“Demanda enorme por biocombustível tem potencial para elevar preços da soja”, diz CFO da Boa Safra
Maior produtora de semente de soja do País conseguiu entregar crescimento de dois dígitos nas principais linhas do balanço do 2T25, mas prevê mais calotes e tem dado crédito aos clientes
Com o preço da soja em queda no Brasil nos últimos três anos, a expectativa de crescimento de área plantada do insumo no País é menor para a safra de 2025/2026, ficando em torno de 1,5%, ante o avanço médio de 3% ao ano desde 2023. Mas a crescente demanda por biocombustíveis pode ajudar a mudar isso.
Pelo menos esta é a expectativa do CFO da Boa Safra (SOJA3),
Felipe Marques, CFO da Boa Safra (SOJA3). Foto: Divulgação.
Em entrevista exclusiva ao Balanço em Foco, o executivo afirmou que os produtores vêm sofrendo com as menores margens nos últimos trimestres e, por isso, têm investido menos em novos terrenos para aumentar o plantio.
“Esse retrato de ter margens caindo ao longo dos três últimos anos impacta no crescimento de área plantada. Não é um impacto imediato porque o produtor prepara a terra às vezes até dois anos antes de plantar, ou seja, ele tomou uma decisão de investimento lá atrás, num cenário de margens maiores, e só agora essas terras são adicionadas ao sistema”, disse o executivo.
O produtor precisa ter melhores margens [preços maiores] para voltar a aumentar a área plantada. Oferta e demanda. Se o mercado quer mais oferta, dê preço, assim será respondido. Mesmo assim, reforço a resiliência do setor agro no Brasil. Mesmo num cenário de margens menores por três anos consecutivos, não estamos falando aqui em redução de área, mas, sim, em uma menor expansão de área.
De abril a junho deste ano, a Boa Safra, que é a maior produtora de sementes de soja do Brasil, entregou crescimento de 37% do lucro líquido na comparação com igual período de 2024, para R$ 24,8 milhões. A receita líquida subiu 42,9% na mesma base anual, chegando a R$ 125 milhões.
Enquanto isso, a geração operacional de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) alcançou R$ 19 milhões, alta de 10% sobre o segundo trimestre do ano passado. Em base ajustada, o avanço foi de 45,4%, para R$ 10,5 milhões.
“A gente acredita que tem uma nova demanda vindo. Essa nova demanda por soja e por milho está vindo muito pelo biocombustível. Tem uma demanda enorme no mercado no Brasil e no exterior. Essa demanda adicional tem uma potencial sustentação de preços. Por isso, nos próximos anos podemos ter novos incentivos para ter aumentos de áreas plantadas superiores ao que devemos ter este ano”, afirmou Marques.
Embora tenha entregado avanço de dois dígitos nas principais linhas do balanço, a Boa Safra elevou suas provisões para perdas esperadas, que passaram de R$ 784 mil no segundo trimestre de 2024 para R$ 14 milhões no período de abril a junho deste ano. “Nós tivemos que dar crédito aos nossos clientes para poder vender as nossas sementes e para que eles pudessem plantar, entendendo este cenário de custo de capital mais elevado com a Selic em 15% ao ano”, disse o CFO.
Não podemos comemorar inadimplência baixa porque o ideal era que ela fosse zero, mas, ainda assim, temos um nível de inadimplência bem menor do que os pares neste mercado.
Sazonalidade e dívidas
Marques ressaltou que o primeiro semestre tradicionalmente é mais fraco para a Boa Safra, uma vez que o reconhecimento da receita de venda das sementes de soja acontece somente quando elas são efetivamente entregues aos produtores, na segunda metade de cada ano.
Por isso, segundo ele, é importante também ter produção de outras culturas, como milho, sorgo, trigo, forrageiras e feijão, que têm diferentes timings de safra, para mitigar o período mais fraco para o mercado de soja.
O diretor financeiro da companhia destacou ainda que a baixa alavancagem da Boa Safra é um ponto positivo: no segundo trimestre, o indicador de dívida sobre Ebitda ajustado ficou em 1,2x.
Segundo ele, a empresa consegue acessar um capital mais barato que as linhas de crédito tradicionais dos grandes bancos, regidas pela Selic, a exemplo das operações recentes que fez de emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) no início de 2025 e do follow on (emissão de novas ações na Bolsa de Valores) em 2024.
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“Todo trabalho que a gente fez de governança na companhia, desde nosso IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) lá em 2021, ele nos credencia para acessar de forma diferenciada o mercado tanto de equities (participação acionária) quanto de dívida. Hoje a estrutura de capital da companhia está muito saudável. Do total da nossa dívida bruta, mais de 90% está no longo prazo”, avaliou o executivo.
Confira a entrevista na íntegra com o CFO Felipe Marques no vídeo ou clique aqui.