Investimento não é cassino

Fabrizio Gueratto tem quase 20 anos de experiência no mercado financeiro. É especialista em investimentos, professor de MBA em Finanças, autor do livro “De Endividado a Bilionário”, fundador da Gueratto Press e criador do Canal 1Bilhão, com quase 21 milhões de visualizações no YouTube

Escreve semanalmente às quintas-feiras

Fabrizio Gueratto

Por que Lula começou a falar sobre Petrobras agora?

Com os combustíveis acumulando alta anual de 65%, baixar os preços seria maravilhoso. Mas será que na prática isso é simples?

O ex-presidente Lula em março de 2021. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO
  • Na terça-feira (30), o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou em uma entrevista que mudaria totalmente a política de preços da Petrobras caso seja eleito nas eleições do próximo ano. Mas será que na prática isso é simples?
  • Entenda como funciona a política de preços da Petrobras e quais fatores interferem no aumento do preço dos combustíveis

Na terça-feira (30), o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou em uma entrevista que mudaria totalmente a política de preços da Petrobras caso seja eleito nas eleições do próximo ano. Segundo ele, quem tem que lucrar com a estatal é o povo brasileiro, não a empresa. Bonito isso, né?

Em um cenário como o que estamos vivendo, com os preços dos combustíveis tendo uma alta anual de 65% nas refinarias da Petrobras, abaixar os preços seria maravilhoso. Mas será que na prática isso é simples?

Como funciona a política de preços da Petrobras?

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

Desde 2016, a política de preços da empresa se baseia na paridade de importação (PPI). Ou seja, depende da cotação internacional do barril de petróleo e do câmbio.

Mas afinal, por que o Brasil precisa seguir essa regra se temos abundância de petróleo? Mesmo sendo um grande produtor, extraindo quase 3 milhões de barris por dia, precisamos importar tipos diferentes dessa .

Para que o petróleo seja refinado com sucesso, é preciso misturá-lo com outros tipos de petróleo encontrados em países diferentes. Assim, fazendo um processo chamado de blend.

Isso não acontece apenas no Brasil, a própria Arábia Saudita, que é o maior produtor do mundo, precisa importar. Sendo assim, esse é um produto global, que está atrelado ao mercado internacional.

Imagina como seria: nós importando petróleo por US$ 1,00, mas vendendo no Brasil por US$ 0,70. Quem paga a conta?

Outros fatores que interferem no aumento de preços

Além dos valores internacionais e a cotação do dólar, os preços dos combustíveis que chegam ao consumidor final dependem de mais um fator: os impostos estaduais e federais.

No Rio de Janeiro, por exemplo, as taxas (ICMS) chegam a um total de 34%. Portanto, o aumento não depende apenas do poder executivo, mas dos estados também e ninguém quer perder arrecadação após uma crise como de 2020.

Desta forma, tanto a Petrobras quanto o Estado não possuem total controle sobre os preços dos combustíveis. O preço é regulado pelo mercado, não tem uma pessoa que define. Já as taxas, são estabelecidas por região. Para que houvesse uma real mudança, seria preciso mudanças no legislativo e na estatal.

Seria o mesmo que a Vale vender minério de ferro mais barato no Brasil, porque o preço do aço está muito caro. É completamente absurdo.

Dilma x preços da gasolina

Entre os anos de 2011 e 2014, quando Dilma Rousseff (PT) ainda estava na presidência, a Petrobras encarou uma grande crise. A empresa teve uma perda de quase R$ 100 bilhões devido a contenção dos preços dos combustíveis e a ausência da paridade com os preços internacionais. Resumindo, vendíamos combustível mais barato que o resto do mundo. Mas alguém sempre paga esta conta.

Durante aquele período, a petroleira praticamente congelou os preços para segurar a alta da inflação no País. Ignorando assim os valores do mercado global. No entanto, a mesma teve que lidar com uma dívida absurda.

Por que Lula começou a falar sobre os preços agora?

Com a largada para a corrida presidencial iniciada, tanto Lula (PT) quanto Jair Bolsonaro (sem partido) estão empenhados em mostrar seus compromissos e promessas de campanha. Atualmente, os preços elevados dos combustíveis é um dos assuntos mais discutidos pela população, que está bastante insatisfeita com a situação.

Desta forma, ambos os políticos estão criticando a política de preços da Petrobras como forma de mostrar aos eleitores que “as coisas vão mudar” caso ganhem. Porém, como vimos anteriormente, não é tão fácil assim abaixar os combustíveis.

Dilma fez o mesmo no setor elétrico

No seu governo, Dilma teve a brilhante ideia de reduzir o preço da energia na canetada. E conseguiu. Mas a farra durou pouco. Ouve uma bagunça no setor elétrico, estatais perderam bilhões em valor de mercado e, claro, mais uma vez o governo pagou a conta com dinheiro dos impostos. Estima-se que o prejuízo foi de R$ 200 bilhões.

Somados os prejuízos passados com Petrobras e o setor elétrico, seria praticamente suficiente para pagar todo o auxílio emergencial.

Ah, tem mais. Imagina como fica o investidor estrangeiro que acreditou na mudança da Petrobras após a Lava Jato e de repente tudo muda porque um presidente quer fazer populismo.

Será que vale a pena também citar que quanto mais a Petrobras lucra, mais impostos para o governo federal, estados e municípios ela paga?

Não existe almoço grátis!