Para juntar R$ 1 milhão com pouco dinheiro, o investidor não precisa de sorte nem genialidade financeira, mas disciplina e boas escolhas. (Imagem: Dmitry Lobanov em Adobe Stock)
O primeiro milhão é, para muitos, um símbolo de conquista. Um valor de alguém que “venceu na vida”. Algo que, segundo Priscilla Cacavallo, gerente de investimentos da Daycoval Investe, está presente no imaginário popular desde cedo, reforçado pela mídia e pelos prêmios de programas que alimentam essa fantasia. Na prática, juntar R$ 1 milhão, especialmente com pouco dinheiro para investir, exige paciência. “Metas financeiras devem respeitar a individualidade de cada pessoa”, diz.
Ainda que o valor de R$ 1 milhão já não tenha o mesmo poder de compra de décadas atrás, ele segue sendo um objetivo realista e, em muitos casos, suficiente para garantir tranquilidade, mesmo antes da aposentadoria.
Raphael Aversani, coordenador de Treinamento e Desenvolvimento da Blue3 Investimentos, lembra que, se bem alocado, esse patrimônio pode gerar uma renda considerável. “A 1% ao mês, ele renderia R$ 10 mil mensais. Isso atende à grande maioria das famílias brasileiras”, afirma.
Ele alerta, no entanto, sobre a perpetuidade do investimento. “Se a pessoa gasta todo o rendimento, ela não conseguirá garantir renda para sempre, por conta da inflação. O ideal é gastar menos e continuar reinvestindo o restante para manter o poder de compra”, diz.
O bom dessa jornada é que dá para chegar ao primeiro milhão mesmo com perfil conservador e com aportes que cabem na realidade financeira do brasileiro de classe média. O consultor de investimentos Harion Camargo mostra que não há necessidade de ousar demais para isso. Com uma carteira bem montada, mesmo os mais cautelosos podem atingir R$ 1 milhão em até 18 anos, investindo a partir de R$ 10 mil e mantendo aplicações mensais de R$ 1 mil.
“A constância pesa muito mais do que tentativas de buscar retornos extraordinários”, resume Camargo.
É claro que começar a investir com um aporte inicial mais robusto pode acelerar os primeiros resultados, pois o tempo potencializa o efeito dos juros compostos. Mas Fábio Guerra, sócio da Hurst Capital, reforça que o mais importante mesmo é manter a disciplina, principalmente ao investir com pouco dinheiro. “Mesmo que o investidor não tenha um capital relevante para começar, a regularidade nas contribuições mensais, dentro do que for possível, é o que de fato ajuda a construir patrimônio no longo prazo”, afirma.
Estratégias para quem começa a investir cedo ou tarde
E quanto mais cedo começar, melhor. “Quem inicia antes consegue ter mais anos de investimento e acumula patrimônio muito maior aos 60 anos em relação a quem começou com 45 anos, por exemplo, pensando em mesma rentabilidade e aportes”, exemplifica Aversani da Blue3.
Idade que começa
Valor mensal investido (R$)
Tempo estimado (anos)*
Patrimônio final (R$)
20 anos
500
30
1.000.000
30 anos
1.000
23
1.000.000
40 anos
2.200
16
1.000.000
50 anos
5.000
10
1.000.000
* Rentabilidade de 0,8% ao mês
Fonte: Priscilla Cacavallo, Daycoval Investe
Priscilla Cacavallo lembra que o investidor com um capital inicial maior dependerá menos das alocações constantes. Mas, mesmo com valores pequenos mensais, é possível chegar ao milhão antes daquele que fez só um aporte grande e parou. “O importante é manter a disciplina e entender que nunca é tarde, embora o tempo seja um fator crucial”, diz.
