Bitcoin é a maior criptomoeda em valor de mercado (Foto: Adobe Stock)
A realidade do bitcointem sido bem diferente das projeções feitas por analistas no início de 2025. Em janeiro, quando o presidente Donald Trump estava prestes a assumir à presidência nos Estados Unidos, acreditava-se que o ativo digital poderia alcançar a meta dos US$ 150 mil até dezembro. A expectativa se sustentava em dois pilares: ambiente regulatório mais favorável à indústria cripto e queda dos juros nos Estados Unidos. Alguns desses eventos até se concretizaram, mas não foram suficientes para sustentar o apetite a risco dos investidores nesta reta final do ano.
Em novembro, o bitcoin já registra a maior queda mensal desde junho de 2022 ao acumular uma desvalorização de 19% até as negociações de terça-feira (25), segundo dados da Elos Ayta Consultoria. A retração representa umaperda de capitalização de US$ 470 bilhões em valor de mercado. O movimento reflete a crescente imprevisibilidade em torno da política monetária nos Estados Unidos, que tem deixado o mercado sensível a qualquer leitura sobre o ambiente econômico.
A incerteza surgiu com as declarações de Jerome Powell, presidente Federal Reserve (Fed, Banco Central americano), sobre os próximos passos do ciclo de juros nos EUA. No fim de outubro, Powell disse à jornalistas que uma pausa nos cortes estaria na mesa de negociações no encontro previsto para dezembro. A postura cautelosa frustou as expectativas dos investidores que esperavam uma continuidade desta política.
Os dados de empregos dos EUA que costumam orientar as decisões do BC americano também reforçaram essa narrativa. No dia 20 de novembro, o Departamento do Trabalho nos Estados Unidos informou que a maior economia criou 119 mil empregos em setembro, em termos líquidos. Os números superaram as estimativas mais otimistas de Wall Street.
Dado a construção desse cenário mais pessimista, os investidores de longo prazo aproveitaram a recente máxima histórica do bitcoin, que atingiu a marca dos US$ 126 mil em outubro – para reduzir suas posições e realizar lucro. Segundo o Deutsche Bank, esse movimento foi responsável por despejar 800 mil BTCs no último mês, impedindo uma recuperação efetiva dos preços.
A sequência dos eventos também influenciou o apetite dos investidores institucionais pela indústria. Dados da SosoValue, plataforma de informações sobre o mercado cripto, mostram que os ETFs de bitcoin à vista negociados nas bolsas de Nova York registram uma saída de líquida de US$ 3,55 bilhões em novembro.
“Esse fluxo reforça a pressão vendedora e pesa sobre os preços. Paralelamente, receios infundados — como especulações sobre potenciais ataques quânticos a blockchains e carteiras — alimentaram o temor entre investidores menos sofisticados, estimulando vendas adicionais de cotas”, diz Rony Szuster, Head Research do Mercado Bitcoin.
Mercado polarizado?
Na última semana de novembro, a percepção dos investidores mudou e as apostas de um corte de 0,25 pontos percentuais nas taxas em dezembro voltaram a ganhar força após a divulgação de novos dados econômicos. Como mostramos aqui, o Census Bureau do Departamento de Comércio dos EUA informou na última terça-feira (25) que as vendas varejistas tiveram alta de 0,2% em setembro. O resultado superou as expectativas dos economistas consultados pela agência Reuters que previam que um avanço de 0,4%. Já o índice de confiança do consumidor americano, divulgado pelo Conference Board, caiu de 95,5 em outubro para 88,7 em novembro.
A leitura dos números ajudou na recuperação parcial do bitcoin que voltar ser negociado acima dos US$ 90 mil. O leve otimismo também refletiu as reações dos investidores sobre os relatos de que o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, seria o favorito para assumir a presidência do BC americano. Segundo informações da Bloomberg, Hassett é visto como alguém que levaria ao Fed a abordagem de Trump em favor de cortes de juros – algo que o presidente há muito deseja influenciar.
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A virada do humor dos investidores, na avaliação de Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank, demonstra o quanto o mercado permanece extremamente sensível à qualquer interpretação ou análise sobre o cenário econômico. Por isso, ela acredita que dezembro deve ser marcado também por intensa volatilidade.
“Caso os próximos dados reforcem a probabilidade de corte de juros, o ambiente tende a favorecer ativos de risco. Por outro lado, qualquer sinal de resistência da inflação ou comunicação mais cautelosa do Fed pode interromper tentativas de recuperação no curto prazo”, diz Uska.
Já o Deutsche Bank ainda permanece cético com a possibilidade de uma recuperação efetiva do bitcoin no curto prazo. Para o banco alemão, além da dependência da trajetória dos juros norte-americanos, pesa também a indefinição regulatória. O projeto de lei CLARITY Atc, que propõe criar uma estrutura regulatória para as criptomoedas nos Estados Unidos, permanece estagnada no Congresso americano e esse atraso pode estar impedindo a adoção de criptomoedas.
“Ao contrário de quedas anteriores, impulsionadas principalmente pela especulação de investidores individuais, a retração deste ano ocorreu em meio a uma participação institucional substancial, mudanças nas políticas públicas e tendências macroeconômicas globais”, disseram os analistas do Deutsche Bank ao Decrypt, site especializado em criptomoedas.