“Hoje é comum ver investidor com 15% da carteira em ouro”, diz CEO da Investo
Em entrevista exclusiva, Cauê Maçanares fala dos recordes do metal precioso, do futuro dos ETFs no Brasil e dos planos da gestora com R$ 4,5 bi sob gestão
Cauê Maçanares, CEO da Investo. Foto: Divulgação/Investo
O ouro tem brilhado na carteira de investidores em 2025. No ano, a commodity sobe 45%, em um cenário global marcado por disputas comerciais entre países, enquanto o dólar perde força entre as principais moedas globais, inclusive ante o real do Brasil. Antes restrita a poucos, o metal precioso se tornou mais acessível graças aos ETFs (fundos de índice), que popularizaram o investimento.
Para Cauê Maçanares, CEO da Investo, gestora com R$ 4,5 bilhões em porfólio, os ETFs representam a forma mais acessível de investir no metal, pois oferecem maior liquidez, permitem a compra de cotas com valores acessíveis e garantem exposição direta à variação do preço do ouro.
“Por outro lado, o investimento em barras físicas exige cuidados adicionais, como a custódia, além de envolver mais dificuldades na hora de vender e preocupações com segurança”, afirma Maçanares.
O setor segue aquecido. Recentemente, a B3lançou o Índice Futuro de Ouro B3 (IFGOLD B3), novo indicador que monitora o desempenho do contrato futuro de ouro e mede o retorno dos investimentos na commodity. Com o IFGOLD B3, a Bolsa de Valores espera que mais produtos associados ao metal, como ETFs, possam ser desenvolvidos.
Cauê Maçanares – O ouro vai muito bem como investimento em momentos de turbulência global. Isso não é um fenômeno só deste mês ou deste ano. Representa uma tendência que se desenha há muito tempo e aumenta a demanda pelo metal.
Além de ser um ativo de segurança para qualquer investidor, também temos visto diferentes bancos centrais pelo mundo comprando ouro como reserva.
O dólar, por outro lado, recua em relação às principais moedas globais neste ano. O movimento de queda da moeda americana beneficia o ouro?
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O dólarainda é uma moeda forte, vista como reserva por qualquer investidor, mas a recente desvalorização frente a outras divisas reforça a importância da diversificação.
Por décadas, o dólar foi visto como um ativo de segurança, sempre mais forte do que as outras moedas. Em 2025, porém, o cenário mudou: o governo Trump adotou uma política voltada à reindustrialização dos Estados Unidos e começou a tomar medidas que enfraquecem o próprio dólar.
Os investidores passaram, então, a buscar ativos capazes de protegê-los das incertezas políticas e o ouro, um dos principais instrumentos de proteção, voltou a ganhar espaço nas carteiras.
Como o ouro pode compor o portfólio do investidor?
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O ouro costuma operar de forma oposta às bolsas globais. Quando o metal sobe, as ações caem e vice-versa. Então, ele funciona como uma forma de diversificação para o investidor mesclar na carteira classes de ativos que se movimentam em direções diferentes.
Vale ter uma posição dosada em ouro, não adianta colocar 100% do portfólio no metal precioso. Penso que é interessante alocar entre 5% e 15% da carteira na commodity. Anos atrás, muitos tinham uma parcela muito pequena de seus investimentos em ouro, mas hoje não é incomum ver um investidor com 15% da carteira alocada no metal.
Após o GLDX11, a Investo planeja lançar novos ETFs ligados ao ouro ou a outros metais?
Não é algo para o qual estamos olhando no curto prazo. Acreditamos que o mercado sempre está evoluindo e criando formas inteligentes de se expor a alguma classe de ativos, então seguimos atentos às novas tendências. Mas não temos nenhuma previsão imediata de um ETF de metal.
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Em nossa visão, o investidor já está muito bem servido para a proteção do portfólio.
Como enxerga o mercado de ETFs hoje no Brasil?
Quando fundamos a gestora em 2020, existiam menos de 20 ETFs listados no Brasil, sendo que, muitos deles, acompanhavam o Ibovespa ou outros índices mais tradicionais. Atualmente, só a Investo já tem 27 ETFs no portfólio.
Mas o segmento ainda é muito pequeno diante do tamanho da indústria de fundos brasileira e só tende a crescer nos próximos anos. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa.
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No Brasil, é só uma questão de tempo para ganhar força também. Com um trabalho bem feito de educação financeira, vamos conseguir acelerar esse movimento, porque o ETF representa um produto muito eficiente e democrático. Não será do dia para noite, mas estamos vendo esse crescimento acelerar cada vez mais.
Na sua opinião, qual o principal desafio para a maior aceitação dos ETFs por brasileiros?
Os investidores locais ainda têm uma aversão a risco natural e preferem a renda fixa, dado o patamar elevado da Selic. Muitos associam a Bolsa à alta volatilidade e preferem não entrar para não colocar o portfólio em risco. Mas a informação está ficando cada vez mais disponível. O dado que antes demorava uma década para se propagar hoje se espalha mais rápido.
O investidor passou a ver a importância da diversificação entre classes de ativos e a olhar para os ETFs como uma opção eficiente, que não sofre com come-cotas ou IOF.