- Os novos capítulos de interferência de Jair Bolsonaro nas estatais brasileiras elevaram os ânimos no mercado financeiro nesta semana
- Após declarações polêmicas do presidente sobre as estatais de capital aberto na segunda (22), o dólar bateu a marca de R$ 5,50
- Diante desse cenário, analistas sugerem aos investidores uma solução para se blindar da instabilidade local: ter ativos dolarizados na carteira
(Guilherme Bianchini, especial para o E-Investidor) – Os novos capítulos de interferência de Jair Bolsonaro nas estatais brasileiras elevaram os ânimos no mercado financeiro nesta semana. Depois de anunciar a demissão do CEO da Petrobras, o presidente ameaçou ‘meter o dedo’ no setor de energia elétrica e os investidores reagiram: após as declarações, o dólar bateu a marca de R$ 5,50 na segunda-feira (22).
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No dia seguinte uma reviravolta. Bolsonaro entregou pessoalmente ao Congresso Nacional a medida provisória (MP) para a privatização da jóia da coroa, a Eletrobras, e a moeda norte-americana respondeu em queda de R$ 5,42 no fechamento do pregão seguinte, na quarta (24).
A flutuação do dólar, que ainda opera na casa de R$ 5,50, reflete o risco político doméstico, mas também repercute outros fatores, como a taxa de juros, a Selic, no menor nível da história, que desestimula o investimento estrangeiro no Brasil.
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Além disso, a preocupação fiscal, reforçada pela inflação, deprecia o real frente à moeda. No último boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda (22), os economistas ampliaram a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 de 3,62% para 3,82%.
“A tendência é o dólar seguir em trajetória de alta no médio e no longo prazos.Enquanto a inflação continuar mais alta do que a praticada nos Estados Unidos, o real vai se desvalorizar. Se o governo não fizer a parte dele, vai afugentar os investidores”, afirma Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities.
Como blindar-se da instabilidade nacional
Vulneráveis à instabilidade política, as ações negociadas na B3 também passaram por oscilações nos últimos dias. A principal afetada da semana foi a Petrobras, que cravou na segunda-feira (22) a sua segunda maior queda em valor de mercado desde o Plano Real, em 1994. As ações preferenciais (PETR4) derreteram 21,51%, cotadas a R$ 21,45, enquanto as ordinárias (PETR3) caíram 20,48%, a R$ 21,55. No mesmo dia, o Ibovespa cedeu 4,87%, maior desvalorização desde abril de 2020.
O tombo foi parcialmente revertido nos dias seguintes, mas o clima predominante ainda é de incerteza. Diante desse cenário, analistas sugerem aos investidores uma solução para se blindar da instabilidade local: ter ativos dolarizados na carteira. Vale lembrar que não é mais necessário abrir uma conta no exterior para aplicar. Desde setembro de 2020, o pequeno investidor passou a ter acesso a ETFs e BDRs em casas de investimento brasileiras. Até então, esse tipo de ativo era restrito aos investidores qualificados, com mais de R$ 1 milhão.
Os ETFs (exchange-traded funds) são fundos que acompanham índices de ações, principalmente nos Estados Unidos, como o S&P 500, composto por 500 ativos de bolsas americanas. Já os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) replicam ações individuais de companhias estrangeiras, como Google (GOGL34) e Amazon (AMZO34). Ao negociar ETFs e BDRs na B3, o investidor trabalha com valores mobiliários já convertidos para o real.
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“Não dá para ter 100% da carteira no Brasil. Hoje, recomenda-se para um perfil agressivo até 28% do portfólio em ativos internacionais, seja em BDRs ou em ETFs. É importante para se proteger de movimentos mais bruscos”, diz Paulo Cunha, sócio fundador da iHUB Investimentos. Ele explica que pode existir a sensação de pagar mais caro, devido ao dólar nas alturas, mas reforça que a prática é crucial para balancear a carteira.
Mário de Avelar, superintendente de produtos da Ágora, também defende a compra de ativos dolarizados para diversificar o portfólio. Em momentos de queda no Brasil e alta do dólar, a exposição cambial amortece o impacto das perdas nacionais. E mesmo em cenários positivos, uma eventual valorização do real frente ao dólar não costuma ser suficiente para conter os ganhos dos índices estrangeiros selecionados.
“Não olho para a taxa de câmbio quando compro um ativo desses. O que importa é o fundamento do ativo no exterior. Ao adicionar esse tipo de ativo na carteira, o risco cai muito”, explica Avelar.
Em que fundos investir
Para quem deseja investir em ativos estrangeiros, Mário de Avelar sugere duas opções:
1) Montar uma carteira diversificada de BDRs;
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2) Caso não tenha condições de escolher BDRs, é melhor investir em um índice inteiro.
O superintendente da Ágora elege o IVVB11, vinculado ao S&P 500, como alternativa ideal para investidores que sigam o caminho da segunda opção.
Em 28 de fevereiro de 2020, antes da explosão da pandemia de covid-19 no País, o ativo era cotado a R$ 141,56; na quinta-feira (25), encerrou o dia a R$ 229,20. A variação representa um salto de 61,9% em quase um ano.
Guilherme Zanin, da Avenue, recomenda uma diversificação de setores mesmo na opção por ETFs:
- QQQ, de tecnologia, atrelado ao Nasdaq 100 Index;
- IAU, de exposição ao ouro;
- XLE, de petróleo;
- VOO, também vinculado ao S&P 500.
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