Nos últimos meses fui muito questionado sobre minha visão em relação ao dólar. Qual seria seu patamar de ajuste? Eu adoraria ter uma resposta pronta, uma convicção forte em relação à direção e ao patamar da moeda americana em relação ao real.
Mas, infelizmente, quem espera isso de um investidor ficará frustrado com este texto e com minhas respostas, hoje e sempre.
O câmbio é uma variável de ajuste da economia. Existem métricas que nos ajudam a tentar prever sua direção e seu patamar considerado de “equilíbrio”, mas dificilmente, teremos uma resposta correta para essas questões. Acredito que nenhum outro participante do mercado ou economista terá essa resposta correta, para cada momento do tempo.
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Na minha visão, a diversificação de patrimônio, não apenas entre classes de ativos, mas entre regiões do mundo, é (e será) cada vez mais importante. A Taxa Selic está no seu ponto mais baixo da história e com probabilidade elevada de testar níveis ainda mais baixos. E permanecer nesses níveis por ainda mais tempo.
Antigamente, o “custo de oportunidade” de tirar o dinheiro do Brasil era alto. Existia no país um ativo único, que nos oferecia rentabilidade alta (acima de dois dígitos), sem volatilidade e com liquidez. Este ativo eram os títulos públicos pós-fixados atrelados ao CDI (à Taxa Selic). E, por muito tempo, foi um ativo em extinção ao redor do mundo, mas presente no Brasil.
Essas características faziam com que o “custo de oportunidade” de se tirar o dinheiro do Brasil, de tomar algum risco de liquidez e/ou risco de volatilidade, fossem altos; ou seja, era muito mais seguro e confortável manter os recursos no País, em um ativo que nos trazia conforto, segurança, liquidez e retorno alto, pelo menos aparentemente.
Isso não é mais verdade. A Taxa Selic ronda os 2%. É natural supor que ela não ficará neste patamar o resto da vida. Entretanto, mesmo uma alta expressiva dos juros, como já precifica as taxas mais longas do mercado futuro, apontam para uma taxa na ordem de 8% daqui a 3-4 anos. É ainda muito baixa para os padrões históricos do Brasil.
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Somado a isso, as possibilidades de investimento fora do Brasil, seja através de veículos locais seja através do envio de recursos para outros países, se tornou muito mais fácil, ágil e seguro. Isso abre um leque gigante de oportunidades de alocação.
Fora do Brasil, podemos acessar nichos de mercado, regiões e gestores que ajudam no balanceamento do portfólio e na maximização de retornos a longo prazo.
Como comentei em meu último artigo, a pandemia traz enormes desafios de curto-prazo, mas oportunidades de alocação nos setores que estarão na vanguarda do que irá emergir após esta primeira fase da crise. Fora do Brasil, essas oportunidades são muito mais amplas e visíveis.
Como nunca saberemos o ponto correto de fazer essa diversificação de patrimônio, minha recomendação sempre estará na linha de fazer esse processo em fases, em etapas, não visando níveis de taxa de câmbio, mas em momentos do tempo. Isso reduz a probabilidade de um timing errado de diversificação.
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Cuidado, pois minha experiência mostra que tentar acertar o ponto perfeito de entrada (de diversificação) pode custar caro. O meio termo, neste caso, me parece a melhor opção.
Toda crise traz oportunidades, e essa não poderia ser diferente. Se você estava querendo “comprar dólar” lá perto do R$ 6, e agora esqueceu desse assunto, tente pensar por outra ótica.
Pense como uma diversificação de patrimônio, em um acesso que você não teria no Brasil. E lembre que fazer o movimento em etapas pode ajudá-lo neste processo.