Eduardo Mira é o especialista em renda variável da Me Poupe!. Professor e investidor há mais de 20 anos, é analista CNPI-T e especialista em finanças e investimentos, com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em gestão de investimento e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Também tem passagem por banco e corretora de investimentos.

Ele escreve mensalmente, às sextas-feiras.

Eduardo Mira

Como a alta do dólar torna a sua vida mais cara

Na segunda-feira (19), a moeda fechou em sua maior valorização diária dos últimos dez meses

Entender o que é câmbio é essencial para quem deseja trabalhar utilizando alguma moeda estrangeira. Foto: JF Diorio/ Estadão

Quem acompanha qualquer jornal sabe que a semana começou com a alta do dólar pautando a mídia. O aumento de casos de covid-19 em vários países, sobretudo na Europa e Estados Unidos, trouxe preocupação quanto ao risco de novos lockdowns causarem mais impactos à economia.

A valorização da moeda americana movimentou os mercados no mundo todo e, obviamente, também o nosso. A segunda-feira aqui no Brasil fechou com o dólar em sua maior valorização diária dos últimos dez meses.

Apesar de muitos acreditarem que o aumento da moeda impacta apenas aqueles que a usam diretamente, a alta do dólar influencia a economia como um todo, puxando a inflação para cima, afetando o preço de diversos itens. Você sabe como? Acompanhe a seguir.

O efeito em cascata da alta do dólar

Aumentos de preços

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As empresas que importam produtos, seja para revenda direta ou matérias-primas, são fortemente penalizadas em momentos de alta, pois precisam de mais capital para continuar com seus negócios. Dois exemplos bem próximos para todos nós são a indústria farmacêutica, cuja matéria-prima é quase toda importada, e fabricantes de pães, macarrão e outros produtos à base de trigo.

A essa altura você já começou a entender como o aumento do dólar tem a ver com seu dia a dia, certo? Afinal, o buraco sempre acaba no bolso do consumidor.

Mas esses impactos afetam principalmente o pequeno produtor, que tem maior dificuldade na previsibilidade financeira, pois há uma limitação em adotar medidas de proteção cambial. Assim, suas margens ficam comprometidas e, consequentemente, ele precisa repassar esses custos ao consumidor final.

Outro impacto é no valor dos combustíveis. Apesar do preço do barril de petróleo estar semelhante ao do período pré-pandemia, a alta do dólar impacta diretamente o preço por litro para o consumidor final.

Começa aí o efeito cascata que mencionei: a maioria dos produtos que compramos no supermercado é transportada por caminhões. Se o combustível aumenta, o frete também sobe, e esse custo acaba sendo repassado para as mercadorias.

Leia também: Os melhores investimentos para fazer quando o dólar está alto

Quem se beneficia com o aumento do dólar?

O dólar em alta favorece as empresas cuja produção é destinada às exportações, como as indústrias de papel e celulose, mineração, siderurgia, sucos, frigoríficos e indústria extrativa em geral.

O primeiro semestre de 2021 representou um saldo da balança comercial recorde nas exportações brasileiras. Ou seja: exportamos mais do que importamos. Esse resultado vem da retomada econômica em todo mundo, beneficiada pelas características dos produtos brasileiros que se valorizam com a apreciação do dólar. Assim, segmentos com significativa demanda internacional, possuindo parte de sua receita em dólar, conseguem ampliar sua competitividade no mercado internacional.

Vale também ressaltar outro ponto sobre a apreciação do dólar: a dívida pública federal. Apesar de o país possuir parte da dívida cotada em dólar, ela representa apenas uma pequena parcela do montante total.

Em contrapartida, o País também possui grande parte de suas reservas cotadas em dólar, correspondendo a mais do que o dobro da dívida na moeda, formando, então, um grande colchão de reservas financeiras. Assim, ao passo que o dólar se valoriza, a dívida líquida é reduzida.

Impacto no mercado financeiro

Com todo o cenário que descrevi acima, certamente você já deduziu que as aplicações financeiras também são impactadas pela variação no câmbio, certo? Continue comigo por aqui para entender como seus investimentos são influenciados.

Que a apreciação do dólar vem ocorrendo gradativamente é algo perceptível nos últimos anos. Por isso, pensar em se expor à moeda já se torna item corriqueiro na composição de uma carteira de investimentos diversificada.

Mas, ao contrário do que muitos pensam, isso não significa que você precise comprar a moeda ou investir diretamente em uma corretora internacional.

Como mencionei até aqui, empresas brasileiras também se beneficiam com esta apreciação, auxiliando na diversificação da carteira. Conhecer o principal mercado da empresa, como ela faz a gestão de proteção cambial e seu desempenho operacional permitem que, mesmo não estando exposto diretamente à moeda, sejamos beneficiados com essa apreciação do dólar.

Para uma exposição mais direta à moeda, também é possível alocar recursos diretamente no exterior, porém, é necessário conhecer seu perfil de investidor e se esse investimento condiz com seus objetivos. Diversificar sem um propósito claro de investimento pode trazer mais inseguranças do que uma exposição apenas em mercados nacionais.

Para aqueles que pretendem ter apenas recursos investidos no Brasil, mas querem se expor de forma mais direta à moeda, também podem fazer essa alocação via fundos de investimentos.

Os fundos multimercado, cujas estratégias diversificadas possibilitam maior adaptação aos cenários, podem entregar resultados interessantes para quem busca se proteger das oscilações do dólar. A composição das carteiras, de forma a se expor ao dólar, diretamente na moeda ou em estratégias dolarizadas, pode favorecer maior equilíbrio da carteira com a variação da moeda.

Os fundos cambiais também são uma modalidade para exposição direta à oscilação do dólar e podem ser uma alternativa na composição de carteira. Mas, atenção: a escolha dos fundos com esta estratégia de exposição deve ser bem avaliada, a fim de alocar em boas gestoras e também alinhada ao seu perfil de risco.

Renda Fixa

Para tentar conter a saída do capital estrangeiro, o Banco Central tende a subir a Selic, que é a taxa básica de juros, e isso pode levar alguns investidores a acreditar que a Renda Fixa está atraente.

Entretanto, é preciso ficar atento, pois, apesar da aplicação eventualmente estar com uma taxa de juros maior, o poder de compra está menor, devido ao aumento da inflação. Então, é importante fazer essa conta e avaliar se existe ganho real nesse tipo de aplicação.

Renda Variável

Com o dólar inflacionando a economia, a bolsa de valores tem oscilações importantes. Historicamente, tem sido comum que períodos de alta do dólar correspondam a épocas de queda no desempenho da bolsa.

As empresas exportadoras têm melhores perspectivas de resultados, logo, suas ações tendem a se valorizar. Em contrapartida, as empresas importadoras têm queda de receita e, portanto, podem apresentar desvalorização no preço das ações. Mas, essa é uma análise superficial e que leva em conta apenas o impacto direto e imediato da alta do dólar.

Para investir em ações, obviamente, você tem que considerar muitas outras informações sobre a saúde financeira das empresas. Assim, você poderá, inclusive, encontrar boas oportunidades para comprar ações de empresas sólidas e que estejam num momento de baixa.