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Maílson da Nóbrega: “O mercado vai preferir Lula a Bolsonaro”

Ex-ministro da Fazenda avaliou as perspectivas econômicas para o Brasil e os desafios do mercado financeiro

Maílson da Nóbrega: “O mercado vai preferir Lula a Bolsonaro”
Maílson da Nóbrega Ex-ministro da Fazenda. Foto: Marília Vasconcellos
O que este conteúdo fez por você?
  • Segundo ele, o destino do mercado financeiro, pelo menos no curto prazo, está fadado a momentos de muita instabilidade
  • Ex-ministro teceu críticas à gestão feita por Paulo Guedes e projetos como a PEC dos precatórios, classificado por Nóbrega como ‘um grande erro’ e um ‘calote’ institucionalizado das dívidas judiciais
  • Nóbrega afirma que a permanência de Jair Bolsonaro seria mais prejudicial para o mercado financeiro do que uma volta de Lula ao cargo

Durante o período de hiperinflação dos anos 1980, foi ele o responsável por criar o ‘Plano Verão’, uma das tentativas de controlar o aumento dos preços antes do Plano Real. Ex-ministro da Fazenda do Governo José Sarney, Maílson da Nóbrega falou ao E-Investidor sobre como avalia a situação econômica do Brasil e as perspectivas para o mercado frente a uma disparada dos preços.

Atualmente, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado no ano já chega a 5,67%, já bem distante da meta estipulada pelo Banco Central, de 3,75%. Entretanto, o economista não engrossa o coro dos críticos à atuação do ‘guardião da moeda’ na condução da política monetária nacional.

“Até o primeiro trimestre de 2021, o mercado sancionava a política monetária do BC sem nenhum questionamento. Ninguém poderia supor naquela época que viria uma crise hídrica do tamanho que veio”, afirma Nóbrega. “Também não se imaginava que o Bolsonaro iniciaria um ciclo de ataque às instituições no final do primeiro semestre, o que gerou a percepção de maior instabilidade política e se associou à percepção de uma piora do quadro fiscal.”

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Nóbrega também teceu críticas à gestão feita por Paulo Guedes e projetos como a PEC dos precatórios, classificado pelo ex-ministro como ‘um grande erro’ e um ‘calote’ institucionalizado das dívidas judiciais. Segundo ele, o destino do mercado financeiro, pelo menos no curto prazo, está fadado a momentos de muita instabilidade.

“A renda variável hoje é para quem é profissional. Eu, por exemplo, não invisto sozinho. Confio os meus investimentos a profissionais gestores de carteiras, diversifico em diferentes gestores e deixo a eles avaliarem os riscos e oferecerem as oportunidades, gerindo o meu dinheiro”, afirma o especialista.

A seguir, leia os principais trechos da entrevista:

E-Investidor – Como o senhor avalia a atuação do BC no controle da inflação? Quais são os erros e acertos da autoridade monetária até agora?

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Nóbrega – O Banco Central ficou atrás da curva em determinados momentos, mas isso aconteceu também com outros bancos centrais mundo afora. É fácil falar hoje com o fato consumado. Se você recuar um pouco, para janeiro deste ano, a pesquisa Focus, por exemplo, previa inflação de 3,3% para 2021, abaixo da meta. Já a Selic projetada era de 3% e o câmbio em R$ 5 por dólar.

Era um cenário de muita tranquilidade para permitir o cumprimento da meta para inflação. Ninguém previa a inflação explodindo ou o PIB crescendo além desses valores. Até o primeiro trimestre de 2021, o mercado sancionava a política monetária do BC sem nenhum questionamento. Ninguém poderia supor naquela época que viria uma crise hídrica, do tamanho que veio, como seu impacto na inflação na conta de luz.

Também não se imaginava que o Bolsonaro iniciaria um ciclo de ataque às instituições, algo que veio do final do primeiro semestre, e que gerou a percepção de maior instabilidade política, que se associava à percepção de uma piora do quadro fiscal.

O que importa, ao meu ver, é a capacidade que o BC tem de perceber um cenário diferente do que ele havia construído e agir. E foi isso que o BC do Brasil fez. A vantagem desse processo é que o BC é autônomo por lei. Se fosse autônomo na prática, o Bolsonaro já teria mandado demitir o Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), como ele fez com a Petrobras, porque ele não aceita a autonomia dessas instituições estatais.

