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Bruno Funchal

O Brasil de(s)colou dos demais emergentes?

Mesmo com dados econômicos positivos, o País está com o câmbio nas alturas e uma curva de juros estressada

Dinheiro, mapa e bandeira do Brasil (Foto: Adobe Stock)
Dinheiro, mapa e bandeira do Brasil (Foto: Adobe Stock)

Imagine que um marciano pousou sua espaçonave no planeta Terra, mais especificamente no Brasil. Ele tem interesse em economia e, procura alguns dados sobre a economia local para entender a situação. Alguns dados chamam atenção. O desemprego está em níveis historicamente baixos, o PIB surpreende ano após ano, a inflação controlada e a balança comercial apresenta resultado forte pelo segundo ano consecutivo. No entanto, há algo estranho: por que o câmbio dispara e a curva de juros está tão estressada? Esse marciano é operador do mercado financeiro em Marte, e ele se pergunta o motivo.

É com essa dicotomia que nos deparamos. Nas últimas semanas, temos observado diversos sinais de estresse nos preços dos ativos brasileiros, principalmente refletidos na curva de juros e na desvalorização do real frente ao dólar. Paradoxalmente (ou não), temos visto diversos números da nossa economia surpreendendo positivamente.

Essa dicotomia não é de surpreendente, afinal os parâmetros econômicos estão associados a uma fotografia de um período curto que acabou de acontecer, enquanto os preços de mercado estão associados a toda trajetória futura de diversos números econômicos. A mensagem que temos visto embutida nas curvas de juros e no câmbio é “Cuidado! Perigo à frente!”.

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Mas que perigo seria esse? Nas últimas semanas, muito se foi falado de dois temas fundamentais para a saúde da economia brasileira: a política fiscal e a política monetária.

Em relação à política fiscal, é fundamental que esta tenha credibilidade e ancore as expectativas dos agentes de mercado, trazendo previsibilidade e confiança para aqueles que financiam o Tesouro Nacional quando compram um título de dívida do Brasil.

As escolhas sobre aumento de gastos têm vindo acompanhadas por aumento de receita. Porém essa escolha tem dois lados negativos: primeiro, afeta a capacidade de crescimento da economia quando a carga tributária aumenta para as empresas; segundo esse aumento tem limite e, esse limite, parece estar sendo alcançado. Discussões sobre a capacidade do governo compensar parte de aumento de despesas obrigatórias com revisão de outras despesas esquentou e, toda dúvida sobre isto causou parte desse estresse no mercado.

Nas últimas semanas, o Brasil se descolou dos demais emergentes, e o preços de quase todos seus ativos encontram-se nos seus extremos, com a maior desvalorização do real no ano, juros na máxima e Bolsa quase na mínima. Essa perda de credibilidade vem se refletindo nos preços dos ativos, que levam em consideração toda trajetória futura da economia e, com menor credibilidade de que a regra fiscal será seguida, o efeito desses preços que hoje são sentidos pelo mercado financeiro, amanhã se traduzira em menos investimento, menos crescimento e menor geração de emprego e renda, dado o aumento do custo para investir no Brasil.

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Pelo lado da política monetária, a desaceleração e a parada da queda dos juros trouxeram dívidas sobre o apetite do banco central em combater a inflação, processo fundamental do modelo de metas de inflação que é baseado na crença dos agentes econômicos de que a autoridade monetária vai cumprir seu papel de buscar a meta. Felizmente, a última reunião do Copom deu sinal claro desse objetivo importante para a economia.

Portanto, é fundamental que a liderança política do País sinalize que apoia as instituições, tanto a monetária, fortalecida pela autonomia do Banco Central e, principalmente, para as instituições fiscais que enfrentam grandes desafios desde a Lei de Responsabilidade Fiscal, passando pelo teto de gastos e agora com o novo arcabouço fiscal, recém aprovado pelo parlamento em 2022 mas que já passa por problemas de falta de credibilidade.

O reforço do apoio das lideranças e seu cumprimento tem reflexos significativos para a nossa economia, afinal, a organização das contas públicas não é um fim em si mesmo, mas um meio para viabilizar políticas públicas sustentáveis e um bom ambiente para investir e gerar emprego e renda.

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