O que este conteúdo fez por você?
- O Brasil tem a segunda maior taxa de pobreza do G20, abaixo apenas da Índia, conforme divulgado este ano pelo IBGE
- São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes capitais possuem a maior parte dos projetos de educação financeira do País
- Os projetos sociais de educação financeira mostram que os indivíduos e a comunidade devidamente organizada são os motores do desenvolvimento de um país
É fato que o Brasil avançou significativamente em relação à educação financeira nos últimos anos, com a democratização da internet, o boom de influenciadores financeiros e a chegada do novo ensino médio, que em muitas escolas conta com aulas sobre finanças. Mas ainda há muito o que caminhar para alcançarmos um patamar satisfatório.
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De acordo com dados do Serasa divulgados em maio deste ano, 72,54 milhões de brasileiros ainda têm algum nível de inadimplência – cerca de 35% da população. Em adicional, temos a segunda maior taxa de pobreza do G20, abaixo apenas da Índia, conforme divulgado este ano pelo IBGE, o que deixa tudo ainda mais desafiador.
Como gosto de falar: educação financeira não é só não ter dívida, mas ter uma vida digna e que nos permita sonhar. O único caminho para combater a pobreza é pela educação, pelo aconselhamento profissional e, de mãos dadas, pela disseminação do conhecimento sobre finanças.
Como ampliar a educação financeira no Brasil?
Neste mês de julho, tenho visitado algumas regiões da Paraíba a convite do Instituto Presbiteriano Mackenzie, um dos apoiadores da Multiplicando Sonhos, e entendido melhor sobre a necessidade de expandirmos a educação financeira para além dos grandes centros.
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São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes capitais, apesar de ainda terem muito espaço para melhora, possuem a maior parte dos projetos de educação financeira do País. Precisamos, agora, o quanto antes, chegar ao interior. E em estados mais pobres, onde as perspectivas de mobilidade social tendem a ser ainda menores.
Apesar da internet – que, como sabemos, não chega ainda a todas as pessoas – possibilitar que uma pessoa do sertão nordestino assista a um vídeo sobre educação financeira gravado em São Paulo, nem sempre a comunicação vai ser efetiva.
A forma como lidamos com o dinheiro é moldada pela sociedade em que estamos inseridos e se a pessoa de São Paulo fala de uma realidade financeira totalmente desconectada da experiência de vida da pessoa do sertão, a mensagem não é absorvida.
Aqui em Serra Branca, no interior da Paraíba, cidade onde estou atualmente, as pessoas praticamente não utilizam pix, por exemplo. A internet não é de boa qualidade e o tom da população é de desconfiança sobre o método financeiro mais tecnológico que temos hoje.
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Então, como mudar essa e outras perspectivas? Com informação contextualizada e conectada com a realidade local. Mostrando que finanças pessoais são assunto para todos de verdade, e não só para quem tem muito dinheiro ou vive em determinado contexto, metropolitano.
Para o reverendo Robinson Grangeiro Monteiro, chanceler do Instituto Presbiteriano Mackenzie, é preciso que os governos e a população entendam que “a liberdade econômica advinda de uma boa educação financeira é fundamental para o exercício da cidadania”.
Conversei com ele, que tem uma vasta experiência em projetos sociais e agora foca em programas voltados para a expansão da educação financeira pelo País. Confira algumas de suas visões sobre o assunto:
Reverendo, qual é o impacto de projetos sociais de educação financeira na vida de jovens e para a economia do país?
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A mentalidade ainda vigente na cultura brasileira é cartorial e dependente do Estado. Para muitos, o sonho é uma carreira no serviço público, que certamente é honrada, mas não permite o desenvolvimento do potencial humano em empreender, gerar riqueza e desenvolvimento, promover oportunidades de emprego, renda etc.
Por isso, ter projetos sociais de educação financeira é garantir para jovens de todos os segmentos, mas especialmente da periferia, os que estão em situação de vulnerabilidade social, a descoberta de que os indivíduos e a comunidade devidamente organizada são os motores do desenvolvimento de um país.
Mais empreendedores com liberdade econômica e bem educados financeiramente podem mudar a cultura das novas gerações, fazendo-os depender menos dos programas sociais do governo, cujo dinheiro investido é gerado por empreendedores e pagadores de impostos, mas sim promover a sua própria independência.
Como chegar a quem precisa e furar a bolha dos grandes centros?
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Acredito que uma boa contribuição para chegar a quem precisa são iniciativas extensionistas no ensino superior e de projetos de vida no ensino médio voltadas para áreas específicas, com o objetivo de promover impacto social sustentável e desenvolvimento das regiões que mais precisam, como fazemos aqui no Mackenzie com o Amazon Vida, voltado para os ribeirinhos amazônicos, e o Nordeste Vida, no interior da daquela região.
O voluntariado é muito importante. Ver professores em equipes multidisciplinares, tanto dos colégios, como da universidade, junto a colaboradores e alunos, todos voluntários, dedicando parte de suas férias para atuar, levantar dados, analisar as necessidades e propor programas de atuação permanente no Cariri da Paraíba, a região menos desenvolvida do estado, é um bom exemplo.
Como a filantropia deve olhar hoje para ações e iniciativas assistenciais e educacionais?
A metáfora de dar o peixe e, ao mesmo tempo, ensinar a pescar é por demais conhecida. Há necessidades urgentes e demandas inadiáveis. Fome não pode esperar e oportunidades de assistir batem à nossa porta diariamente.
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Porém, enquanto se compartilha o pão, o abraço e o acolhimento, é preciso educar, fazer articulações das diversas áreas de conhecimento e formação dos parceiros externos no mercado e com os entes públicos, para propor ações sustentáveis a médio e longo prazo.
Precisamos fazer mais do mesmo e mais do que o mesmo, que outros programas de filantropia têm feito no país ao longo dos anos, para cumprir a legislação (que em teoria garante condições dignas de vida a todos os brasileiros).