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E-Investidor – A instabilidade política provocado pelo presidente Jair Bolsonaro também ajudou a acelerar a inflação?

Nóbrega – O clima político criado pelas declarações de Bolsonaro e os ataques ao STF e seus ministros contribui para a depreciação do câmbio. Com isso, tivemos algo absolutamente inédito: um ciclo de commodities como o que estávamos vivendo com depreciação cambial. O normal é haver uma valorização do câmbio porque o ciclo de commodities no Brasil, que é um grande exportador desses produtos, agrícolas e minerais, melhora a qualidade do balanços de pagamento, atrai investimentos estrangeiros.

Entre os exportadores de commodities, o Brasil talvez tenha sido o único em que houve uma depreciação cambial, o que agravou o ritmo de crescimento dos preços. Houve uma série de fatores que até o mais bem informado dos analistas seria capaz de prever que acontecesse.

E-Investidor – A Bolsa também está sofrendo com perdas expressivas. Esse pode ser um efeito do conflito entre os poderes ou há outros fatores que acentuam a volatilidade atual?

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Nóbrega – A queda do Ibovespa é perfeitamente explicável. O mercado financeiro não tolera instabilidade, incertezas e foge rapidamente do risco. Há vários fatores que explicam a conjuntura: o primeiro foi a instabilidade política. O desastre do discurso do Bolsonaro na Avenida Paulista, no dia 7 de setembro, teve uma resposta quase de pânico do mercado no dia seguinte, quando o Ibovespa caiu quase 4% e o dólar subiu cerca de 2%.

Certamente há um efeito Bolsonaro na queda da bolsa, que já vinha tropeçando com os ataques ao supremo e tombou de vez. Mas também há outros fatores, como o aumento do IOF, um imposto que gera distorções no mercado financeiro, particularmente na área de crédito. O governo contrariou uma promessa que o Paulo Guedes fez, que nunca iria aumentar a carga tributária. Você dá uma pancada dessas nos juros do crédito ao consumidor em um momento em que há uma certa desaceleração na demanda por bens de consumo.

O mercado viu isso com uma mistura de erro crasso de política econômica e um sinal de que a equipe do governo se preocupa mais com a reeleição do que a condução da economia.

E-Investidor – Podemos esperar um Ibovespa melhor no ano que vem ou o patamar de 130 mil pontos é uma projeção improvável?

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Nóbrega – Se a terceira via é entendida como uma possibilidade, pode haver uma euforia e fazer a bolsa explodir. Aí sim seria um cenário do Ibovespa indo para onde ele deveria estar. O apetite que existe no mercado se ampliaria com esse cenário de mudança de governo.

No entanto, dificilmente o Ibovespa vai voltar para o patamar que havia atingido neste ano. Não vejo isso como um colapso, mas também não é um cenário contrário do que havia sido desenhado lá atrás, de que a Bolsa passaria dos 130 mil pontos. Essa é uma realidade que não se materializou, pelo contrário, piorou.

E-Investidor – Pensando em um cenário de polarização, o que seria mais prejudicial para o mercado financeiro: a permanência do Bolsonaro ou uma volta do ex-presidente Lula ao cargo?

Nóbrega – A permanência do Bolsonaro, porque o mercado já aprendeu que o presidente é um causador de instabilidade. Os mais antigos do mercado conhecem o Lula e sabem que ele é um político pragmático. No entanto, como ele está com um discurso ruim, prometendo eliminar o teto de gastos, por exemplo, isso também assusta os investidores com a ideia de um novo mandato.

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Ainda assim, acredito que o Lula daria muitos sinais para mercado, porque tem experiência de governo e sabe que não pode iniciar uma gestão com a crise de confiança no mercados financeiro. Ele aprendeu isso em 2002, quando apoiou a proposta do Fernando Henrique de fazer um acordo com o FMI. Eu não tenho bola de cristal, mas aposto que o mercado vai preferir Lula a Bolsonaro se houver só essas duas opções.

E-Investidor – Onde estão as melhores oportunidades para investir?

Nóbrega – A renda variável hoje é para quem é profissional. Eu, por exemplo, não invisto sozinho. Confio os meus investimentos a profissionais gestores de carteiras, diversifico em diferentes gestores e deixo a eles avaliarem os riscos e oferecerem as oportunidades, gerindo o meu dinheiro.