Valor inicial (R$)
Aportes mensais (R$)
Taxa bruta ano (%)
Taxa bruta mês (%)
Prazo aproximado (anos)
Valor final (R$)
50.000
0
10
0,74
34
1.000.000
1.000
1.000
10
0,74
24
1.000.000
Fonte: Priscilla Cacavallo, Daycoval Investe
Dentro da renda fixa, o investidor pode adotar estratégias que equilibram rentabilidade e liquidez, diz Aversano.
Uma delas consiste em escalonar os prazos de vencimento dos investimentos, aplicando parte do capital em ativos de curto prazo, como Certificados de Depósito Bancário (CDB) ou Letras de Crédito Imobiliário (LCI) com liquidez imediata, para manter uma reserva de emergência, e outra parte em papéis de prazos mais longos, com vencimentos de um, dois, três anos e assim por diante, que oferecem retornos maiores.
“Com essa estratégia, eu passo a ter sempre ativos vencendo ano a ano. Isso me permite melhorar a rentabilidade global da carteira, sem abrir mão de manter uma liquidez”, explica.
Como equilibrar risco e retorno até o primeiro milhão
Harion Camargo recomenda, porém, um pouco de pimenta na carteira. Ele lembra que a diversificação entre produtos de renda fixa, multimercados defensivos e fundos imobiliários (FII) com foco em geração de renda cria uma estrutura sólida que protege o capital e permite o acúmulo gradual de patrimônio.
“Construir o primeiro milhão não exige sorte nem genialidade financeira e, sim, tempo, constância e escolhas bem feitas”, diz.
No caminho para o milhão o investidor deve evitar os erros e o maior deles é tentar acelerar sem ter uma estratégia. “Tem quem aumente o risco buscando maior rentabilidade, mas sem ter estrutura. E acaba sobrealocando em ativos voláteis sem diversificação”, diz. Para Aversani, essa ambição exagerada pode se revelar uma armadilha. O segredo, segundo o especialista, está em construir uma carteira que combine ativos mais arrojados com proteções, equilibrando retorno e risco.
A plataforma de investimentos alternativos Hurst Capital criou a “Calculadora do Milhão”, que mostra quanto tempo o investidor levaria para alcançar o objetivo de R$ 1 milhão, com base em aportes mensais e capital inicial.
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Segundo os dados da Hurst, quem aplica R$ 10 mil iniciais e consegue investir R$ 2.500 por mês, atinge a marca em 10 anos se alocar em ativos reais com retorno médio de 21% ao ano — média registrada pela empresa entre 2019 e 2024. Se o mesmo valor for investido em produtos atrelados ao CDI (14% a.a.), o prazo sobe para 12 anos e 7 meses. Na Bolsa de Valores (9% a.a.), são 15 anos e 5 meses; na poupança (6% a.a.), o investidor só chega lá após 18 anos e 3 meses.
Fábio Guerra, sócio da Hurst, explica que os ativos alternativos têm alto potencial de retorno, mas também baixa liquidez. Por isso, recomenda alocar até 20% do portfólio nesses produtos. “É preciso saber que você não pode precisar desse dinheiro no curto prazo”, afirma. Entre os ativos oferecidos pela Hurst estão precatórios e outros ativos judiciais, além de operações de crédito privado.
O primeiro passo para o milhão é ter controle financeiro
Na visão de Priscilla Cacavallo, da Daycoval Investe, o primeiro passo para investir é simples: gastar menos do que ganha. Parece óbvio, mas ela lembra que muitos falham justamente por não manter controle dos gastos. Ela recomenda mapear as entradas e saídas, identificar despesas desnecessárias e começar a poupar de 20% a 30% da renda mensal.
“Mesmo que se comece com pouco, a regularidade nos aportes constrói disciplina e cria o capital inicial para investir.”
Por fim, o investidor precisa ter em mente que não existe fórmula mágica de como chegar ao R$ 1 milhão com pouco dinheiro. “A estratégia que funciona para um amigo pode não funcionar para você. Não acredite em promessas milagrosas. Busque sempre um profissional habilitado para te orientar nessa jornada”, diz a especialista.