Quem se abre para conhecer outros lugares fora desse eixo, não se arrepende, e nós te contamos porquê. Não, não estamos falando das cidades famosas da região da Andaluzia com suas influências árabes e templos históricos, como Sevilha, Córdoba e Granada. Estamos falando de Valência, a terceira maior cidade espanhola, que já virou um destino certo dos europeus, especialmente no verão, mas que ainda é pouco conhecida entre os turistas que vivem fora do velho continente.
Em 2024, apenas a Comunidade Valenciana (como se fosse um estado), região espanhola da qual Valência é a capital, recebeu cerca de 12 milhões de turistas estrangeiros, um milhão e meio a mais que o recorde registrado no ano anterior, segundo dados do Instituto Nacional de Estadística (INE).
Para você ter uma ideia da dimensão desse número, o Brasil inteiro recebeu em 2024 cerca de 6,8 milhões de turistas estrangeiros, segundo dados oficiais do Ministério do Turismo. Mas por que tem tanta gente indo à Valência? Listamos abaixo três motivos que te farão querer arrumar as malas agora mesmo e partir para lá. Confira:
Uma cidade histórica e moderna ao mesmo tempo
Fundada pelos romanos no ano 138 a.C., Valência até hoje preserva muito de seu passado, mas engana-se quem pensa que é uma cidade que parou no tempo. Pelo contrário, ela oferece um pacote completo: além de um centro histórico lindíssimo, também tem uma parte super moderna, praias e bairros boêmios. O bairro El Carmen é uma parada obrigatória na parte mais antiga de Valência, com ruas de pedra e estreitas — em algumas nem passam carros — que estão repletas de cafés, bares de tapas e restaurantes. É lá onde estão alguns dos pontos turísticos mais famosos da cidade, como o Mercado Central, que fica num edifício histórico de 1928 no estilo Art Nouveau valenciano.
Ele está bem em frente à Lonja de la Seda, um antigo armazém de comerciantes cujo edifício foi construído em estilo gótico e seu interior é repleto de colunas lindíssimas. Não deixe de observar os detalhes da construção pelo lado de fora, que muitas vezes acabam passando desapercebidos pela maioria dos turistas, mas olhando com atenção você encontrará formas bastante curiosas, como esculturas obscenas e ousadas, características do estilo gótico. Ainda na mesma região, vá até as Torres de Serranos e de Quart, símbolos remanescentes de quando Valência era uma cidade amuralhada para se proteger da invasão de inimigos nos anos 1400. A vista é mais bonita do alto das Torres de Serranos.
No caminho, não deixe de passar por duas praças importantes do centro histórico de Valência: a Plaza de la Virgen, onde tem uma fonte lindíssima e a Basílica da Virgem dos Desamparados, a santa padroeira da cidade; e a Plaza de la Reina, que foi reformada recentemente e é onde está a entrada para a Catedral de Valência com sua porta barroca de ferro. Nessa região tem um museu arqueológico interessantíssimo que pouca gente visita ou nota que ele existe, porque fica escondido atrás da Catedral: o museu La Almoina. Vale a pena visitá-lo para ver construções arqueológicas romanas dos tempos da fundação da cidade que foram encontradas há muito tempo e preservadas.
Se você for daquelas pessoas que gostam de entrar em igrejas, a Catedral de Valência geralmente atrai a maioria dos turistas por sua história e importância para a cidade, além de ela defender que guarda o verdadeiro Santo Graal, o cálice usado na Santa Ceia, embora outros lugares do mundo também reivindicam o mesmo feito. Se é verdade ou não, ele está lá para observação dos visitantes. Mas, na nossa opinião, vale mais a pena visitar uma outra igreja valenciana que fica mais escondida, ainda em El Carmen, e é menos popular: a Igreja de San Nicolás. Ela é conhecida por ser a Capela Sistina de Valência porque tem o teto cheio de pinturas históricas e diversos altares. É realmente linda!
Fechando a parte histórica da cidade, não pode faltar a Plaza del Ayuntamiento, a praça principal de Valência, onde fica o prédio da prefeitura e o famoso edifício dos correios. Ambos têm dias e horários para visitação. Se estiver com dificuldade para agendar (geralmente é concorrido), o Viagem Financeira tem duas dicas preciosas para você. Primeiro, procure pelo Five Guys (rede americana de fast food) que tem ali perto e vá até o segundo andar, onde estão janelas de vidro gigantes com vista para a praça — você vai conseguir uma boa foto e ainda fazer uma boquinha gostosa e barata. Mas se você quiser mesmo a melhor foto aérea da Plaza del Ayuntamiento, vá no pôr do sol ao Atenea Sky, um rooftop que fica no edifício emblemático Ateneo Mercantil. Comer ali é mais caro e precisa reservar antes, mas para acessar o bar é grátis e não precisa de reserva. Vale muito a pena.
