- A quebra do Silicon Valley Bank colocou o governo dos Estados Unidos em uma posição desconfortável, apoiando correntistas como nunca para evitar uma corrida aos bancos generalizada e possivelmente devastadora
- Levando em consideração os riscos, as autoridades fizeram a coisa certa. A parte difícil será descobrir como lidar com as consequências
A quebra do Silicon Valley Bank colocou o governo dos Estados Unidos em uma posição desconfortável, apoiando correntistas como nunca para evitar uma corrida aos bancos generalizada e possivelmente devastadora.
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Levando em consideração os riscos, as autoridades fizeram a coisa certa. A parte difícil será descobrir como lidar com as consequências.
A falência do SVB não deveria representar uma ameaça sistêmica. A crise de caixa que obrigou o banco a vender ativos com prejuízo era específica de seus clientes de startups de tecnologia, e não um fenômeno generalizado. A Federal Deposit Insurance (FDIC) era completamente capaz de lidar com a liquidação do banco, o que acarretaria no reembolso dos depósitos segurados e, talvez, a imposição de algumas perdas aos não segurados. A FDIC resolveu sem problemas centenas de outras situações envolvendo bancos desta forma.
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Mas o SVB quebrou de forma diferente. Seus clientes, incentivados por influenciadores do setor, mostraram-se surpreendentemente rápidos em sacar seus depósitos (US$ 42 bilhões em um único dia). Os clientes de outros bancos começaram a ficar nervosos, aumentando o risco de que a imposição de prejuízos a alguns correntistas pudesse desencadear um êxodo generalizado. Por isso, os reguladores expandiram o apoio, comprometendo-se a reembolsar todos os depositantes do SVB e do Signature Bank, outro banco que faliu e atendia clientes de criptomoedas.
O Federal Reserve concordou em conceder empréstimos de emergência até o valor nominal total de certos títulos com baixo risco de calote, para ajudar outros bancos a sobreviver a qualquer onda de saques.
Esta resposta parece estar funcionando, mas também cria novos problemas. Embora as autoridades insistam que a ação não foi um resgate – os gestores e acionistas do SVB não estão sendo socorridos –, em alguns aspectos foi exatamente isso que aconteceu. É difícil enxergar como os reguladores agora vão poder impor perdas aos depositantes de qualquer banco falido, o que significa que os contribuintes se tornaram, na prática, fiadores de todos os depósitos não segurados (que totalizaram mais de US$ 7 trilhões no ano passado).
Os limites de seguro proporcionaram pelo menos algum incentivo para os clientes verificarem riscos e distribuírem seu dinheiro em bancos diferentes. Agora eles podem colocar tudo onde quer que consigam as ofertas mais interessantes, que se danem os riscos. Os bancos podem gerar dinheiro quase ilimitado sob a forma de depósitos, seguros com a certeza de que o governo irá apoiá-los.
O que fazer?
Para começar, é muito provável que as autoridades reforcem os regulamentos atuais. Se o Fed, por exemplo, estender as regras de liquidez dos bancos maiores para certos bancos de médio porte, poderá prepará-los melhor para perdas repentinas de depósitos. Além disso, o aumento das exigências para a absorção de perdas de capital próprio tornaria todo o sistema mais resiliente.
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No entanto, essas mudanças não solucionariam um problema: se um número suficiente de depositantes tentar sacar seu dinheiro de uma só vez, nenhuma quantidade razoável de capital ou liquidez impedirá a falência: os bancos simplesmente não podem vender seus ativos rápido o suficiente para ficar livres de perdas catastróficas. E se houver qualquer chance dessa onda de saques se espalhar por todo o sistema, as autoridades se sentirão obrigadas a intervir, colocando o dinheiro do contribuinte em risco – algo que eles demonstraram inúmeras vezes.
Há soluções, mas elas podem exigir uma reformulação mais radical. Uma estratégia: reduzir a possibilidade de resgates conseguindo certo controle sobre o volume enorme de meios financeiros que funcionam como dinheiro e podem exigir apoio. O Fed, por exemplo, poderia limitar os depósitos e outras obrigações de curto prazo para os ativos que as instituições financeiras dão como garantia antecipada para empréstimos de emergência, sem reduções aplicadas ao valor de ativos para garantir que o banco central não fique sujeito a prejuízos.
Isso permitiria ao Fed garantir com segurança toda a dívida de curto prazo sem flexibilizar as normas de empréstimos, como aconteceu esta semana. Ao eliminar o risco da onda de saques, isso permitiria aos bancos falir com efeitos colaterais mínimos. Melhor ainda, evitaria a necessidade de seguro de depósitos, os requisitos de liquidez e uma série de outras regras.
Não se pode esperar que os reguladores acabem totalmente com o risco de falências. Mas eles precisam considerar mudanças – inclusive as audaciosas – que limitariam de forma confiável o escopo de intervenções futuras. Fazer mais do mesmo e esperar um resultado diferente não é uma resposta sensata.
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TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA