O que os criptoativos ensinam

Diretor no Mercado Bitcoin desde 2018, Tota tem 23 anos de experiência no mercado financeiro. Agora no universo dos criptoativos, ele une o seu forte background em tecnologia e profundo conhecimento de produtos financeiros para desmistificar o mercado de ativos digitais.

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Fabricio Tota

NFTs de impacto social: arte e tecnologia a serviço de causas urgentes

Projeto inovador traz propósito para mundo das criptos, aliando tecnologia com necessidades reais

As NFTs de Impacto Social reúnem artistas consagrados ou em ascensão em prol de uma causa social ou ambiental | Foto: Envato
  • NFTs são o elemento chave para destravar as infinitas possibilidades da propriedade digital, algo que tem o potencial de fazer com que o conceito de metaverso possa ser explorado totalmente
  • Os NFTs de Impacto Social são uma ideia relativamente simples. De um lado, temos uma causa importante, seja ela social ou ambiental, por exemplo. Do outro, reunimos artistas que aceitaram destinar para a causa parte dos recursos levantados com a venda de suas obras

Quando falamos de NFTs (non-fungible tokens) tenho meus palpites de quais referências vem à mente das pessoas que já olharam minimamente para o assunto. Provavelmente a primeira seja os Bored Apes, os macacos colecionados por gente como Neymar, Eminem e Justin Bieber, que hoje valem no mínimo R$ 1,5 milhões (mas que podem ultrapassar os R$ 7 milhões).

Outra possibilidade é a coleção NBA Top Shot, uma das mais bem sucedidas desse universo, com grandes jogadas de estrelas como LeBron James e Stephen Curry, numa versão tecnológica 3.0 dos cards esportivos tão populares nos EUA. Os mais atentos podem conhecer os Cryptopunks, um dos projetos pioneiros, de 2017. Também cotados acima de R$ 1 milhão, diga-se.

A olho nu, sem o contexto do que está acontecendo, é dinheiro – muito dinheiro mesmo – que aparece. Em geral, milhões gastos com alguma coisa sem valor estético ou cultural para a maioria das pessoas.

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

Tudo isso é verdade e mentira.

Muitos milhões vêm sendo gastos com NFTs de gosto duvidoso, assim como muito já foi gasto com quadros, esculturas e gravuras sem valor artístico algum ao longo da história. E muitos milhões foram parar em obras com inegável valor artístico, como o NFT Everydays: The First 5,000 Days, do americano Beeple.

Não custa repetir, essa obra foi vendida por quase US$ 70 milhões em março do ano passado. Uma das dez maiores vendas de uma obra de arte de um artista vivo. É muito dinheiro mesmo, mas é uma peça incontestavelmente maravilhosa.

Essas opiniões preconcebidas acabam escondendo o mundo de experiências que os NFTs permitem. NFTs são o elemento chave para destravar as infinitas possibilidades da propriedade digital, algo que tem o potencial de fazer com que o conceito de metaverso possa ser explorado totalmente. Além disso, dia após dia novas coleções surgem. A arte generativa, em que cada item é criado a partir de algoritmos, em uma combinação brilhante entre artistas e desenvolvedores, tem sido explorada à exaustão. A cada dia novos projetos surgem – tanto projetos bons quanto projetos ruins.

Aliás, esses são casos até meio batidos. Mas nos últimos meses venho participando de um projeto que me dá muito orgulho: os NFTs de Impacto Social. A ideia é relativamente simples. De um lado, temos uma causa importante, seja ela social ou ambiental, por exemplo. Do outro, reunimos artistas consagrados ou em ascensão que aceitaram destinar para a causa parte dos recursos levantados com a venda de suas obras.

Dentro de um ambiente pujante como o de NFTs, buscamos criar algo que se diferenciasse de tudo que vimos e estudamos. Trazer propósito para algo que ainda busca seu espaço, seu entendimento, aliando tecnologia com necessidades reais, foi nosso grande norte nesse projeto.

Sim, filantropia, o que já foi feito por muitos artistas ou empresas. A diferença é que essas obras são NFTs e estão sendo leiloadas até o dia 15 de fevereiro em um marketplace de NFTs. Com isso, o alcance passa a ser global. Tanto um paulistano quanto uma pessoa em Osaka, no Japão, podem comprar e “levar para casa” a obra.

O primeiro projeto em andamento do marketplace é em prol da causa do Povo Paiter Suruí. Aqueles que acompanharam a COP26 viram a força com que Txai Suruí, uma das líderes do Povo Paiter Suruí, defendeu a necessidade de agir agora contra o aquecimento global. Como ela lembrou no seu discurso em Glasgow, os povos indígenas são os que mais sofrem com as mudanças climáticas, porque dependem diretamente da floresta para viver.

Todos nós sabemos da necessidade de agir para evitar um desastre climático ainda maior do que o que já vivemos. Mas, nas cidades, ao acordar, temos água na pia do banheiro e comida na geladeira, enquanto os povos indígenas enfrentam o aquecimento global no cotidiano delas, com sua floresta diminuindo da noite para o dia.

Não são apenas palavras. Txai e seu povo estão agindo com o seu Projeto de Gestão e Vigilância Territorial do Povo Indígena Paiter Suruí. Para proteger 13 mil hectares de floresta entre os estados de Rondônia e Mato Grosso, área cerca de 30% superior à da cidade de Paris, 30 monitores percorrem o território munidos de GPS e câmeras fotográficas. Em caso de uma invasão ou qualquer outra irregularidade, eles alertam as autoridades. O território é alvo constante de invasões para a extração ilegal de madeira ou simplesmente para transformar floresta em pasto.

Esse projeto tem um custo alto. Aí é que entram os NFTs de artistas como Paula Klien, Moara Tupinambá, Denilson Baniwa e Nelson Porto, que doarão até 95,5% dos ganhos da venda para o Projeto do Povo Paiter Suruí.

O alto custo é compensado por seu benefício imenso: evitar a emissão de 7 milhões de toneladas de CO2 até 2038. Por ano, a cidade de São Paulo, que tem uma área 10 vezes superior e a maior frota de veículos à combustão do Brasil, emite em torno de 12 milhões de toneladas de carbono por ano.

Ao desmatar uma floresta, todos perdem: a temperatura local tende a subir, povos indígenas não conseguem mais viver do extrativismo e árvores cortadas, mesmo não sendo queimadas, produzem gás carbônico. Segundo dados do Observatório do Clima, as três cidades que mais emitem CO2 no Brasil – Porto Velho (RO), São Félix do Xingu e Altamira (ambas no PA) – são justamente as campeãs em desmatamento.

Lá em cima eu disse que venho participando desse projeto há alguns meses. A equipe envolve especialistas das mais diversas áreas: jurídica, artística, desenvolvimento de programa. Um trabalho que passou pela curadoria das obras, que são realmente especiais, contratos, a criação dos tokens, e também educação.

O Povo Paiter Suruí teve a paciência de nos ensinar a importância do seu território, a sua cultura e porque o projeto é importante para eles e o resto da sociedade. Do nosso lado, explicamos como poderíamos usar a tecnologia em prol do projeto. Os artistas entraram com as obras que mais refletem a causa dos povos indígenas. Vale conferir as obras neste link.

Esse é apenas o primeiro projeto de NFT de Impacto Social. Muitas outras causas urgentes ainda serão beneficiadas.