A retirada de R$ 1,226 bilhão de capital estrangeiro da Bolsa brasileira em outubro representou a segunda maior saída de 2025, ano em que apenas três meses tiveram saldo negativo. Nos primeiros dez meses do ano, o fluxo de capital externo está positivo em R$ 25,286 bilhões.
O primeiro foi abril, quando R$ 133,632 milhões deixaram a B3 na esteira do anúncio do tarifaço global do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conhecido como Liberation Day. O outro ocorreu em julho, quando R$ 6,371 bilhões saíram do mercado local, a maior retirada do ano, em razão do aumento da tarifa americana sobre produtos brasileiros, que chegou a 50%.
O diretor de Renda Variável para a América Latina do Goldman Sachs, Juliano Arruda, avalia que a queda do Ibovespa em outubro ocorreu principalmente por causa da alta do dólar, dado o avanço de 1,97% do índice DXY no mês.
“O Brasil tem uma alavancagem para o dólar fraco que é mais ou menos o dobro do beta do mercado emergente médio. Para cada 1 % de queda do índice DXY, a Bolsa em dólar tende a subir 2 %, enquanto as de mercados emergentes, em média, sobem 0,6% ou 0,7%. O Brasil historicamente é mais alavancado, então obviamente o oposto é verdadeiro. Quando o dólar sobe, o País tende a sofrer mais”, explicou Arruda à Broadcast.
Mas, apesar da saída líquida de capital externo em outubro, o fluxo começou a retornar à B3 por volta da metade do mês. O dia 13 de outubro foi o primeiro a registrar saldo positivo, de R$ 106,173 milhões. A partir dessa data, na maioria das sessões o resultado permaneceu positivo, mas ainda insuficiente para compensar as perdas da primeira quinzena.
Essa melhora no fluxo estrangeiro reforçou o cenário altista do principal índice da B3 e foi determinante para os recordes históricos do Ibovespa nesta semana.
O head de renda variável do ASA, Marcelo Nantes, afirma que as perspectivas seguem favoráveis, pois o investidor internacional quer reduzir a exposição aos Estados Unidos diante da incerteza que o governo Trump gera para o comércio global e para a economia.
A esse otimismo soma-se a expectativa de algum sinal do Banco Central (BC), na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, de que o ciclo de afrouxamento monetário pode começar no início de 2026.
O estrangeiro, portanto, começa a se posicionar para o corte da Selic e também se interessa por empresas que divulgam bons resultados nesta temporada de balanços do terceiro trimestre de 2025.
Publicidade
Nas contas de Arruda, do Goldman, quando o País iniciar um ciclo de redução dos juros, a renda variável pode ficar ainda mais atrativa, com potencial de alta de 12% em três meses e de 25% em seis.
Investidores institucionais na B3
Entre os investidores institucionais, outubro foi o primeiro mês de 2025 a apresentar resultado positivo, com saldo de R$ 285,306 milhões. Ao longo do ano, a categoria registrou retirada de capital da B3.
O movimento acompanhou o ciclo de alta da Selic ao longo de 2025. Agora, em outubro, o mercado começa a precificar o possível corte da taxa, o que deve atrair novamente a categoria para a renda variável.
No mercado, não há consenso sobre o início da queda da Selic. Segundo estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, entre as 60 casas que projetam redução dos juros a partir de 2026, 29 preveem o começo do afrouxamento monetário em janeiro, 27 em março, duas em abril e uma em junho. A mediana para a taxa ao fim do próximo ano é de 12%.