RAIZ4) e a Rumo (RAIL3). “A venda da participação da Cosan na Vale é um passo crucial para melhorar a posição financeira da holding, reduzindo o endividamento e simplificando sua estrutura. A operação deve gerar um ingresso de caixa superior a R$ 9 bilhões”, destacou o banco, enfatizando também que a operação deve contribuir para uma redução na relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) – indicador que mede o grau de endividamento de uma empresa – em 0,4 vezes.
A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI também acreditam que a operação deve beneficiar a Cosan. As casas avaliam que a venda provavelmente será positiva para o valor presente líquido (VPL) da holding, pois deve ajudar a desalavancar a empresa. “Além disso, do ponto de vista qualitativo, também esperamos que o desinvestimento ajude a otimizar o foco da Cosan”, destacam os analistas Ricardo França, da Ágora, e Vicente Falanga, do BBI.
Enquanto a notícia é considerada positiva para a holding, não se pode dizer o mesmo para a Vale, na opinião de Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk. “A Cosan pretende usar o dinheiro da venda de ativos para reduzir suas dívidas e consequentemente sua alavancagem. Em tempos de juros altos, quitar débitos futuros e eliminar juros é sempre uma escolha sábia para manter a empresa saudável”, diz. “Para a Vale, mais um ‘gol contra’, menos uma empresa de peso investindo em suas ações”.
Impactos para Vale: menos um investidor de peso no radar
Sant’ Anna afirma que a notícia não deve fazer tanto preço no mercado. No pregão desta quinta-feira (16), as ações da Cosan sobem 1,52%, enquanto os papéis da Vale recuam 0,32%. “Caso esse movimento venha a desencadear a venda por outros players, aí sim voltaremos a analisar. A Vale tem problemas maiores para se preocupar, como a posse de Donald Trump na próxima segunda-feira (20), quando saberemos mais detalhes da política de governo dos Estados Unidos em relação à China“, afirma.
Já o Itaú BBA acredita que a decisão elimina uma pressão significativa sobre as ações CSAN3, sendo que a menor complexidade resultante poderá tornar a tese de investimento mais atrativa para investidores. “Reiteramos nossa recomendação de outperform (equivalente à compra) para a Cosan e consideramos a venda da participação na Vale como um marco importante na estratégia de desalavancagem da empresa, fortalecendo sua resiliência no atual cenário macroeconômico desafiador”, destaca o banco.
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Na visão do Goldman Sachs, a notícia pode ser bem recebida pelo investidores da Cosan, embora não deva ser uma surpresa completa, já que gestão da holding já havia reconhecido que a venda da participação da empresa na Vale poderia ser uma possibilidade para ajudar a reduzir seu nível atual de endividamento a patamares mais adequados. O banco mantém recomendação neutra para a CSAN3.
Em relação à Vale, o Goldman avalia que os investidores estavam se concentrando na possível venda da participação da Cosan como uma fonte de pressão sobre as ações. “Com o preço das ações da Vale caindo 35% nos últimos 12 meses e atingindo os menores níveis em 8 anos, a concretização da notícia de hoje pode reduzir essa pressão. Mantemos nossa recomendação de compra”, ressalta.