As oportunidades para o investidor conservador é renda fixa. Nesse ponto, o Brasil tem enormes oportunidades. Primeiro porque a taxa de juros está subindo e também porque há boas oportunidades na área de infraestrutura, agronegócio, varejo e área de commodities minerais e agrícolas.

E-Investidor – Como o senhor avalia as movimentações recentes geridas pelo ministério da Economia?

Nóbrega – Se você olhar as promessas que o ministro Guedes fez quando assumiu a condição de “Posto Ipiranga” e que, entusiasmado, reivindicou um super ministério agregando cinco ministérios, o que certamente foi causa de disfunções. Paulo Guedes subestimou as restrições institucionais e políticas à aprovação de um programa ousado de privatizações, um programa liberal agressivo, o modelo Margaret Thatcher para o Brasil.

Estamos terminando o terceiro ano (de governo) e não veio nenhuma privatização, pelo contrário, criaram-se mais duas empresas. O presidente Bolsonaro descartou a privatização da Petrobras (PETR4), Banco do Brasil (BBAS3). Com isso matou 80% do programa do ministro. Ele prometeu vender R$ 1 trilhão de imóveis da união e até hoje não vendeu nenhum.

Se você comparar a situação de hoje com as promessas, a ambição da agenda do ministro Guedes é um completo fracasso. E agora ele trabalha diuturnamente para impulsionar a popularidade do presidente, provavelmente, porque ele acha que agora que ganhou experiência, que viu o tamanho do problema, que sabe lidar com as pressões. Ele está contando com o segundo mandato, para aí sim levar avante a sua ambição política liberal.

E-Investidor – Então dá para dizer que Guedes está perdido na gestão?

Nóbrega – Eu nunca imaginei que ele fosse ser objeto de ironias como está sendo hoje, que seria objeto de cartazes na Faria Lima, com acusações à sua condução da política econômica. Isso não quer dizer que o ministro não tenha condições de ocupar o posto que ocupa, eu tenho muito respeito pelas qualidades intelectuais do ministro Guedes, o conheço há pelo menos 35 anos e sempre admirei a sua competência, mas ele não tinha nenhuma experiência de setor público e achou que tinha convertido o presidente Bolsonaro a um liberalismo mais radical e que ele seria última palavra nas decisões de política econômica, particularmente, nessa área mais liberal.

E a verdade que se estabeleceu foi o contrário. Quem comanda é o presidente Bolsonaro, ele que demite o amigo do ministro Guedes da Petrobras, sem o ministro chiar, e até pediu para o presidente da estatal solicitar uma demissão ao invés de ser demitido. Então, realmente o ministro Guedes precisa refletir muito a partir de agora, porque realmente ele fracassou.

E-Investidor – A PEC dos Precatórios é polêmica e pode liberar R$ 33,5 bilhões para o governo em 2022. Caso a proposta seja promulgada, qual será o impacto para o mercado?

Nóbrega – Em primeiro lugar, essa PEC é um grande erro. O ministro que classificou os governos passados de social-democratas resolveu recorrer a uma medida constitucional de governos anteriores para dar um calote nos precatórios. Isso não é típico de um liberal.

Precatórios são processos que duram décadas, e em muitos casos o autor da ação falece antes da sua conclusão e são os herdeiros que continuam o processo. Como é que depois que ganha nos tribunais superiores, o governo diz que vai pagar só daqui a 10 anos? Isso é cruel e afeta a credibilidade e a imagem do governo. O Tesouro é o devedor da dívida pública da União e também é o devedor do precatório, e ele tem que pagar, é uma decisão judicial.

Eu acho que a medida mais correta é considerar os precatórios fora do teto, porque ninguém poderia prever em 2016, quando a emenda Nº 95 foi aprovada, que poucos anos depois haveria uma aceleração de eficiência do judiciário, não foi um meteoro. Os precatórios aumentaram para R$ 89,1 bilhões por três fatores: a digitalização dos processos, já que antes levava seis meses para o processo passar de uma mesa para outra. Agora, é um clique.. Em segundo lugar, os plenários virtuais, e em terceiro lugar, o novo código de processo civil que racionalizou o andamento dos processo judiciais no Brasil

Eu acho que uma parte do mercado financeiro já admite que não tem saída. O precatório vai continuar subindo celeremente nos próximos anos e, portanto, vai inviabilizar o teto.

E-Investidor – A PEC provocaria um colapso financeiro caso seja aprovada?

