Eduardo Mira é o especialista em renda variável da Me Poupe!. Professor e investidor há mais de 20 anos, é analista CNPI-T e especialista em finanças e investimentos, com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em gestão de investimento e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Também tem passagem por banco e corretora de investimentos.

Ele escreve mensalmente, às sextas-feiras.

Eduardo Mira

Renda fixa ou variável? O que escolher com a inflação em alta

Não existe um investimento ideal, o mantra do Professor Mira é: “a diversificação é sua melhor amiga”

Diversificar os investimentos proporciona mais segurança e ajuda o investidor a entender o mercado de forma abrangente. (Foto: Olivier Le Moal/Shutterstock)
  • A inflação subindo reduz o seu poder de compra. Por isso, mais do que nunca é necessário ter disciplina e planejamento tanto nos gastos, quanto nos investimentos.
  • Como eu sempre digo, não existe um investimento melhor ou pior. O que existe é o investimento mais adequado às suas metas pessoais.
  • Você precisa fazer comparações para poder entender o potencial de rendimento de cada tipo de investimento e escolher aquele que te dá a rentabilidade que você precisa para atingir suas metas dentro de um determinado intervalo de tempo.

Já cansou de ouvir falar em aumento de preços? Pois é, o tema inflação tem sido recorrente nos últimos meses. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dos 377 itens que compõem a cesta de consumo medida pelo IPCA, 271 tiveram reajuste em agosto.

Sendo assim, a taxa de inflação que vinha sendo puxada principalmente por itens de alimentação, energia elétrica e combustíveis agora sofre influência mais ampla de vários outros itens. Isso acontece, entre outros motivos, devido a um efeito em cadeia.

Custos com energia elétrica e combustíveis, por exemplo, são comuns ao ecossistema de bens e serviços como um todo. Então, a alta de preços nessas duas categorias acaba causando um “efeito dominó”.

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É claro que este não é o único motivo da alta da inflação, mas tem um peso bem relevante.

E você sabe: a inflação subindo reduz o seu poder de compra. Por isso, mais do que nunca é necessário ter disciplina e planejamento tanto nos gastos quanto nos investimentos.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) ocorrerá nos dias 21 e 22 de setembro, e a expectativa é que a taxa básica da economia, a Selic, seja elevada em mais 1 ponto percentual, chegando a 6,25%. Esta medida faz parte da política monetária do Banco Central para controlar a inflação.

Nesse cenário, qual o melhor tipo de investimento?

Toda vez que a Selic sobe, eu recebo milhares de mensagens perguntando se é melhor investir em renda fixa ou em renda variável. E minha resposta pra você e todo o mundo é: depende.

Como eu sempre digo, não existe um investimento melhor ou pior. O que existe é o investimento mais adequado às suas metas pessoais. Além disso, não existe um investimento ideal. Anota e decora o mantra do Professor Mira: “a diversificação é sua melhor amiga”.

A primeira coisa a entender é que a taxa Selic flutua ao longo do tempo. Ela já esteve em patamares em torno de 40% nos anos de 1990 e de lá pra cá caiu bastante.

Se você pegar um momento específico da economia, por exemplo, 2015-2016, quando a Selic chegou a 14,25% ao ano, certamente verá que os investimentos em renda fixa foram melhores do que a renda variável.

Contudo, se sua comparação for de 2017 em diante, quando a Selic caiu sistematicamente, o resultado será exatamente o inverso: a renda variável foi melhor.

Por isso que sua escolha de investimentos precisa estar alinhada primeiramente com os seus objetivos e com sua capacidade de fazer aportes, só depois vem o resto.

Como a inflação interfere no rendimento das aplicações?

Toda segunda-feira, o Banco Central divulga o Boletim Focus. Inclusive, no meu Instagram eu comento semanalmente a publicação em linguagem simples para que você possa compreender o que está acontecendo na economia.

No Boletim Focus, podemos ver a projeção futura da taxa Selic, e esta referência é muito importante.

Em todas as projeções divulgadas ao longo de 2021, não temos projeções de Selic voltando a patamares de 10% ou mais. A expectativa até 2024 é de uma Selic em torno de 6,5% ao ano.

Então, para começar a avaliar Selic e comparar renda fixa e renda variável, a primeira coisa é saber que a Selic oscila dentro dos ciclos econômicos.

Você precisa fazer comparações para poder entender o potencial de rendimento de cada tipo de investimento e escolher aquele que te dá a rentabilidade que precisa para atingir suas metas dentro de um determinado intervalo de tempo.

Como escolher os investimentos?

Além de entender como a taxa básica de juros interfere nas rentabilidades, também é fundamental você se conhecer e saber até onde consegue lidar com riscos e volatilidade.

