5 gestoras de fundos e um segredo: o que as melhores assets do Guia FGV 2025 têm em comum
O E-Investidor conversou com a Bradesco Asset, Itaú Asset, SulAmérica, Warren e MAG Investimentos, que estão no topo do tradicional ranking de fundos de investimentos
Mesmo esse longo primeiro parágrafo não faz jus aos desafios que os gestores precisaram ultrapassar nessa janela de três anos, analisada pelo Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) para montar o tradicional Guia FGV de Fundos de Investimentos, que em 2025 chega à sua 26ª edição.
O Guia FGV elege os melhores gestores de 2025 com base em uma análise criteriosa do desempenho dos fundos de renda fixa, money market (renda fixa e DI curto prazo), multimercados e ações ao longo dos últimos seis semestres.
Guia FGV Fundos 2025: como o ranking escolhe as campeãs
Não basta apresentar bons retornos, é preciso estar acima dos benchmarks(referências) em todo o período analisado, mas sem grandes solavancos para cima ou para baixo. Também é preciso considerar os níveis de risco corridos pelos fundos em comparação às rentabilidades auferidas. Depois, os produtos ganham de 1 a 5 estrelas.
No total são 268 gestoras avaliadas, mais de R$ 2 trilhões de patrimônio líquido, e aproximadamente 14,1 milhões de cotistas dispersos nos públicos de varejo, alta renda e atacado.
Partindo dessas considerações, três gestoras se destacaram na edição deste ano: Bradesco Asset, considerada melhor entre os “Grandes Gestores” pela segunda vez consecutiva; SulAmérica, a melhor entre as gestoras “Especialistas”, que possuem fundos bem-avaliados em duas ou três classes e estar acima da mediana em relação ao porte da casa; e a Warren, destaque entre as gestoras de “Nicho”, aquelas com fundos bem-avaliados em até duas classes.
Ficaram com a medalha de prata o Itaú, Sicredi e MAG Investimentos, nas categorias Grandes Gestores, Especialistas e de Nicho, respectivamente.
Entre todos esses nomes, há um ponto comum. Os fundos de crédito privado representaram uma fatia relevante dos veículos “premiados” com cinco estrelas pela FGV. A classe ganhou protagonismo absoluto no mercado a partir da escalada dos juros, com investidores aversos à renda variável, mas ainda à procura de alternativas que rendessem além do CDI.
O segredo dos campeões em 2025
A Bradesco Asset, que chegou a R$ 1 trilhão em ativos sob gestão no início de outubro, contabiliza que mais de 44% desse volume esteja concentrado em fundos de crédito privado, ou seja, cerca de R$ 445 bilhões. Em 2022, início do recorte da FGV, essa fatia era de R$ 178 bilhões.
A gestão mais conservadora desses fundos de crédito também teve papel importante na conquista do título de melhor gestora pela FGV – em 2023, em meio a crise financeira da Americanas (AMER3) e de falência de instituições financeiras, os fundos do Bradesco não foram afetados. Além da coroa de melhor entre as grandes assets, a gestora do Bradesco (BBDC3; BBDC4) teve o melhor desempenho entre fundos de renda fixa e money market.
“Isso destacou muito a gente”, diz Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset. “Trouxemos resultados consistentes e captamos muito.”
Foram justamente os eventos de crédito que acabaram afastando a Itaú Asset, 15 vezes campeã do ranking da FGV e 11 delas consecutivamente, de ocupar a primeira colocação nas últimas duas edições. A casa tem a maior mesa de crédito do País, de R$ 600 bilhões, mas os fundos da categoria acabaram tropeçando nas crises empresariais que afetaram a classe nos últimos, ainda que a gestora do Itaú tenha tido as melhores performances entre os fundos de ações e multimercados.
“Tivemos alguns solavancos em nossos fundos de crédito, principalmente na época da da crise de Americanas. E como é uma janela maior de três anos (do ranking da FGV), isso ainda acaba impactando um pouco. Mas os fundos já estão indo super bem, recuperamos a cota e tudo mais”, disse Fernando Cavallete, especialista de portfólio da Itaú Asset Management.
Crédito privado, disciplina e governança
A SulAmérica, melhor entre as gestoras especialistas, também credita à “disciplina na seleção e no monitoramento dos ativos” de crédito privado como um dos grandes fatores que levaram a casa ao topo do Guia FGV. “Atuamos no mundo de high grade, então operamos com os emissores de mais baixo risco”, aponta Daniela Gamboa, CIO de Crédito Privado e Imobiliário na SulAmérica Investimentos.
