Esta é a segunda vez consecutiva que a Bradesco Asset ocupa o primeiro lugar entre os grandes nomes do mercado na pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), um feito nada simples
Alcançar a marca de melhor gestor no Guia FGV significa, entre outras métricas, ter os fundos de investimento mais bem avaliados considerando a relação entre retorno e risco nos últimos seis semestres.
Para Funchal, as duas últimas vitórias da Bradesco Asset sobre os concorrentes resultam de uma combinação de ‘sorte’ e competência. A instituição soube aproveitar a expansão da demanda dos investidores por produtos ligados a crédito privado, sem que os fundos da categoria fossem atingidos por grandes crises, como a da Americanas (AMER3), em 2023. Os fundos de crédito da asset também escaparam do colapso recente da Ambipar e não possuem exposição à títulos da empresa, apesar do banco Bradesco ser credor da companhia.
“Saímos de R$ 686 bilhões para R$ 1 trilhão nos últimos três anos (desde junho de 2022), um aumento de 45%, e a maior parte desse crescimento veio dos fundos de crédito. A demanda migrou dos ativos de risco e entrou muito forte em crédito de empresa”, afirmou Funchal, ao E-Investidor. “Apostamos nisso e fomos muito bem, devido aos nossos processos e governança.”
Há três anos, 26% dos ativos sob gestão da Bradesco Asset estavam em fundos de crédito, um montante que equivalia a R$ 178 bilhões. Atualmente, esse percentual subiu para 44% do total, cerca de R$ 445 bilhões.
Daqui para frente, entretanto, os fundos de crédito privado tendem a perder protagonismo, ao menos em termos de retornos oferecidos. O executivo já observa que os spreads, a diferença entre o que um título privado paga em relação aos papéis do Tesouro Direto, estão bastante pressionados. O desafio da indústria, agora, é fazer o investidor compreender esse novo cenário.
E-Investidor — A Bradesco Asset chegou a R$ 1 trilhão sob gestão no início de outubro, com uma captação de R$ 300 bi em três anos. O que impulsionou essa captação, em um momento delicado para a indústria?
Bruno Funchal — Tivemos um misto de sorte e competência. A indústria de fundos vem se sofisticando desde que o juro baixou muito, por volta de 2017 a 2020. Nesse período, os investidores procuravam investimentos para além do Tesouro Direto, se diversificaram e passaram a demandar produtos mais sofisticados.
Na primeira fase (juro baixo), as gestoras independentes se destacaram com fundos multimercados. Com o aumento dos juros devido ao surto inflacionário pós-pandemia, a lógica da renda fixa retornou. No entanto, houve uma transformação estrutural e o mercado de capitais se aprofundou muito no crédito. Pela nossa característica, crédito era o investimento mais óbvio e alinhado, já que tínhamos processos, equipe e governança muito bons. Pensamos, então, que nós precisávamos porque crédito seria protagonista, como está sendo até hoje.
Saímos de R$ 686 bilhões para R$ 1 trilhão nos últimos três anos (desde junho de 2022), um aumento de 45%, e a maior parte desse crescimento veio dos fundos de crédito. A demanda migrou dos ativos de risco e entrou muito forte em crédito de empresas, tanto é que as assets independentes, que eram basicamente fundos multimercados e ações, começaram a fazer crédito. Apostamos nisso e fomos muito bem, devido ao nosso processos e governança.
Além da marca de R$ 1 trilhão, a Bradesco Asset foi novamente eleita a melhor gestora de fundos do ano. Na sua visão, do ponto de vista de estratégia dos fundos, no que o Bradesco acertou mais que os pares?
Funchal — O ano de 2023 foi emblemático para o mercado de crédito porque, enquanto o setor enfrentava eventos de crédito, nós não fomos impactados por nenhum deles. Isso nos destacou, mostrou consistência nos resultados e impulsionou a captação. Passamos a diversificar dentro da classe, com créditos mais estruturados, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), high-yield, Fiagros, infraestrutura, entre outros. Já em 2024, tivemos nosso melhor ano em crescimento de patrimônio.
O que explica nosso avanço, e também a premiação da FGV, foi expandirmos em uma área na qual temos vocação e que estava em forte ascensão. O volume de emissões de crédito privado no Brasil se multiplicou por dez entre 2016 e 2024. Muito crédito saiu do balanço dos bancos e foi para o mercado de capitais, o que impulsionou essa classe e nos permitiu acompanhar esse movimento.
Olhando para frente e considerando a queda de juros projetada para 2026, vocês já começam a ver alguma mudança no comportamento do investidor, no sentido de sair dos fundos de crédito para outras classes?
Funchal — Ainda não vejo uma mudança, mas ela deveria ocorrer. Temos trabalhado essa comunicação dentro da asset e do banco. O crédito entregou muito nos últimos anos e mesmo agora, em 2025, quando esperávamos um desempenho menor. É natural o investidor querer permanecer nessa classe, mas os spreads estão bem comprimidos e o retorno deve ser menor agora do que vimos nos últimos três anos.
A classe deve continuar superando o CDI, mas com mais risco e menor prêmio. Nos fundos de debêntures incentivadas, já vemos emissões saindo até 30 pontos-base abaixo do Tesouro.
A queda dos juros abre espaço para fundos de maior risco. Já temos ações com desempenho 8% acima do Ibovespa, mas a captação ainda não reagiu. Depois de três anos difíceis para ações e multimercados, a virada leva tempo — embora a teoria econômica aponte que este é um momento propício para diversificar.
Podemos dizer que direcionar a captação para outros fundos, agora que o crédito deve performar pior, é o próximo grande desafio da Bradesco Asset?
Funchal — Nosso desafio é oferecer produtos competitivos em todas as classes. Talvez o maior ponto agora seja na distribuição do banco, comunicar com o cliente, mostrar essa lógica e explicar que o momento é de aumentar a diversificação. Não é sair do crédito, ele continua fazendo sentido e deve estar na carteira, mas diversificar um pouco mais. Hoje há uma concentração muito grande, não só no Bradesco, mas em toda a indústria.
O encolhimento do mercado acionário brasileiro, com várias empresas optando por sair da Bolsa ou recomprar ações, atrapalha esse trabalho de diminuir a concentração dos portfólios?
Funchal — Não preocupa, acho que abre mais espaço para ralis. A bolsa brasileira, comparada com o mundo, não é tão grande. Com a bolsa menor ainda, a chance de você ter mais ralis aumenta. Acabou sendo uma oportunidade para várias empresas fazerem recompra e fecharem capital porque ficou barato.
Contudo, acredito que essa tendência naturalmente vai se reverter. Depende muito do juro e estamos com juro alto há muito tempo. E isso acaba punindo demais as empresas. Não vemos IPO há muito tempo e não tem projeção (de voltar a ter).
Além disso, você tem o mercado privado crescendo. A tendência global é o desenvolvimento de produtos alternativos (private equity e private debt). Hoje, uma empresa capta mais fácil com seus recebíveis, com os FIDCs, por exemplo.