De nada adianta ter o investimento com a melhor rentabilidade, mas ficar sem dormir cada vez que houver oscilações.

Esta semana, eu fiz um podcast com um grande gestor de fundo de investimento. Ele disse uma coisa muito interessante e que serve até mesmo para o investidor iniciante: gestão de investimentos é 70% controle emocional e 30% técnica. Como eu disse, você precisa conhecer seu perfil emocional e o quanto você aguenta ver o seu dinheiro oscilando.

Afinal, investir quando você está só ganhando é simples! Mas nenhum investimento varia pra cima o tempo todo, seja ele de renda fixa ou de renda variável.

Como vimos, a renda fixa chegou a render mais de 14% ao ano num passado recente. Por outro lado, no mesmo período em que ela estava nesses patamares, inúmeras ações da bolsa subiram mais de 40%. Mesmo assim, isso não pode ser a referência para você definir qual investimento é melhor.

Bolsa de valores tem volatilidade o tempo todo, com influência de inúmeros motivos.

Uma dica importante é que você atente ao prazo do investimento. Esta é uma variável muito importante na hora de você definir qual o investimento certo para a sua necessidade.

Se o dinheiro que você tem para investir será usado no curto prazo, o ideal, neste caso, é a renda fixa. Isso vai evitar que o dinheiro sofra variações pra baixo e, exatamente no momento em que você for precisar dele, coincidir de o montante ser menor do que o valor que você precisa.

Renda variável não serve para o curto prazo. Esta modalidade é indicada para médio e longo prazo.

Mas, se a sua pergunta é: “onde eu ganho mais dinheiro, na renda fixa ou na renda variável?”, com certeza é na renda variável.

No longo prazo, nenhum investimento cresce mais do que a renda variável. Então, se o objetivo é valorização do seu patrimônio, o foco deve ser na renda variável.

E qual o perfil de investidor para renda fixa ou para renda variável?

A renda fixa é interessante para quem tem perfil mais conservador, e a renda variável, para investidores arrojados. Porém, eu gosto de reforçar sempre: a sua meta é muito mais importante do que o seu perfil.

Por exemplo, se você tem pouco capital e precisa que ele cresça muito, você tem que investir em renda variável, pois será a única forma de você atingir a meta que precisa.

E quando eu digo isso muita gente me responde que é conservadora e que tem medo dos riscos da renda variável. Se este é o seu caso, há duas alternativas: estudar para perder o medo e mudar seu perfil, ou mudar sua meta.

Outra pergunta muito comum: devo investir só em renda fixa ou só em renda variável?

De novo eu digo: depende! Se a sua meta é algo que o rendimento da renda fixa vai te proporcionar atingir, não há nada errado em ficar somente nela.

Por exemplo: se um CDB de dois anos, que rende 6% ao ano, vai te dar ao final desse prazo o valor que você precisa, a renda fixa será um bom investimento para você.

Mas, reforço o mantra do início deste artigo: a diversificação é sua melhor amiga.

É bastante saudável que você calcule percentuais e distribua seus investimentos entre renda fixa e renda variável. Lembrando que quanto mais renda fixa, menos risco, menos volatilidade e menor o rendimento total da carteira. Ao contrário, quanto mais renda variável, maior o risco, maior a volatilidade e maior o rendimento.

Dá pra investir em renda variável mesmo com a alta da Selic?

Sim, com certeza. Como eu disse, a Selic é a taxa básica de juros que influencia toda a economia.

As ações de bancos, por exemplo, refletem muito os efeitos da Selic na economia.

Se a Selic sobe, os bancos emprestam dinheiro mais caro. Ao fazer isso, os lucros são maiores e, consequentemente, suas ações irão subir.

Além dos bancos, os fundos imobiliários podem se valorizar com a alta da Selic. Os fundos de papel, que têm em sua carteira títulos com rendimentos atrelados ao CDI, se beneficiam com a alta da Selic.

Ao obter melhores resultados, pagarão dividendos maiores e terão o valor de sua cota também valorizado.

Estes são apenas dois exemplos. Percebe como você consegue aproveitar a alta da Selic escolhendo investimentos de renda variável que sejam influenciados por ela?

Mas é claro que se a Selic cair esses ativos também são impactados para baixo.

Em resumo, renda fixa e renda variável são igualmente viáveis. O ideal é buscar diversificar entre as duas modalidades, tendo como principais critérios não o que tem maior rendimento, mas sim, uma distribuição proporcional de seu dinheiro entre ambas.

Faça isso tendo clareza quanto ao tempo e montante de grana que você precisará para cada uma de suas metas. Assim você terá tranquilidade e fará melhores escolhas.