O lado moderno de Valência, sem dúvida, fica na Cidade das Artes (Ciutat de les Arts i les Ciències). Lá está um complexo desenhado pelo valenciano Santiago Calatrava, mesmo arquiteto que projetou o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Se você ficou de queixo caído e impressionado pelo espelho d’água e a beleza da obra no RJ, espere até ver o que está em Valência. As estruturas são enormes e abrigam museus, restaurantes, um planetário, um jardim botânico e o maior aquário da Europa, o Oceanogràfic. Ah, e claro, muitos espelhos d’água altamente instagramáveis.
O berço da paella
Certamente você já ouviu falar desse prato típico espanhol alguma vez na vida: a paella. Você sabia que ela foi criada em Valência? Foi nos séculos XV e XVI, quando camponeses da região saiam para trabalhar e levavam alimentos como arroz, sal e óleo de oliva e, para cozinhar os ingredientes, usavam uma panela rasa e redonda, chamada por eles de paella, daí o nome pelo qual o prato ficou famoso. Na receita original, além do arroz e temperos, os camponeses usavam carne de coelho e frango, animais relativamente fáceis de serem caçados e carregados.
Com o tempo e a fama que o prato ganhou, outros lugares do mundo começaram a fazer a paella com diferentes tipos de carne, frutos do mar e até vegetariana. Mas não chamem isso de paella perto de um valenciano! Para eles, até hoje, a única paella que pode ser chamada assim é a tradicional, com carne de frango e coelho. Qualquer outro tipo de ingrediente adicionado transforma o prato em um arroz comum recheado.
Tradicionalmente, a paella é feita em uma porção grande, para ser compartilhada por várias pessoas. Nos restaurantes de Valência, é bem comum que só permitam o pedido de paella se for para pelo menos duas pessoas. Mas vou quebrar o seu ganho e dar uma dica de um bom restaurante que fica no bairro de Ruzafa e também serve as individuais. Se chama Masusa e tem diversas opções de arroz melado e paella, além de porções variadas — inclusive vale a pena pedir de entrada uma porção de batatas bravas, que são típicas de Valência e são uma delícia. A paella valenciana tradicional individual sai por 18 euros (cerca de R$ 120).
Já que você vai estar por Ruzafa, o bairro mais boêmio da cidade, depois de comer vale sentar em alguma “terraza” para tomar uma “Aigua de València”, um coquetel típico valenciano feito à base de cava (uma espécie de champanhe espanhol), suco de laranja, vodka e gin.
É acessível por avião, trem, carro ou navio
Chegar em Valência é muito fácil, principalmente se você já estiver em Madri, Barcelona ou qualquer outra grande cidade europeia. O aeroporto de Manises (VLC) recebe voos de várias partes da Europa e as maiores low costs da região operam nele, como Ryanair e Vueling. Dependendo da época do ano, é possível comprar uma passagem de ida e volta de Madri a Valência, por exemplo, por menos de 20 euros (cerca de R$ 130) — o trajeto leva menos de uma hora, como se fosse uma ponte aérea entre São Paulo e o Rio de Janeiro.
Além disso, o aeroporto está bem perto do centro de Valência (mais ou menos 15 quilômetros) e é conectado pelo metrô. É possível pegar a Linha 3 dentro do aeroporto e ir até a estação de Xàtiva, no centro da cidade, por 5,80 euros (cerca de R$ 40), em cerca de 40 minutos. A frequência do metrô é a cada 20 minutos, mas se você chegar num horário ruim ou não quiser carregar malas, um táxi ou Uber/Cabify até a região central da cidade não sairá mais do que 20 euros.
Apesar de receber voos diretos vindos de fora da Europa, como Estados Unidos, Marrocos e Canadá, o aeroporto de Valência ainda não recebe voos do Brasil. A opção aérea que costuma ser mais em conta saindo de São Paulo para Valência é a Royal AirMaroc, com conexão em Casablanca, no Marrocos, com preços em torno de R$ 4.500 ida e volta, dependendo da época do ano. Outras empresas como Azul, Ibéria e Latam fazem voos diretos para Madri e, dependendo do período da busca, é possível encontrar passagens em torno de R$ 5 mil a R$ 6 mil, segundo consulta ao site Skyscanner.
Independentemente da maneira que você pretende chegar em Valência, não se esqueça de contratar um seguro viagem antes de partir para suas férias. Saindo do Brasil, uma proteção de uma semana para a Europa vai custar em média R$ 400 e você estará protegido em caso de problema de saúde durante o passeio ou mesmo de cancelamentos, atrasos ou perda de bagagem pela companhia aérea. Boa viagem!