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- A renda fixa seguirá com baixa atratividade, mas continua como recomendação para carteiras conservadoras e para a reserva de emergência
- Em 2021, o Tesouro Selic também aparece entre as principais recomendações de analistas do mercado. Este é um título de dívida emitido pelo Governo Federal, que acompanha a taxa de juros
- Apesar do risco maior, a renda variável entrou com força nos portfólios dos brasileiros, que correram para a Bolsa à procura de retornos melhores. O movimento deve permanecer no próximo ano
Uma das lições que 2020 ensinou foi acrescentar risco nas carteiras para equilibrar melhor o retorno das aplicações. Em 2021, o cenário macroeconômico não deve trazer mudanças profundas, ao menos em relação à taxa de juros – na mínima histórica – e à inflação, que pegou o brasileiro de surpresa na reta final do ano passado com tendência de alta. Nesse contexto, os investimentos de renda fixa continuarão com pouca atratividade, apesar da sua importância para as reservas de emergência e carteiras conservadoras.
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O mercado financeiro previa que a inflação encerraria o ano em 4,39%, acima do centro da meta (4%), segundo o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), na última segunda-feira (28). Para 2021, a projeção para o IPCA – o índice oficial de preços – é de 3,34%, também abaixo do centro da meta (3,75%).
Com esse nível de inflação, o retorno dos investimentos que têm como referência a Selic fica negativo no curto prazo. Na última reunião de 2020, em 9 de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a taxa básica de juros em 2% ao ano, o menor patamar desde junho de 1996, quando iniciou a série histórica. Em 2021, os economistas elevaram suas projeções: a a mediana da Selic é projetada em 3,13%. Em 2022, a estimativa é de 4,5%; e em 2023, 6%.
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“Esse cenário não representa o fim da renda fixa. A tendência, no entanto, é de uma migração dos ativos mais simples, como a poupança e CDBs de grandes bancos, para renda variável e ativos de crédito mais sofisticados”, afirma Daniel Jannuzzi, economista da gestora de investimentos Magnetis.
O estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimentos, Rafael Bevilacqua, reforça que o ideal em uma conjuntura como esta é investir com diversidade, evitando deixar todos os ovos na mesma cesta – seja ela totalmente com ou sem risco.
“No curto prazo, temos uma inflação próxima a 4% e a Selic de 2%. Ou seja, juro real negativo. Nesse momento, CDBs, Tesouro Selic, Poupança estão todos muito próximos do CDI. Não há grande diferença entre eles”, diz Bevilacqua. “O importante é o investidor pensar em diversificar, tomando riscos em outros mercados.”
Investimentos além da poupança
A poupança costuma ser utilizada para a reserva de emergência. Em 2020, o estoque dos depósitos superou R$ 1 trilhão. O problema é que, uma vez descontada a inflação, o rendimento real da caderneta se tornou negativo.
Mas ter um “colchão” financeiro é estratégico para eventuais imprevistos, como a pandemia deixou como lição. Em geral, os especialistas recomendam juntar de seis a doze vezes o seu custo mensal e deixar o dinheiro rendendo em alguma aplicação segura e com liquidez diária, para que o resgate seja realizado a qualquer momento de necessidade.
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Para não perder poder de compra, o Tesouro Selic, título de dívida emitido pelo Governo Federal que acompanha a taxa Selic, se mantém entre as principais recomendações dos analistas. Na prática, como o investidor empresta dinheiro ao governo, o investimento é considerado seguro.
“Para quem precisa do dinheiro no curto prazo, não há saída. Antes, a taxa de juros era 15% e agora está em 2%. O ganho do investidor fica limitado”, diz Mario Avelar, superintendente de produtos da Ágora Investimentos.
Para tentar um retorno maior na reserva de emergência, que precisa de liquidez diária, Avelar lembra que é possível investir em títulos pré-fixados, desde que estes tenham no máximo o vencimento de um ano.
“O pré-fixado de curto prazo oscila pouco. Se a taxa de juros sobe muito e você precisar sacar o dinheiro em um momento que o mercado estressa, você pode eventualmente perder dinheiro, caso o vencimento do título seja longo. Se os títulos forem curtos, a chance de isso acontecer é muito menor”, explica Avelar.
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Outra opção são os Certificado de Depósito Bancário (CDB), emitidos por instituições financeiras. Neste caso, o investidor empresta seu dinheiro à instituição que emitiu o certificado, geralmente bancos.
“Em 2021, o CDB vai continuar como o principal ativo para o colchão de liquidez ou como alocação para a parcela conservadora da carteira, à frente do Tesouro Selic, que, por seguir a taxa de juros, acabou tendo rentabilidade negativa em alguns meses de 2020”, diz Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos.
Para quem não tem muita familiaridade com investimentos, é comum ver a poupança como um investimento mais seguro, decorrente de uma questão cultural no País. “Mas eles correm risco de crédito do banco onde eles deixam o dinheiro na poupança. O risco é muito parecido com o do CDB e ambos têm a garantia do FGC”, observa Komura. “Os fundos de renda fixa simples podem gerar uma rentabilidade um pouquinho acima do CDI, são boas opções.”
O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) assegura o patrimônio do investidor até o valor de R$ 250 mil em caso de falência do banco emissor.
Renda variável é opção para o longo prazo
Apesar do risco, a renda variável entrou com força nos portfólios dos brasileiros, que correram para a Bolsa em 2020 à procura de maiores ganhos. O movimento deve continuar. Neste caso, é preciso ter em mente se o perfil do investidor é condizente com o ativo. Lidar com as oscilações diárias pode não ser uma tarefa fácil para quem que não tem o emocional de ver as ações perdendo valor de um dia para o outro, como aconteceu no início da pandemia.
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Por isso, os fundos de investimento aparecem como uma opção interessante. Além da gestão de um profissional do mercado financeiro, o investidor evita se desgastar ao acompanhar o movimento diário de sobe e desce da bolsa de valores. Mas, como em toda aplicação, é preciso pensar se o produto está condizente com o perfil de risco.
“Quando falo de adicionar risco na carteira é com fundos multimercado, fundos de ações e produtos que compõem uma carteira de uma forma interessante para uma poupança de longo prazo”, diz Avelar.
A estratégia da renda variável para objetivos mais longos permite que os momentos de queda na bolsa sejam recuperados ao longo do tempo. “2020 é um caso clássico. Em maio e abril, a Bolsa estava me queda de 50% em relação ao fechamento de dezembro. Hoje, ela já está em pontuação maior do que fechou em 2019. O investidor de longo prazo pode aproveitar um momento como esse para ganhar mais dinheiro porque ele não vai se desesperar”, diz Avelar. Para isso, porém, é importante estar com uma carteira bem estruturada para passar pelos momentos difíceis e aguardar a recuperação.
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