- Antes queridinho do mercado, o IRB assistiu as ações minguarem mais de 70%, de R$ 36,58 para os atuais R$ 6, depois de descobertas fraudes contábeis na companhia
- Após reestruturação, a empresa conseguiu registrar lucro de R$ 9,4 milhões entre janeiro e maio deste ano. No mesmo período do ano passado, a queda tinha sido de R$ 337,2 milhões
- Paralelamente aos resultados mais positivos, veio a público que o mega investidor Luiz Barsi teria comprado 1,5% do capital social do IRB, na esteira dos preços baixos e da ‘reestruturação sem precedentes’ realizada na empresa
O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) mergulhou na maior crise financeira e de credibilidade dos seus 80 anos de história em 2020. Antes queridinho do mercado e figura presente em muitas carteiras recomendadas, o ressegurador viu as ações minguarem mais de 70%, de R$ 36,58 para os atuais R$ 6, depois da descoberta de fraudes contábeis na companhia.
Leia também
Os balanços de 2018 e 2019, por exemplo, tiveram que ser republicados pois estavam inflados em R$ 670,6 milhões. Os ex-executivos da empresa também foram investigados, já que teriam se apossado de R$ 60 milhões em bônus indevidos. Esses ‘gaps’ foram identificados pela nova administração, liderada pelo então CEO Antonio Cassio dos Santos, que chegou ao ressegurador em março de 2020 para trazer o IRB de volta para os trilhos.
No final de 2020, com todas as reestruturações, o prejuízo acumulado foi de R$ 1,5 bilhão. Santos permaneceu no IRB até março deste ano, quando passou o bastão para Wilson Toneto. Agora, a ‘limpa’ na empresa parece começar a dar frutos.
Barsi vai às compras
Na última quarta-feira (21), o IRB divulgou a prévia dos números de maio. O lucro líquido de R$ 7,5 milhões empolgou os investidores, uma vez que em maio do ano passado a empresa havia registrado prejuízo de R$ 202,1 milhões. No acumulado dos cinco primeiros meses de 2021, o IRB teve resultado financeiro positivo em R$ 9,4 milhões, revertendo a queda de R$ 337,2 milhões em 2020.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Paralelamente aos resultados mais positivos, veio a público que o mega investidor Luiz Barsi teria comprado 1,5% do capital social do IRB, na esteira dos preços baixos e da ‘reestruturação sem precedentes’ realizada na empresa por Antonio Cassio dos Santos. Os aportes também teriam sido feitos após ‘minuciosas análises estruturadas em fundamentos consistentes’.
A informação, publicada pelo Infomoney, só deu mais força aos papéis, que subiram 8,5% no pregão e terminaram o dia cotados a R$ 6. A visão positiva de Barsi sobre o IRB fez muitos investidores retomarem a confiança na companhia.
Marco Saravalle, estrategista-chefe da SaraInvest e colunista do E-Investidor, acredita que os papéis podem voltar a se valorizar, mas uma das grandes dúvidas dele diz respeito ao patamar em que o ROE (retorno sobre o patrimônio) estará daqui para frente. “Temos dois extremos nesse papel. Alguns analistas acham que ainda tem mais queda para IRBR3 e outros falam que a ação poderia valer algumas vezes mais”, afirma o especialista, em entrevista ao B&MC News. “Na minha opinião ainda levará tempo para ter essa concretização [valorização dos papéis].”
Saravalle também ressalta que a estratégia de Barsi é focada no longo prazo, ou seja, em um horizonte médio de três anos – bem diferente das expectativas e necessidades de muitos investidores brasileiros, que veem o curto prazo. Portanto, antes de acompanhá-lo na compra de IRBR3, é preciso ter em mente que o retorno pode demorar a acontecer. “A credibilidade volta, mas ao longo do tempo, quando a companhia começar a entregar resultados com consistência”, afirma o especialista. “Se você tiver esse pensamento [do Barsi, de longo prazo], talvez IRB faça até sentido.”
A Eleven Financial, por exemplo, é uma das casas de análise que acredita em um upside de 100% para o papel até o final de 2022. Com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 12, a research explica que além de todos os problemas de governança, a pandemia e a Selic em patamares historicamente baixos contribuíram para acelerar a derrocada do IRB – afinal, quando os juros ficam menores, os investimentos de toda indústria de seguros e resseguros são afetados.
Publicidade
“A recuperação está mais lenta do que esperávamos, porém as coisas estão evoluindo a olhos vistos e o encerramento da fiscalização especial da Superintendência de Seguros Privados (Susep) é o marco do encerramento da fase de limpeza (Clean). Agora, ainda existe um caminho de reestruturação do negócio (Fix), que deverá levar todo o ano de 2021 e talvez até um pedaço de 2022 para preparar a companhia para uma nova fase de crescimento (Growth)”, afirma a casa, em relatório divulgado em junho.
Nem todo mundo está convencido
Apesar dessa reviravolta na história do IRB, nem todo mundo está convencido. A Genial Investimentos não vê os últimos resultados como surpreendentes e projeta um caminho de crescimento, mas ainda cheio de desafios.
“O lucro acumulado dos 5 primeiros meses do ano contribui com nossas expectativas de lenta recuperação para 2021, que deve ser freada pelo maior endividamento do IRB, cujos recursos foram destinados a reconstruir o capital regulatório”, afirmam Eduardo Nishio e Bruno Bandiera, especialistas da Genial, em relatório.
Portanto, a Genial tem recomendação ‘manter’ para a ação (equivalente a ‘neutra’), principalmente pelas incertezas relacionados ao nível de ROE (rentabilidade sobre patrimônio) de longo prazo e valuation considerado pouco atrativo.
O BTG Pactual, em relatório de maio, também manteve recomendação neutra para os papéis. “Ainda achamos que a avaliação não é atraente o suficiente, especialmente se o ROE (retorno sobre patrimônio) demorar um pouco para superar o COE (custo de patrimônio). Mas a empresa está definitivamente em modo de recuperação, com capital e liquidez saudáveis”, explicou o banco.
Já a Nord Research adotou um tom mais duro em relação ao ressegurador. Em newsletter disparada em 14 de julho, a casa citou o IRB como ‘um negócio ruim’, cujas ações ficaram famosas nas redes sociais.
Publicidade