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OPINIÃO: Mesmo condenado, Bolsonaro pode pesar no seu bolso

Para a política, é o fim de um ciclo que começou com uma ascensão meteórica; para a economia, o início de capítulo ainda mais caro e imprevisível

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Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus estão sendo julgados por tentativa de golpe de Estado. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus estão sendo julgados por tentativa de golpe de Estado. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Trump não perde oportunidade de transformar narrativa em retaliação. Foi assim com o tarifaço, justificado pelo discurso de “caça às bruxas”. A medida não foi só demonstração de força política; foi um aviso claro de que a economia pode ser usada como ferramenta geopolítica.

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Se a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se confirmar, a escalada pode ser ainda maior. Não seria surpresa ver a União Europeia (UE) puxada para o jogo, ampliando o isolamento brasileiro no comércio e reduzindo a margem de manobra da diplomacia econômica.

O tarifaço de 50% já começou a mostrar a conta, e para o governo, isso significa menos arrecadação. Para o investidor, um recado: menos dólares entrando no País aumentam as chances de Brasília recorrer ao atalho de sempre, subir impostos.

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Esse roteiro o Brasil já conhece. Quando as contas não fecham, a fatura vai direto para o contribuinte. O governo Fernando Collor fez isso com o confisco. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2008, elevou Imposto sobre Operações Financeiras (
IOF) para segurar saída de capital. Dilma Rousseff, em plena recessão, aumentou Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre combustíveis.

O padrão é repetido à exaustão: déficit fiscal vira justificativa para mais carga tributária.

Agora o risco é idêntico. O governo liberou R$ 30 bilhões em medidas emergenciais, mas a própria equipe econômica admite: é paliativo. Se a perda nas exportações se consolidar, alguém vai pagar essa conta. E como cortar gastos é politicamente inviável, a alternativa é conhecida: taxar consumo, crédito ou adiar desonerações.

O resultado bate na economia real e resulta em crédito mais caro, consumo em queda e empresas espremidas por margens cada vez menores. O investidor precisa ler o sinal por trás da fumaça.

Se a arrecadação não reagir e os impostos subirem, o Banco Central terá de mudar a estratégia. Inflação pressionada significa menos cortes de juros ou até uma pausa na queda da Selic. Traduzindo: crédito caro por mais tempo e setores dependentes de consumo parados.

Nesse cenário, a renda fixa volta ao centro do jogo. Não por empolgação, mas por sobrevivência. O juro real elevado garante previsibilidade em meio ao caos. Quem tentar acertar o próximo rali da Bolsa corre o risco de se frustrar. Quem proteger patrimônio em ativos defensivos sai na frente.

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E não se trata apenas de comércio com os EUA. O que está em jogo é a credibilidade da política econômica brasileira. Se a resposta ao tarifaço for improvisada, com aumento de tributos e remendos fiscais, o risco-país sobe, o investidor estrangeiro recua e o câmbio piora. O círculo vicioso o brasileiro conhece de cor: inflação mais alta, juros travados e crescimento comprometido.

A mensagem final é direta. Bolsonaro pode ser condenado, mas isso não significa que deixe de ser relevante. Sua presença continua a gerar ruído político, alimentar polarizações e provocar reações em cadeia que impactam o câmbio, os juros e a confiança do investidor.

O Brasil já mostrou inúmeras vezes que instabilidade política custa caro e, nesse caso, a fatura não é simbólica: ela aparece no orçamento das famílias, nos balanços das empresas e no rendimento de quem investe. Mesmo fora do poder, Bolsonaro segue sendo um peso real no bolso de quem trabalha, consome e aplica.

O recado é direto: Bolsonaro pode até estar fora do poder, mas continua influenciando decisões que afetam a economia.

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