- Em 2020, os brasileiros depositaram R$ 166,310 bilhões na caderneta de poupança, o maior valor líquido já registrado na série histórica, que teve início em 1995
- Em 2012, as regras da poupança foram alteradas. Atualmente, ela rende o equivalente a 70% da Selic, ou seja, 1,4% ao ano
- Na opinião dos especialistas, quase todos os outros investimentos são melhores do que a poupança. Mas não necessariamente são os mais práticos ou mais fáceis
A poupança, investimento favorito dos brasileiros, completou 160 anos na semana passada. Criada por meio do decreto nº 2.723 de 12 de janeiro de 1.861 e assinada por D. Pedro II, originalmente tinha como objetivo captar os recursos das classes mais pobres.
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Mas o investimento faz aniversário em baixa. Por conta da mínima histórica da taxa básica de juros, a Selic, a poupança vem perdendo para a inflação. Em 2020, enquanto a caderneta rendeu 1,99%, o IPCA, índice do IBGE que mensura a inflação oficial no Brasil, encerrou o ano em 4,52%. Na prática, significa que o dinheiro deixado na poupança no ano passado perdeu poder de compra.
De acordo com dados do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), em janeiro de 2021 o Brasil tinha mais de 22 mil contas poupança com saldo superior a R$ 1 milhão, um aumento de 28% se comparado com o mesmo período de 2020. Além disso, no ano passado, os brasileiros depositaram R$ 166,310 bilhões na caderneta de poupança, de acordo com informações do Banco Central. Este é o maior valor líquido captado já registrado na série histórica da caderneta, iniciada em 1995.
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Os dados mostram que a captação continua alta em um momento em que a poupança tem um baixo rendimento, o equivalente a 70% da Selic – que está em 2% ao ano. Ou seja, atualmente a poupança rende ainda menos: 1,4% ao ano.
Mas, afinal, por que será que os investidores brasileiros insistem em um investimento que perde para a inflação? Será que com a eventual subida Selic, ela volta a ser rentável? O E-Investidor conversou com especialistas para saber.
Por que tanta gente continua aplicando na poupança?
Um dos atrativos centrais da poupança é a facilidade de se aplicar o dinheiro. Para investir, basta acessar o aplicativo do banco. Segundo Leandro Benincá, educador financeiro da Messem Investimentos, o motivo de termos tantas pessoas na poupança é cultural. “Se você puxar na memória, vai se lembrar dos Poupançudos da Caixa, da poupança Bamerindus… Quem não sabe o jingle da poupança Bamerindus? Tempo passa, tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa”, recorda Benincá.
Outro aspecto importante sobre a poupança é que quando o cliente faz uma aplicação, está emprestando dinheiro para o banco e recebendo 1,4% de retorno. Contudo, o banco usa esse dinheiro de maneira muito mais lucrativa, fazendo empréstimos imobiliários.
“O número de pessoas na poupança é resumido com uma palavra: informação! Tanto do investidor, para buscar uma nova alternativa, como da parte geral das instituições financeiras e das corretoras em passar mais informações para os seus clientes. Sabemos que muitas pessoas não têm noção de outros investimentos, por isso ficam na poupança”, diz Carla Rachel Carvalho, gerente comercial da Ágora Investimentos.
Além disso, a poupança também conta com a regra do aniversário, que nada mais é do que a data em que sua aplicação rende. Cada depósito possui um aniversário: o mesmo dia em que o investimento foi realizado. Por exemplo, vamos supor que você tenha investido R$ 200 no dia 16 de março e mais R$ 100 no dia 20. A primeira aplicação terá rendimento somente no próximo dia 16, enquanto a segunda apenas no próximo dia 20.
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Para Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama Investimentos, a poupança tem essa facilidade e comodidade, mas não tem rentabilidade. “Pessoas de outra geração e com mais idade, que ainda são mais tradicionais, gostam dos bancos, pois não têm poupança nas plataformas digitais”, diz.
Um dos pontos mais destacados pelos investidores é a segurança e também a cobertura que este investimento tem do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC. Porém, essa proteção tem um limite: ela é limitada a R$ 250 mil por banco, com teto de R$ 1 milhão por CPF. Logo, posições superiores a R$ 1 milhão não estão cobertas pelo fundo. “Nestes casos, aquele argumento de que a poupança tem a proteção do FGC cai por terra”, diz Blanco.
E se a Selic subir?
Nesta terça-feira (16), o Copom começou a reunião que decide o futuro da taxa Selic. De um total de 54 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast na última semana, 52 esperam alta.
Para 48 delas, a elevação será de 0,50 ponto porcentual, para 2,50% ao ano, enquanto três instituições apostam em uma alta de 0,25 p.p., para 2,25% ao ano. Para o fim de 2021, as casas esperam uma Selic entre 3,00% e 6,00% ao ano.
De acordo com Benincá, mesmo com o aumento, não há como a poupança ganhar do Tesouro Selic. “Se a Selic for a 5%, o Tesouro Selic vai pagar 5% e a poupança 3,5%. Já se a Selic passar de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês. O Tesouro renderá 0,68% a.m.”, explica.
Na opinião dos especialistas, quase todos os outros investimentos são melhores do que a poupança. Mas não necessariamente são os mais práticos ou mais fáceis. “É preciso passar mais informações para os investidores. É um trabalho de formiguinha mostrar a eles que existem outras alternativas e que podem usufruir delas para aumentar seus ganhos”, diz Carvalho.
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