- Ao contrário das altcoins, que são muitas vezes projetos experimentais, o Bitcoin evoluiu e se estabeleceu como um ativo robusto e confiável
- O Bitcoin surgiu como uma resposta à crise financeira de 2008, um dinheiro eletrônico que reagisse à emissão desenfreada de dinheiro
- O Bitcoin representa uma transformação na maneira como pensamos o dinheiro e as transações financeiras
Recentemente foi ao ar uma discussão sobre o Bitcoin no canal Market Makers, do qual sou ouvinte assíduo. O debate foi realizado por Tiago Reis, fundador da Suno e crítico de cripto, e Richard Rytenband, fundador da Convex Research, além de estudioso e defensor de ativos digitais. A conversa aconteceu de forma bastante acalorada, rendendo, inclusive, momentos divertidos, e três pontos que precisam de um belo aprofundamento.
Possível fadiga de investidores devido ao desaparecimento de altcoins
Tiago começou o papo destacando que mais de 20 mil moedas digitais “viraram pó” até 2021. Para ele, isso é a prova definitiva de que “cripto é perigoso” e, portanto, os investidores devem passar longe desse mercado. Ok, se é assim, vamos também parar de investir em empresas, certo? Afinal, a mortalidade de CNPJs no Brasil é massiva: 48% das novas empresas fecham as portas em até três anos. Seguindo essa lógica, investir no mercado tradicional é loucura também, melhor evitarmos. Essa perspectiva parece muito mais uma narrativa de cherry picking do que uma análise bem fundamentada.
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É verdade, existem muitos projetos inovadores que nascem no espaço cripto e, eventualmente, desaparecem. Assim como startups, eles surgem com uma promessa de revolução, mas nem sempre conseguem entregar. Isso é normal em um ambiente de inovação acelerada, em que o risco é parte do jogo. Porém, o Bitcoin não segue esse ciclo de vida breve. O Bitcoin é a blue chip do mercado cripto.
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Com mais de uma década de existência, ele não apenas sobreviveu, mas prosperou, resistindo a crises financeiras, regulações globais, uma pandemia, inflação, mudanças em taxas de juros, evolução dos chips, inteligência artificial… Ao contrário das altcoins, que são muitas vezes projetos experimentais, o Bitcoin evoluiu e se estabeleceu como um ativo robusto e confiável.
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Agora, falando dos maiores detentores de Bitcoin, a conversa fica ainda mais interessante. Anteriormente somente os players nativos em cripto apareciam nessa lista. Mas agora grandes players institucionais, como BlackRock e Fidelity, estão acumulando posições significativas em Bitcoin, fruto da alocação dos seus clientes no ETFs lançados no começo do ano. Vale destacar que a Fidelity, inclusive, começou a recomendar uma alocação entre 1% e 3% para seus clientes.
Bitcoin não ser amplamente utilizado para pagamentos cotidianos
Ah, Satoshi… Sinceramente, quem teve a brilhante ideia de chamar isso de “cryptocurrency”? Péssima escolha. Aí as pessoas ficam com esse fetiche de querer usar o Bitcoin como moeda de troca para comprar um café ou pagar o táxi. Vamos ser sinceros, quem quer gastar um ativo que pode se valorizar absurdamente no futuro? Eu, particularmente, prefiro pagar o café com reais, que estão perdendo valor todos os dias com a inflação, e guardar meu Bitcoin para quando ele valer ainda mais.
Claro, tecnicamente você pode pagar por serviços com Bitcoin. Existe infraestrutura para isso. No Mercado Bitcoin, já estamos testando nosso cartão Mastercard que permitirá que você pague não só com Bitcoin, mas potencialmente com qualquer ativo digital que possua em carteira. Entretanto, não é para isso que o Bitcoin foi pensado. Ele surgiu como uma resposta à crise financeira de 2008, um dinheiro eletrônico que reagisse à emissão desenfreada de dinheiro, um ativo com inflação conhecida e controlada. Não é porque é possível fazer pagamentos que a gente precisa usar no dia a dia. Por favor, parem.
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Necessidade de encontrar alguém disposto a pagar mais no futuro
Uma das afirmações mais reforçadas durante a conversa foi a de que para ter sucesso com investimentos em cripto é necessário encontrar alguém disposto a pagar um valor maior pelo ativo no futuro. Na verdade, era uma tentativa equivocada de enquadrar o investimento em cripto na “Teoria do Último Tolo”. Esse é um conceito econômico que sugere que os preços de certos ativos podem continuar subindo somente enquanto houver alguém disposto a pagar mais do que o comprador anterior, independentemente do valor fundamental do ativo, até que eventualmente não haja mais compradores e o preço entre em colapso.
