- A chegada de Arthur Lira à presidência da Casa criou expectativa de celeridade na votação de reformas, mas há também muita cautela sobre as prioridades da agenda federal
- Há um temor causado pela indefinição de como o auxílio emergencial será custeado pelo governo sem que as contas públicas fiquem ainda mais pressionadas
- Considerando os efeitos desse cenário nos investimentos, especialistas avaliam que, entre as pautas estratégicas para a melhora das condições econômicas do País, a de maior possibilidade de ser destravada é a PEC Emergencial
A chegada de Arthur Lira (Progressistas-AL) à presidência da Câmara dos Deputados trouxe fôlego às expectativas do mercado financeiro, que acompanha as discussões das pautas para a tão esperada retomada econômica causada pelos estragos da pandemia da covid-19. Apesar da vitória de Lira ter criado certa esperança de celeridade nos projetos relacionados ao controle fiscal, há também muita cautela sobre as prioridades da agenda federal diante dos últimos acontecimentos.
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A recente aprovação, na Câmara, do texto-base do projeto de autonomia do Banco Central (BC) não tirou a atenção do mercado às discussões acerca da renovação do auxílio emergencial. Há um temor causado pela indefinição de como o benefício será custeado pelo governo, sem que as contas públicas fiquem ainda mais pressionadas.
Governo e lideranças do Congresso negociam a concessão de mais uma etapa do auxílio emergencial, com valor de R$ 250, em quatro parcelas, gerando um custo total aproximado de R$ 30 bilhões. A nova rodada de pagamento iniciaria em março e terminaria em junho.
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“O começo das discussões não foi bom, porque se deu com gastos em vez de economias”, avalia o professor Michael Viriato, do Insper. “O mercado esperaria que as lideranças começassem propondo de onde vem o dinheiro e o que poderá ser dado”, defende.
Entre as prioridades da agenda em curso no legislativo e no executivo, especialistas ouvidos pelo E-Investidor elencam a PEC Emergencial, que poderá controlar os custos de despesas públicas, e as reformas tributária e administrativa. Estas, contudo, são discussões mais extensas, dada a complexidade para se chegar a um consenso entre os parlamentares.
“Se essas reformas forem aprovadas neste ano, ajuda muito a melhorar a percepção de risco no Brasil, o que acaba ajudando a derrubar os juros de longo prazo e cria um ambiente mais sustentável para a retomada econômica”, explica Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
Esses debates, contudo, têm alto potencial de conflitos, observa Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura. “São reformas bastante conflituosas com outros entes da federação, partidos políticos e setores diferentes da economia. O custo político para a execução dessas reformas é elevado, ainda que o mercado queira muito que elas sejam feitas. Por isso, a minha expectativa é de cautela”, diz Silveira.
O que o investidor deve observar
A pandemia provocou um aumento expressivo da dívida pública em 2020, seja pela queda das receitas ou pelo crescimento das despesas. Por isso, o mercado aguarda as ações do governo para ajustar a situação no longo prazo. Considerando os efeitos desse cenário nos investimentos, especialistas avaliam que, entre as pautas estratégicas para a melhora das condições econômicas do País, a de maior possibilidade de ser destravada é a PEC Emergencial.
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“Acreditamos que o Congresso vai aprová-la entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano”, estima França, da Ágora. “Essa PEC vai ajudar a permitir que a equipe econômica corte alguns gastos obrigatórios em até R$ 30 bilhões por ano, o que ajudaria a cumprir o limite do teto de gastos nos próximos anos”, acrescenta.
Apesar de cético, o economista-chefe da Nova Futura também avalia que a PEC Emergencial é a que teria mais potencial de ser destravada, com efeitos positivos para o dólar, os juros e a bolsa.
França ressalta que a aprovação da proposta tende a reduzir o risco-país, implicando uma queda dos juros de longo prazo, o que favorece ativos de risco, como os de renda variável na bolsa, no médio e longo prazo. Mas devido às incertezas geradas em debates dessa natureza a volatilidade deve ser grande no período.
Empresas do setor elétrico e concessionárias de rodovias e ferrovias tendem a se beneficiar porque são muito dependentes do comportamento de curva de juros, afirma o analista da Ágora.
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Como as macrorreformas tendem a enfrentar mais obstáculos, uma dica para o investidor é acompanhar os desdobramentos de outras medidas que podem ter mais capacidade de serem aprovadas. Exemplo disso são os marcos regulatórios, como a nova Lei do Gás e a Lei da Cabotagem. “Essas reformas, que são mais específicas, podem beneficiar alguns setores, como o de infraestrutura e logística”, cita França.