A pandemia que assolou (e ainda assola) o mundo neste primeiro semestre de 2020 nos faz repensar a vida, nosso dia a dia e, consequentemente, como será o “novo normal” de agora em diante.
Acredito que ainda estamos no meio da crise, no “olho do furacão”, no sentido de que a visibilidade ainda é baixa, as incertezas são enormes, e qualquer afirmação mais convicta sobre o cenário e sobre investimentos seria, de certa forma, uma leviandade.
Por um lado, precisamos ser humildes em reconhecer as incertezas e os riscos ainda presentes no cenário, adotando postura defensiva. Por outro lado, precisamos reconhecer que todas as crises trazem mudanças, que trazem oportunidades de investimentos. Neste quesito, precisamos estar preparados para atuar de maneira ofensiva, encontrando setores onde as oportunidades se mostram presentes.
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Algumas empresas e alguns setores sairão fortalecidos desta crise. Outros, infelizmente, não vão conseguir fazer a travessia. Empresas irão desaparecer e setores inteiros vão encolher e se consolidar.
Eu tenho maturado nessas últimas semanas uma nova tese de cenário. Nela, a recuperação econômica é em “U” e não em “V” ou em “L”. Há uma chance de ser em “W”. Contudo, acho que o formato (shape) da recuperação importa menos do que a “nova” economia que irá se estabelecer.
Neste cenário, o mundo demora mais para voltar aos picos anteriores, mas uma série de tendências estruturais, talvez “seculares”, que já vinham acontecendo aos poucos, acabam sendo aceleradas e se consolidando.
Não acredito muito em mudanças drásticas de hábitos, mas alguns deles, que já vinham mudando, tendem a se consolidar. Apenas para citar alguns exemplos, o mundo do “streaming”, da “Netflix”, ganha corpo em relação a ida ao cinema; a comida em casa, o “take out”, sai fortalecido; a compra pela internet em detrimento às lojas físicas; e assim sucessivamente.
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Agora, outros hábitos devem retornar, uma vez que o vírus estiver controlado. Não acho que as pessoas deixarão de ir aos Parques da Disney, nem comprar suas bolsas caríssimas de marcas famosas. Contudo, são hábitos que irão demorar um pouco a mais para voltar ao que era antes, pelo empobrecimento da população e pela necessidade de distanciamento social. Turismo e “bens de luxo” são sonhos que nunca deixarão de existir, mas o tamanho desse mercado deve passar por alguns ajustes.
No limite, acho que a sociedade irá se acostumar com o vírus. Vamos aprender a conviver com ele. De uma forma ou de outra, teremos que conviver com algum distanciamento social enquanto não houver uma vacina. O mundo já conviveu com diversas mudanças e soube se adaptar a elas.
Uma “segunda onda” de contágio pode ocorrer, mas tende a ser mais branda e a sociedade estar mais preparada e acostumada com ele. Talvez não tenhamos que mudar drasticamente de hábitos como na “primeira onda”, pois os hábitos já terão mudado.
Isso fortalece a visão da recuperação em “U”, em detrimento à recuperação em “W”, a despeito de existir uma possibilidade nesta direção.
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Este ambiente é novo, foi e está sendo um choque para a economia global e a para a sociedade como um todo. Todavia, como toda grande transformação econômica e social, ela traz desafios, mas enormes oportunidades de investimentos, na economia real e nos mercados.
Veremos empresas e setores saindo fortalecidos. Veremos novas “ondas” de tecnologias surgindo para facilitar a vida e essa “nova” economia. Infelizmente, alguns setores e várias empresas ficarão pelo caminho. É o “Darwinismo” em seu estado mais puro.
Este ambiente cria enormes oportunidades de investimentos de longo prazo. Neste momento, parece que estamos no meio deste “choque de realidade”. Ele é duro, custoso e desconfortável, mas deve abrir um abismo de oportunidades para a sociedade e os nossos investimentos.
No que tange a investimentos, um portfólio balanceado nunca foi tão importante. Estamos favorecendo uma liquidez um pouco mais alta, visando ter poder ofensivo quando as oportunidades surgirem.
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Mesmo diante das incertezas, vemos oportunidades no mercado de renda variável, em gestores “ativos”, que buscam retornos positivos e absolutos em todos os cenários. O mesmo vale para os fundos multimercados.
Felizmente, o Brasil é um “berço fértil” de gestores com essas características, o que ajuda, em muito, a composição de portfólio. Oportunidades existem, ainda, nos mercados de crédito privado e na renda fixa, mesmo com uma Taxa Selic baixa.
Em um Brasil de juros baixos, o investidor precisará abrir mão de liquidez e/ou de volatilidade em prol de retornos mais elevados, diferentemente do passado, quando o CDI (e a Taxa Selic) era muito mais alto.
Assim, será fundamental entender o cenário, suas mudanças, seus desafios e suas oportunidades.
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