Apostas nas bets (Foto: Joédson Alves / Agência Brasil)
Taxar as apostas esportivas pode parecer uma solução fácil para aumentar a arrecadação, mas é, na verdade, um dos maiores erros que o governo federal poderia cometer. É o famoso “tiro no pé” que, no médio e longo prazo, só piora o problema e transforma a dependência em algo quase impossível de reverter.
Quando o governo começa a arrecadar muito com as bets, cria uma dependência desse dinheiro. E quando depende dessa receita, fica cada vez mais difícil cortar ou até mesmo proibir essa atividade. A conta é simples: quanto mais arrecada, mais difícil é viver sem. E não se iluda: essa dependência fiscal é tão perigosa quanto a dependência de quem aposta em busca de dinheiro fácil.
Enquanto isso, a grana drenada pelas apostas vai parar na mão de meia dúzia de empresários, enquanto destrói a vida de milhares de brasileiros. São histórias de endividamento, vício, violência doméstica e até casos de suicídio, que viraram rotina nas periferias e nos grandes centros urbanos. Não é exagero: é a realidade nua e crua que atinge famílias inteiras, sem distinção de classe ou renda.
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Só para se ter uma ideia, no ano passado, mais de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família mandaram R$ 3 bilhões para essas empresas de apostas. Isso significa que o dinheiro que deveria girar na economia local, movimentar o comércio e ajudar a melhorar a renda das famílias está indo direto para o bolso dos donos de bets. É como se o próprio governo tivesse virado sócio dessa indústria que lucra com o vício alheio.
Esse dinheiro não volta para o mercado real. Ele é drenado para fora do país ou para contas que pouco se preocupam com o desenvolvimento econômico local. Dinheiro que poderia ser investido em saúde, educação, alimentação e qualidade de vida vira lucro para poucos e miséria para muitos.
Se o governo realmente se importasse com a saúde financeira das famílias, investiria em educação financeira de verdade, desde cedo, na escola e em casa. Seria muito mais eficaz ensinar a população a lidar com o dinheiro do que empurrar cada vez mais brasileiros para dentro de um sistema que se alimenta do desespero e da ilusão de enriquecer com apostas. Educação financeira não é só sobre matemática básica ou juros compostos; é sobre criar hábitos saudáveis de consumo e de investimento.
O problema é que, com a regulamentação e a taxação, o governo legitima uma atividade que deveria ter sido proibida desde o início. É como dizer para a população: “Apostem, porque o governo também ganha com isso.” É o atestado de dependência institucional que transforma o Estado em cúmplice de uma tragédia anunciada.
Arrecadação com bets: Estado fica refém da própria decisão
E não para por aí. Quanto maior a arrecadação, maior a dependência. E quanto maior a dependência, menor a coragem de cortar essa fonte de renda. É o ciclo vicioso que faz com que o Estado seja refém da própria decisão. Não é só uma questão fiscal; é uma questão moral que envolve o futuro de milhões de brasileiros.
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Enquanto isso, famílias continuam sendo destruídas. O vício em apostas é um problema real e sério, que vai muito além das estatísticas. São pais de família que perdem tudo, são jovens que abandonam os estudos, são dívidas que viram bola de neve. São vidas despedaçadas em troca de uma arrecadação fácil que jamais deveria ter existido.
Mas parece que, para o governo, isso tudo é apenas um detalhe. Desde que a arrecadação aumente, pouco importa a vida das pessoas que ficam pelo caminho. É como trocar dignidade por imposto. É o preço que pagamos quando o Estado prefere arrecadar em cima da tragédia alheia a investir em soluções reais que mudariam o futuro de quem mais precisa.
O governo deveria ter proibido as bets lá atrás. É dinheiro rápido, mas é dinheiro sujo, que destrói a renda da população e afeta o PIB. E agora? Agora o governo dá mais um passo para institucionalizar o caos. Mais dependente da arrecadação e menos capaz de colocar limites. Vai trocar a dignidade de milhares de famílias por mais alguns bilhões no caixa?
No fim das contas, vale a pena arrecadar tanto assim? Essa é a pergunta que não quer calar.