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- China identificou que a relação com os Estados Unidos iria melhorar no curto prazo e depois iniciar uma curva de deterioração, enquanto o governo chinês teria entre 10 e 15 anos para se adaptar
- O país asiático acertou no diagnóstico e errou no timing. De fato, os Estados Unidos enxergam a progressão tecnológica chinesa e o grande volume de amarras comerciais e financeiras com terceiros como armas difíceis de serem enfrentadas
- Dentro desse ambiente, a China focará em alguns pontos específicos em sua estratégia de reorganização para o novo mundo que surgiu durante a pandemia
Entre o dia 26 e 29 de outubro, membros de alto escalão do Partido Comunista Chinês (PCC) irão se encontrar pela primeira vez em cinco anos. Essa reunião, que já seria importante dado o espaçamento entre encontros desse nível, ganha contornos ainda mais estratégicos. Abrigará o debate e a seleção de projetos que possam se enquadrar no redesenho político e econômico que Xi Jinping idealizou para o próximo quinquênio.
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No último encontro, a China identificou que a relação com os Estados Unidos iria melhorar no curto prazo e depois iniciar uma curva de deterioração, enquanto o governo chinês teria entre 10 e 15 anos para se adaptar. Essa deterioração estaria ancorada na leitura chinesa de que a equalização tecnológica e a solidificação de relações estratégicas com diversos países levariam os Estados Unidos a iniciar um processo de busca e resposta por reconquista de espaço. Todo esse cenário foi acelerado pela pandemia, fazendo com que o PCC comandasse rapidamente um realinhamento estratégico.
A China acertou no diagnóstico e errou no timing. De fato, os Estados Unidos enxergam a progressão tecnológica chinesa e o grande volume de amarras comerciais e financeiras com terceiros como armas difíceis de serem enfrentadas. O Presidente Donald Trump iniciou um processo de afastamento (decoupling) que era previsto pela China para ocorrer somente nos próximos 10 anos, obrigando o mundo a assistir e a se readequar dentro da readequação sino-americana.
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Dentro desse ambiente, a China focará em alguns pontos específicos em sua estratégia de reorganização para o novo mundo que surgiu durante a pandemia:
1. Aumento do Consumo Interno
Em 2015, Xi Jinping havia deixado claro a membros do partido que o futuro econômico do país dependeria mais do mercado doméstico do que das exportações de manufaturados. Iniciou-se um desenho estratégico, sem pressa, para realizar essa troca.
No dia 26, Xi irá enfatizar esse ponto como o pilar essencial no reajuste de crescimento chinês. Para isso, o governo buscará ampliar programas na base da pirâmide social, estimulando um consumo maior; outra ideia é simplificar o pagamento de tributos para indústrias estratégicas com a finalidade de gerar um aumento de produção.
Um foco será dado para as populações rurais, para que essas passem a diversificar seu consumo e se aproximar do perfil consumidor dos centros urbanos. A burocracia para criação de empresas será diminuída e novos centros tecnológicos, como Shenzhen, receberão incentivos pesados.
2. Inovação Industrial
A estratégia industrial dividirá o perfil da produção industrial entre “bens de consumo”, “fornecedores básicos”, “fornecedores especiais” e “indústria de inovação”. A indústria de inovação não estará, necessariamente, atrelada ao consumo interno, logo não necessitará “produzir mais e mais barato”. Xi acredita que a China conseguiu se aproximar tecnologicamente dos EUA nos últimos anos e nos próximos será o momento de ultrapassá-los.
Tecnologias e procedimentos inovadores desenvolvidos por empresas específicas serão distribuídos para empresas complementares, com a finalidade de gerar um crescimento tecnológico uníssono, sem ilhas industriais de excelência.
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Enquanto nos EUA uma tecnologia desenvolvida pela Apple é guardada em segredo e a Microsoft, por exemplo, precisa iniciar sua pesquisa do zero para atingir resultado similar, na China o avanço de uma empresa será complementar ao avanço de outra, reduzindo o tempo de pesquisa e evitando reservas tecnológicas em empresas específicas.
3. Mercado de Capitais
O Governo chinês simplificou o processo para empresas serem listadas nas bolsas do país, para indivíduos investirem e fortaleceu o yuan para acentuar a percepção de ganhos. Sabendo que o mercado de capitais americano ficará cada vez mais reduzido para empresas chinesas, o governo acelerou o plano de desenvolver o mercado chinês de capitais. A capitalização do mercado de capitais atingiu a marca de 10 trilhões de dólares, gerando um crescente interesse em empresas e investidores individuais.
4. Ampliação do comércio bilateral em yuans
O fortalecimento do yuan não visa somente o mercado de capitais, mas também aparece como um incentivo para que relações comerciais com outros países sejam feitas em yuan. Isso possibilitará, na visão do governo chinês, um processo orgânico de credibilidade em sua moeda.
O yuan poderá se tornar especialmente útil para países que estão sob sanção americana e, assim, poderão operar por debaixo do radar financeiro. No entanto, o PCC sabe que esse é o ponto de mais difícil implementação entre as novas estratégias, pois, nas sociedades dos países onde isso poderia funcionar, a credibilidade negativa gerada em relação à China se estenderia até a moeda.
5. Reduzir foco nas exportações
A economia chinesa, principalmente na década passada, foi muito dependente na exportação de seus produtos industrializados, farmacêuticos e tecnológicos. Entendendo que a linha de ataque americano continuará independente de quem ganhar as eleições, o país quer depender menos de fora e mais de dentro. A redução deve ser gradativa e alinhada com o crescimento do consumo interno.
6. Investir em Energia Renovável
Membros do PCC reconhecem que ter sua economia dependente de ações políticas e geopolíticas ocidentais é um risco muito alto. Isso inclui importações de petróleo, já que os países exportadores tendem a ser mais instáveis politicamente.
Xi Jinping quer desenvolver fontes de energia renovável em larga escala para iniciar um processo de diminuição na importações de petróleo, visando atingir um equilíbrio nos próximos 10 anos. Dentro da estratégia, incluem-se energia solar (na região fronteiriça a Mongólia), novas hidrelétricas e expansão de energia nuclear além de biocombustíveis e energia eólica.
O desenho estratégico chinês indica um maior foco nos assuntos domésticos do que nas questões externas. Isso não quer dizer que a lógica de financiamentos e ampliações comerciais deixariam de ocorrer a curto prazo. Dentre as estratégias listadas, a tecnológica é crítica para acelerar outras.
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A China entende que está à frente em algumas categorias de tecnologia quântica, principalmente aquela ligada a comunicações. Técnicas de reconhecimento facial e inteligência artificial também demonstraram avanços surpreendentes. A produção de chips semicondutores é um gargalo difícil de ser solucionado. Essa é uma área onde Xi quer atenção especial e estabilidade de produção para ontem.
A reorganização estratégica chinesa impacta inúmeros países, inclusive o Brasil. Somos exportadores de commodities e a China quer, mesmo que a médio prazo, reduzir essa dependência e se tornar mais autossustentável.
Quando Xi esteve no mês passado visitando áreas férteis para plantio, ele enfatizou o interesse em ver a China produzindo uma variedade agrícola que não substituiria as exportações brasileiras, mas as reduziria.
Ao mesmo tempo, como o Brasil tem um parque industrial atrasado em vários setores, ver a China redirecionando parte de sua produção para o mercado doméstico também afetaria nosso país. O desenho estratégico chinês deveria obrigar o Brasil a produzir seu próprio desenho estratégico para os próximos 5 e 10 anos. Dificilmente isso ocorrerá, pois não temos características de planejamento.
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