O Tesouro Selic, por exemplo, é o mais conservador entre os títulos públicos disponíveis para investimento. Nesta modalidade, não há chance de perdas e o dinheiro pode ser resgatado a qualquer momento. Ainda assim, está pagando mais de 15% ao ano, uma vez que possui a rentabilidade atrelada à variação da taxa básica de juros do País, a Selic, que está no maior nível em duas décadas.
O título atrelado à inflação Tesouro IPCA+ 2029 oferece rendimentos de IPCA + 7,81%, enquanto os Prefixados pagam pelo menos 13% ao ano. Prêmios historicamente altos, que podem dobrar o patrimônio investido em cerca de seis anos.
Para vendas antes do vencimento, o cenário ainda está positivo. Investidores estão tendo ganhos de até 22% ao ano no mercado secundário, onde investidores negociam títulos IPCA+ e prefixados entre si. Esses ganhos vêm da “marcação a mercado” positiva desses papéis no período.
Marcação a mercado é a oscilação diária dos preços dos títulos IPCA+ e Prefixados a depender das expectativas econômicas. Em termos gerais, quando as perspectivas são de que a economia fique pior no futuro, com juros mais altos, Prefixados e IPCA+ se desvalorizam para vendas antes do vencimento. Quando ocorre o contrário e as projeções são de uma economia com juros mais controlados, como agora, os papéis se valorizam para vendas antes do vencimento.
Esse momento de alta rentabilidade em títulos de renda fixa explica o magnetismo do Tesouro Direto nos últimos meses.
Somente entre janeiro e outubro deste ano, o Tesouro atraiu 240 mil investidores, que agora somam 3,2 milhões. O saldo investido atingiu R$ 200 bilhões, alta de 36% em 12 meses. Apesar do domínio das pessoas físicas, os investidores institucionais também estão aproveitando os juros históricos dos títulos públicos.
“Tesouro aproveitou a forte demanda existente, inclusive com diversos fundos realizando alocações em Tesouro IPCA+, reforçando o colchão de liquidez e alongando o perfil da dívida”, afirma Maria Luisa Paolantoni, analista da Nord Investimentos.
A desconfiança com o crédito privado após eventos negativos também explica parte do apelo do tradicional Tesouro Direto. “Ruídos como a liquidação do Banco Master, bem como casos de recuperação judicial em emissores corporativos, reforçam que a liquidez e a segurança trazidos pelo Tesouro Direto são fundamentais na composição de um portfólio robusto”, diz Bruno Perri, economista-chefe, estrategista de investimentos e sócio-fundador da Forum Investimentos.
O Tesouro Direto em 2026
Para o ano que vem, a perspectiva é de que a taxa Selic seja cortada e, consequentemente, que os títulos públicos passem a render menos. Ainda assim, o Tesouro Direto deve continuar atrativo em 2026, com rentabilidades acima de dois dígitos.
De acordo com as projeções reunidas no Boletim Focus, do Banco Central, o esperado é que a taxa chegue ao final de 2026 em 12,13% ao ano, ainda um patamar alto. Para o investidor que pensa no longo prazo, os títulos IPCA+ são uma boa opção para assegurar retornos acima da inflação, de acordo com Paolantoni, da Nord Investimentos.
O Tesouro Selic, atualmente responsável por cerca de 48% das vendas do Tesouro Direto, também não deve deixar o lugar de destaque nos portfólios. “É importante manter os pós-fixados (Tesouro Selic) no portfólio, ainda que eles passem a ter uma rentabilidade menor do que a atual a partir dos cortes na Selic. Eles cumprem um papel importante de controle de volatilidade”, diz Paolantoni.
Esses também são os títulos preferidos de Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos, para o ano que vem. A combinação de Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ pode proporcionar uma camada extra de proteção em um período que tende a ser muito volátil. As eleições de 2026 devem mexer com os ânimos dos investidores e com as perspectivas macroeconômicas.
“Mesmo com a expectativa de cortes na Selic ao longo de 2026, os pós-fixados (Tesouro Selic) continuam importantes, especialmente para carteiras conservadoras. A combinação de segurança, liquidez e carrego ainda elevado segue atrativa em um ambiente doméstico e internacional incerto”, afirma Constantino. Para os títulos atrelados à inflação, o especialista recomenda os vencimentos intermediários, entre 4 e 10 anos.
“As taxas reais permanecem elevadas e acima de 7% ao ano, mesmo após quedas recentes. É um excelente prêmio”, aponta Constantino. “Além disso, garantem proteção contra surpresas inflacionárias e tornam o portfólio mais resiliente.”
Maior volatilidade
A expectativa de uma volatilidade maior em 2026 afasta recomendações para títulos mais sensíveis às mudanças nas expectativas econômicas, como IPCA+ e Prefixados de prazos mais longos.
“Embora a atividade econômica mais fraca e a moderação da inflação abram espaço para cortes de juros em 2026, o cenário doméstico permanece desafiador. Desequilíbrio fiscal, incerteza política e ruído eleitoral, somados a fatores externos, devem manter a curva volátil”, diz Constantino.
Por isso, os investidores que estão pensando em comprar títulos públicos para vender antes do vencimento e ganhar na marcação a mercado, precisam de atenção redobrada. O que mexe nos preços dos prefixados e IPCA+ não são os cortes na Selic, mas as projeções futuras para os juros.
Casa haja cortes superiores na Selic ao projetado, há espaço para valorização dos títulos no mercado secundário. Se os cortes vierem em linha com o projetado, a volatilidade pode ser menor, assim como os ganhos. Já em um cenário de Selic mais alta do que o esperado, a marcação a mercado pode ser negativa.
“É importante buscar estruturas equilibradas e adequadas ao perfil de risco”, diz o estrategista-chefe da GCB Investimentos. “Investidores conservadores, em especial, devem evitar prefixados longos.”