Falar de wallets, seeds ou maravilhas da blockchain não move a agulha; o que importa é se o Bitcoin resolve dores concretas do portfólio.
E aqui vai a virada de chave: não é o Bitcoin que precisa de você; é você que precisa do Bitcoin. Pela escassez programada, pela neutralidade política e por permitir carregar valor de forma aberta e sem fronteiras. O resto é detalhe.
Mito 1: Bitcoin é “moedinha de café”
Um erro recorrente é tratá-lo como “dinheiro de internet” para bugigangas e cafezinho. Sim, o whitepaper fala em meio de pagamento; o mercado mostrou outra coisa. Para o investidor, importa a função de reserva: ativo escasso, neutro, não confiscável. O rótulo “criptomoeda” desviou o foco.
Para o dia a dia, no Brasil, o Pix resolve; para o longo prazo, Bitcoin. E convenhamos: gastar um ativo de oferta finita e potencial de apreciação no café é trocar opcionalidade por troco. Você, investidor de ações, pagaria um expresso com a ação em que vê potencial de 3x? Não, né?
Aliás, quase toda inovação relevante muda de vocação no caminho. O GPS nasceu militar e virou infraestrutura civil; a internet saiu de laboratórios e reconfigurou a economia. Com o Bitcoin, é a mesma curva: tecnicamente dá para pagar o café, mas o valor está em outra camada.
Nascido no pós-2008, ele amadureceu como proteção contra diluição monetária, com oferta finita, regras previsíveis, independência de governos; e como alternativa para diversificar risco soberano com acesso a liquidez global. Para o café, Pix. Patrimônio, Bitcoin.
Mito 2: Moedas fiduciárias preservam o poder de compra
Se há algo que todo investidor entende é a necessidade de blindar o patrimônio contra a inflação e a erosão do poder de compra. Moedas fiduciárias, mesmo bem administradas, perdem valor no tempo.
Exemplo didático: desde 1913, quando o Fed foi criado, o dólar perdeu cerca de 97% do poder de compra. Ou seja, US$ 1,00 de 1913 compra algo em torno de US$ 32,50 hoje, segundo ajustando pelo CPI.
No Brasil, do lançamento do Real em 1994 até hoje, o IPCA acumulou mais de 700%. Ou seja, os preços multiplicaram por 8. Em termos práticos, R$ 100 de 1994 exigem R$ 800 hoje para comprar o mesmo, ou, ao contrário, R$ 100 de hoje compram o que R$ 12 compravam em 1994.
Mito 3: Se não paga juros/dividendos, não serve.
Deixar riqueza parada em moeda corrente é assistir, ano após ano, silenciosamente, ao patrimônio encolher. Nesse contexto, o Bitcoin se coloca como um “ouro digital”: não paga juros nem dividendos assim como o ouro físico. Seu apelo é preservar poder de compra no tempo.
Com oferta limitada a 21 milhões e um regime monetário programado, ele institui a escassez digital, exatamente o oposto das moedas fiduciárias, estruturalmente inflacionadas por design, para atender às necessidades da política monetária dos países.
Em economias com histórico de inflação e choques cambiais, como a brasileira, isso pesa. O Plano Real trouxe estabilidade, mas não eliminou a corrosão gradual do poder de compra. Não por acaso, cresce a leitura do Bitcoin como proteção (“hedge”) contra a desvalorização das moedas locais no longo prazo.
Mito 4: Bitcoin é “moeda de videogame”, sem validação.
Mesmo quem torce o nariz reconhece o básico: ativos reais blindam riqueza. Imóveis, ações, ouro e, agora, Bitcoin, cumprem esse papel. A virada está no selo institucional: Larry Fink, da BlackRock, já chama o Bitcoin de “ouro digital” e chegou a dizer que ele pode ser um hedge contra desvalorização de moeda.
Não é “moeda de videogame”; é um ativo que o mercado tradicional está aprendendo a respeitar, vide os ETFs à vista aprovados nos EUA há mais de um ano e a entrada pesada de gestoras e bancos no ecossistema.
Mito 5: A volatilidade inviabiliza a tese
Volatilidade? Existe sim, e assusta. O cético pergunta: “como se proteger da inflação com algo que cai 50% em poucos meses?” A resposta: estamos numa fase de descoberta de preço. Em pouco mais de uma década, o Bitcoin atravessou bolhas, pandemias, mudanças regulatórias e ciclos de juros, e seguiu de pé.
A própria análise de casas tradicionais mostra que a volatilidade é alta, mas declinante ao longo do tempo; o ponto é gerenciamento de tamanho de posição e horizonte. Hoje a vol do Bitcoin é cerca de 3x a vol do S&P 500. Mas estamos comparando um ativo com uma cesta. Em alguns momentos, as ações da Nvidia tiveram volatilidade superior ao BTC, e está tudo bem com isso.