Pois bem, esse é um dos argumentos que eu mais gosto de debater, e sempre levando para o campo de jogo do investimento em ações. Vejam: existem muitas oportunidades de investimento além das empresas listadas em bolsa – e são, na verdade, as grandes oportunidades. Quem está investindo apenas em empresas listadas já perdeu boa parte da valorização que ocorre nas etapas anteriores. As oportunidades que realmente multiplicam o capital dos investidores por 5, 10 ou até 100 vezes estão justamente no período anterior à abertura de capital, na fase das startups, em que a inovação está em seu auge e a valorização potencial é estratosférica.
Exatamente! Quem investe apenas em empresas já listadas perde o verdadeiro potencial de multiplicação que acontece nos primeiros estágios de uma empresa. Existe, hoje, uma lacuna a ser preenchida: temos grandes empreendedores buscando capital, mas também temos investidores dispostos a tomar mais risco financiando esses empreendedores. Segundo uma pesquisa que fizemos no MB Startups, braço de renda variável digital do MB, um dos principais fatores que inibem esse tipo de investimento no Brasil é justamente a falta de educação sobre as fases pelas quais essas empresas passam. Vou fazer um breve resumo.
- Pré-seed: Essa é a fase mais inicial. A startup geralmente está no estágio de ideação, quando ainda não tem um produto pronto ou, se tem, está testando no mercado. O investimento aqui serve para tirar a ideia do papel. Investidores dessa fase assumem o maior risco, mas também podem colher os maiores retornos. No mundo cripto, também temos projetos que procuram captar recursos antes de terem uma linha de código escrita. É levantar dinheiro com uma ideia no papel.
- Seed: Nesta fase, a empresa já tem um produto minimamente viável, o chamado MVP, e está começando a testá-lo no mercado. O capital é necessário para validar a ideia, aprimorar o produto e ganhar seus primeiros clientes. Investidores que entram aqui estão apostando que a startup encontrará o tal “product market fit”, que seu produto de fato encontrará eco e conseguirá os primeiros clientes.
- Série A: Aqui, a empresa já tem um produto comprovado e um número de usuários. O foco agora é escalar, expandir o marketing e vendas, e aumentar rapidamente a base de clientes. Investidores Série A estão buscando startups que já tenham superado a fase de risco mais significativo e estão prontas para crescer.
- Séries B, C e além: Nessas fases, a startup já atingiu uma certa tração e está em pleno crescimento. O capital levantado será utilizado para expandir geograficamente, aumentar a equipe e consolidar a posição no mercado. Aqui, o risco é menor, mas o retorno potencial também diminui em comparação às fases iniciais.
- Abertura de capital (IPO): essa fase é mais conhecida dos investidores em geral, que é quando eles de fato acabam tendo acesso ao investimento. Mas vejam quanta coisa se passou desde o começo da jornada!
Em cada uma dessas fases é comum que investidores das fases iniciais possam vender sua participação ou exatamente o oposto, aumentar a sua participação. Alguns investidores só se interessam por empresas nos estágios seed e pré-seed, outros se especializam nas Séries A e B, outros, ainda, gostam de entrar no estágio anterior ao IPO, justamente para levar a empresa a esse momento.
Notem que esses investidores precisam encontrar exatamente o objeto da crítica no caso do Bitcoin ou outras criptomoedas: um investidor disposto a pagar um valor maior por aquele ativo. É por isso que acredito que essa analogia, que compara o investimento em cripto ao investimento em startups, é bastante ilustrativa e nos ajuda a compreender a dinâmica.
Fique à frente da curva!
No fim das contas, o Bitcoin é muito mais do que apenas um ativo digital. Ele representa uma transformação na maneira como pensamos o dinheiro e as transações financeiras. Críticas como as do podcast, que focam na volatilidade e no uso diário para comprar café ou pagar o táxi, falham em entender o verdadeiro papel que o Bitcoin e os ativos digitais já desempenham e continuarão desempenhando cada vez mais no mercado financeiro e de capitais. Assim como os grandes investidores que apostam em startups antes do IPO, quem está à frente da curva no Bitcoin tem tido a chance de colher frutos extraordinários.
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Portanto, é hora de abandonar as ideias preconceituosas e desinformadas. Assim como o mercado de ações foi por muito tempo visto como um jogo ou aposta arriscada — e ainda combatemos esse estigma —, não podemos permitir que visões distorcidas sobre o universo cripto dominem o discurso. Informe-se, ouça, leia e, principalmente, debata. Compre ou venda (alguém tem coragem de ficar “short”?), mas, acima de tudo, mantenha a mente aberta para um mundo que está em plena revolução. Parafraseando Roberto Campos Neto: “estamos migrando para uma economia tokenizada”, e entender a essência dos ativos digitais, como o Bitcoin, é crucial para acompanharmos a transformação do futuro.