Eduardo Mira é o especialista em renda variável da Me Poupe!. Professor e investidor há mais de 20 anos, é analista CNPI-T e especialista em finanças e investimentos, com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em gestão de investimento e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Também tem passagem por banco e corretora de investimentos.

Ele escreve mensalmente, às sextas-feiras.

Eduardo Mira

Quem ganha e quem perde com o aumento da Selic

Se engana quem pensa que taxa alta é totalmente positivo para quem tem dinheiro na renda fixa

(Fonte: Rafastock/Shutterstock/reprodução)
  • É importante lembrar que a Selic é um instrumento da política monetária utilizado para conter a inflação. Sendo assim, ao mesmo tempo que você está ganhando uma taxa de juros maior nos seus investimentos de renda fixa, a inflação também está mais alta
  • Apesar da sinalização do governo quanto à priorização da agenda de reformas, o calendário eleitoral tende a dificultar esse trâmite. Com isso, a Selic continua sendo o remédio amargo disponível para o Banco Central conseguir trazer os índices de inflação para dentro da meta

A Taxa Selic subiu para 10,75% na primeira reunião realizada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM) este ano. O aumento está em linha com a expectativa do mercado.

Este foi o oitavo aumento consecutivo da Selic, e a primeira vez que a taxa chega a dois dígitos em quatro anos.

É comum que as pessoas que têm dinheiro na renda fixa tendam a pensar que Selic alta é algo positivo. Contudo, é um tanto ilusório pensar assim.

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É importante lembrar que a Selic é um instrumento da política monetária utilizado para conter a inflação. Sendo assim, ao mesmo tempo que você está ganhando uma taxa de juros maior nos seus investimentos de renda fixa, a inflação também está mais alta, corroendo seu poder de compra.

O Brasil tem sérias questões fiscais e tributárias que demandam reformas estruturais. Apesar da sinalização do governo quanto à priorização da agenda de reformas, o calendário eleitoral tende a dificultar esse trâmite. Com isso, a Selic continua sendo o remédio amargo disponível para o Banco Central conseguir trazer os índices de inflação para dentro da meta.

Por que a Selic é um remédio amargo?

A Selic é a taxa básica de juros da economia, e funciona como um indexador que baliza todas as demais taxas: empréstimos, financiamentos, juros do cheque especial e cartões de crédito, títulos públicos federais, remuneração dos investimentos em renda fixa, etc.

A subida da Selic torna o crédito mais caro tanto para empresas quanto para pessoas físicas. Com isso, temos a redução da demanda por bens e serviços. Os preços caem e a inflação diminui.

Ocorre, entretanto, que no atual cenário nossa taxa de desemprego continua muito elevada – 11,6%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e a inflação atual não decorre do crescimento do consumo, mas sim do aumento dos custos de produção.

Dessa forma, o Banco Central ter que lançar mão de um instrumento que desacelera a economia justamente num momento em que ela precisaria ganhar tração é o que torna o remédio mais amargo do que de costume.

Quem ganha com a alta da Selic? 

O aumento da Selic é positiva para os bancos que poderão obter maior spread em operações de crédito. Spread é a diferença entre a taxa que o banco paga pegar dinheiro emprestado (por exemplo, através da emissão de CDBs) e a taxa que ele cobra para emprestar esse dinheiro.

Com o aumento dos lucros dos bancos, suas ações tendem a se valorizar, o que é positivo para as companhias do segmento e também para seus acionistas, que terão valorização do patrimônio e receberão dividendos maiores.

O mesmo se aplica às seguradoras. Elas investem em títulos de renda fixa com liquidez diária, pois precisam ter o dinheiro à mão para pagar indenizações dos segurados.

Com o aumento da rentabilidade da renda fixa, essas aplicações financeiras gerarão melhores resultados às seguradoras que também terão suas ações valorizadas no mercado.

Quem perde com a alta da Selic? 

Empresas com alto endividamento tendem a apresentar resultados piores, pois terão maior desembolso de caixa com os custos da dívida.

Segmentos de mercado que já estejam trabalhando com margens muito baixas, como costuma ser o caso das varejistas, também devem enfrentar desafios maiores para gerar lucro em cenário de Selic alta, já que o consumo tende a diminuir ainda mais.

Com o custo dos financiamentos imobiliários ficando mais altos, o setor da construção civil também deve sofrer desaceleração.

O que o pequeno investidor deve fazer ?

Para não perder com a alta da Selic, você deve fazer exatamente o em qualquer outro cenário: manter o balanceamento e a diversificação da sua carteira.

Por mais que os investimentos em renda fixa estejam oferecendo prêmios atrativos, você não deve alocar seus investimentos com base apenas em uma fotografia momentânea e nem tampouco concentrar seus recursos em apenas uma modalidade de investimento.

A economia é cíclica, portanto, aceite que não existe um investimento ideal. Seu foco deve estar em gerenciar o risco com uma diversificação que garanta o equilíbrio e proteção de sua carteira.

Em todos os ciclos há os investimentos que estão mais favoráveis ao investidor. No atual momento, por exemplo, ativos com rentabilidade atrelada ao CDI estão remunerando muito bem e tendem a seguir assim ao longo no ano, pois conforme o Boletim Focus de 31 de janeiro, 2022 deve encerrar com Selic em 11,75% e inflação de 5,45%.

No entanto, isso não significa que você deva simplesmente investir todo seu dinheiro em títulos atrelados ao CDI. Como eu disse, a diversificação é que garantirá uma carteira saudável a médio e longo prazo.

Abaixo, eu listei os passos básicos que você deve seguir para começar a estruturar seus investimentos para não ficar à mercê dos acontecimentos da economia:

  1. Defina suas metas com prazos para alcançar cada uma delas
  2. Precifique o valor financeiro de cada meta
  3. Identifique quais investimentos cujo prazo e rentabilidade são compatíveis com cada uma de suas metas
  4. Distribua o dinheiro que você tem para investir de forma proporcional dentro das classes de ativos que você identificou
  5. Defina um valor mínimo mensal realista que você consiga aportar e mantenha esta disciplina
  6. Revise pelo menos a cada 3 meses sua carteira para verificar se as rentabilidades em cada classe de ativos não fez com que algum deles ficasse acima de sua meta de alocação. Se for ocaso, redistribua os recursos, pois a meta é manter a carteira dentro dos percentuais definidos para renda fixa e renda variável.

Seguindo esses passos iniciais, e mantendo uma disciplina regular de aportes, os juros compostos farão o resto e, no longo prazo, você terá excelentes resultados, independente da Selic.