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Para a especialista, a principal lição aprendida nesses três anos, dentro no mercado de crédito privado, foi a importância de jogar luz na governança das empresas. A capacidade de antecipar problemas de crédito e afastar as carteiras desses ativos tem sido determinante para manter a confiança do investidor.
“Lá atrás vimos a crise da Americanas, agora estamos com outro caso, que é Ambipar (AMBP3). Não tem receita de bolo, mas um dos grandes aprendizados para nós foi essa questão de entender os interesses das pessoas por trás dos negócios.”
A Sicredi, segunda melhor gestora especialista, ainda vê um interesse grande por fundos de crédito entre os associados e uma necessidade crescente de cautela na gestão. “Prezamos por uma avaliação minuciosa e diligente das empresas e emissões, o que nos permitiu atravessar os eventos de crédito e os momentos de maior estresse vividos por esse mercado sem sobressaltos”, afirma Luiz Furlani, superintendente de gestão de recursos de terceiros da Sicredi Asset.
Já o Grupo Warren se destacou na premiação com fundos de perfis variados, ainda que as estratégias de renda fixa e crédito privado tenham sido os principais destaques. Três dos quatro fundos do grupo que conquistaram cinco estrelas pela FGV são geridos pela AWM, a gestora do grupo Warren, com especialização em diferentes frentes: crédito privado (AMW Ísis FI Financeiro), renda fixa conservadora (AMW Cash Clash) e investimentos internacionais (AMW Global FC FIA).
O quarto fundo, Warren FO Tático RF1, gerido diretamente pela Warren Brasil Gestão, gestora de Wealth do grupo, que também tem na sua composição crédito privado e é utilizado em carteiras administradas.
A MAG Investimentos, segundo lugar entre as gestoras de nicho, teve também o principal destaque na renda fixa. O segredo para brilhar na classe, segundo a MAG, foi ser mais cautelosa em meio ao cenário turbulento dos últimos anos.
“A gente foi bastante conservador no momento em que o Banco Central parou de cortar a Selic. Tivemos posições bastante conservadoras, inclusive tomadas em taxas de juros, e isso nos diferenciou da indústria’, diz.
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Olhando para frente, o consenso é de que a queda de juros esperada para o ano que vem pode trazer novas oportunidades fora do crédito privado, estrela dos últimos três anos. Isso não significa que a classe deva performar mal, mas é preciso ser mais seletivo a partir de agora.
“Os retornos do crédito privado já estão amassados há algum tempo. O que temos tentado fazer é ter uma posição de caixa mais segura para aproveitar possíveis oportunidades de mercado e manter uma carteira mais posicionada em ativos de segmentos que tenham receita recorrente”, diz Juliana Tomaz, gestora de crédito da AMWWarren.
Do varejo para o atacado
Quando o mestre em administração William Eid assumiu o Guia FGV de Fundos de Investimentos, há 26 anos, o mercado financeiro brasileiro era um bicho muito diferente. Havia cerca de 300 gestoras, relembra ele, e encontrar fundos de investimento com mais de R$ 5 milhões de patrimônio líquido para compor o ranking não era uma tarefa tão trivial quanto hoje.
Passadas mais de duas décadas, esse universo expandiu para 1 mil gestoras, que disputam ferrenhamente o capital de quase 60 milhões de investidores, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
De acordo com Eid, que testemunhou em números as várias transformações nesse mercado, um movimento chamou bastante a atenção: a virada dos holofotes do varejo, formado por pessoas físicas, para o atacado, onde estão geralmente os investidores institucionais.
“Há anos atrás tínhamos a indústria de fundos era mais direcionado ao varejo, hoje não é mais isso. Devemos estar com uma pequena fatia no varejo”, afirma Eid. “As assets deram prioridade ao volume, mas perderam em receitas, uma vez que o atacado paga muito menos (em taxas).”
O Guia FGV de Fundos de Investimento premia, além das melhores gestoras do ano e as melhores por categoria de fundo, as assets que se destacam por canais de distribuição – varejo, alta renda e atacado. No varejo, as campeãs foram Itaú (ITUB3; ITUB4), Western e Anga Asset. Em alta renda, J Safra, Verde Asset e MAG Investimentos. Já no atacado, destacaram-se Bradesco, Sicredi e Guepardo.