Mito 6: Incluir Bitcoin – ou qualquer ativo de risco – só aumenta o risco
Diversificação é onde o cético costuma mudar de ideia. Carteira boa não é a que acerta o topo; é a que aguenta o tranco. E ativos “fora do sistema” ajudam. Bitcoin tem correlação variável com ações e renda fixa, mas o suficiente para funcionar como alternativo.
Backtests recentes da Fidelity indicam que incluir 1%, 3% e 5% de Bitcoin num 60/40 teria melhorado o retorno ajustado ao risco entre 2020 e 2024 — no cenário testado, um acréscimo de até 40% no Sharpe com 5%. É o famoso “um pouquinho já faz diferença”.
Mito 7: “Cheguei tarde, o bonde passou.”
Com US$ 2 trilhões de valor de mercado, o Bitcoin já é relevante, mas ainda é pequeno perto dos grandes oceanos de capital: equivale a apenas 1,6% das ações globais, 10% do ouro acima do solo e somente 0,5% do mercado imobiliário mundial.
Em outras palavras: já dá para notar, mas há muito espaço de adoção pela frente, algo que vai acelerar a cada inovação regulatória, de acesso ou interface para reduzir a fricção e facilitar a vida dos investidores, sejam eles indivíduos, instituições ou até mesmo governos.
Mito 8: Governo pode “desligar” o Bitcoin.
“E se o governo proibir?” O histórico joga contra essa tese. Em 2021, a China baniu a mineração; o poder computacional da rede caiu e, meses depois, ela se rearranjou globalmente e recuperou a força. É o efeito da descentralização: não existe “interruptor”. Em vez de banir, a tendência tem sido regular.
Nos EUA, os ETFs de Bitcoin foram aprovados; no Brasil, há lei específica (14.478/2022) e o Banco Central conduziu consultas públicas para regulamentar o setor. O fantasma do banimento global ficou para trás; o movimento agora é aceitar e conviver com esse mundo.
Mito 9: Bitcoin é coisa de bandido.
“Bitcoin é coisa de bandido?” Os dados não sustentam. Em 2024, o volume ilícito estimado foi de ~US$40–51 bi, mas isso representou apenas 0,14% do volume, uma queda frente a 2023 (0,34%). E a ONU estima que a lavagem de dinheiro tradicional gira entre 2% e 5% do PIB global, ordem de grandeza muito maior.
Além disso, blockchain pública deixa rastro: cada vez mais investigações mundo afora – e também no Brasil – rastreiam e bloqueiam fundos ilícitos.
Mito Final: Bitcoin é seita, religião ou vilão
Sim, às vezes os bitcoiners são chatos, monotemáticos, quase uma seita, e isso mais atrapalha do que ajuda. Particularmente eu refuto fortemente esse comportamento. O caminho não é uma conversão instantânea; é gradual. Não é uma virada de chave, é um clique consciente na cabeça de cada um, feito com critério.
Esse é o meu guia para uma alocação consciente
Não é fé nem demonização; é tamanho, processo e prazo.
- Tamanho da posição: pequeno, mas relevante. Algo como 3%–5% já captura a assimetria sem pôr a carteira em risco. Mas um objetivo entre 10% a 20% do portfolio permite vôos ainda mais altos. É onde eu miraria.
- Processo de entrada: volatilidade pede humildade. Prefira compras periódicas ao timing de “comprar barato”. Quanto ao canal, prefiro muito mais comprar diretamente Bitcoin em uma plataforma de ativos digitais nacional como o MB | Mercado Bitcoin do que qualquer outro veículo. Não perder as característica originais, como negociação 24 horas por dia, 7 dias por semana e ter a possibilidade de, a qualquer tempo, se e quando quiser, trazer seus Bitcoins para sua própria guarda é fundamental.
- Teste de sono: se -20% numa semana te tira o sono, a posição está grande demais. Se isso não te tira um minutinho de paz, pode ser que esteja pequena. Ajuste antes que o mercado ajuste por você.
- Horizonte: trate como tese de longo prazo, reserva escassa, adoção crescente, ciclos próprios e não como corrida de curto prazo. Trading é ótimo, mas exige uma dedicação e disciplina que não é para todo mundo. Investir para o longo prazo é para todos.
No fim, não é vender hype; é conectar um ativo novo a dores antigas: corrosão do dinheiro, diversificação, risco político e liquidez. Você não precisa amar o Bitcoin, mas pode respeitá-lo como peça fundamental de uma carteira bem construída.