Nóbrega – Você vai ‘manetando’ o estado até o ponto de ruptura, porque fica em uma posição intransigente e começa-se a criar uma narrativa de que se fizer isso, vai ser uma derrocada, vai aparecer outros casos, que podem até aparecer, mas aí tem que ter articulação do governo.

Eu acho que a ideia de fazer os precatórios serem registrados fora do teto tem ampla justificativa e tende a ser aceita pelo mercado financeiro, como o mercado aceitou tirar do teto os gastos da pandemia, que foram muito maiores, na ordem de R$ 800 bilhões, nós estamos falando aqui de R$ 40 bilhões ou R$ 50 bilhões.

Deixa de fazer essas intervenções desastrosas nos contratos, nos direitos de propriedade, no patrimônio das pessoas e das empresas e dos estados que tem R$ 16 bilhões para receber, tira isso da frente, vamos fazer uma coisa que é mais razoável do que se possa imaginar e vamos promover um grande debate sobre isso.

E-Investidor – As mudanças nas regras do Imposto de Renda também perturbaram os investidores, já que afetam algumas classes de ativos. Qual seria a melhor solução para esse projeto?

Nóbrega – A melhor solução é arquivá-lo, porque esse projeto saiu com defeito e explicações ruins do Ministério da Economia e piorou consideravelmente no Congresso. A área econômica entregou ao relator de forma inédita o poder de negociar o projeto com os segmentos da economia. Eu nunca vi isso. O ministro chegou a desconsiderar as suas equipes ao dizer que o Congresso sabe mais de tributo do que a Receita Federal.

Há três formas de tributar dividendos: a primeira é tributar na distribuição, a segunda no lucro das empresas, já incluindo uma alíquota que penalize tributariamente os dividendos, e o terceiro é tributando só os dividendos.

O que o Brasil optou em 1995/1996 foi tributar integralmente na empresa porque isso diminui o risco de sonegação de planejamento tributário. Tem apenas um problema: todas as pessoas físicas pagam a mesma alíquota, enquanto nos países em que tributa-se uma parte na empresa e outra parte na distribuição do dividendo o provento pode ser calculado na tabela progressiva. Ou seja, os mais ricos pagarão um percentual maior sob seu dividendo que os menos ricos.

Mas o Brasil tributava dividendos, sim. Além disso, a maneira como se foi discutida a mudança súbita da tributação de certas classes de ativos financeiros criou incerteza nas empresas, que acumularam lucros para reinvesti-los. Muitos clientes têm me perguntado o que fazer. Criou-se uma confusão enorme, vai gerar uma queda de arrecadação de R$ 30 bilhões. E o mesmo (governo) que admite perder R$ 30 bilhões, aumenta a CPMF para arrecadar R$ 2 bilhões. Contraditório, não é mesmo?

E-Investidor – O presidente Bolsonaro discursou na ONU, enfrentou manifestações de brasileiros que vivem nos EUA e críticas de líderes mundiais pela postura anti-vacina. Esse comportamento afasta os investidores estrangeiros?

Nóbrega – Esse discurso é um retrato fiel de um presidente despreparado que não entende como funcionam as instituições. Ele teve a oportunidade de discutir temas mundiais, como a pandemia, pobreza e como levar a vacina aos países mais pobres de forma mais efetiva e rápida.

Mas não. O presidente fez um discurso como se estivesse em uma live para o seu público e com um número enorme de mentiras e inverdades. Isso afeta a imagem do País e leva a percepção de que o Brasil não tem um líder à altura dos seus desafios e da agenda de reformas. Essa situação pode impactar negativamente e piorar o nosso potencial de crescimento do País, assim como impulsionar o desaparecimento de oportunidades e o surgimento de riscos.

O Brasil era o quinto país que mais atraiu investimento estrangeiro e agora somos o 15º. É claro que o presidente Bolsonaro tem uma parte nesse processo por conta das dúvidas e incertezas que ele causa, além do que ele provoca de dano à imagem do país. O discurso dele foi ridicularizado em toda a imprensa mundial, e é triste para nós brasileiros ver um acontecimento como esse.

E-Investidor – Estagflação é uma palavra que está preocupando alguns economistas e investidores, principalmente por conta da crise hídrica. O Sr. vê riscos de o Brasil entrar nesse cenário?

Nóbrega – A estagflação só ocorreria se houvesse um apagão energético. Se não houver o racionamento de energia e volume de chuvas para evitar que haja uma paralisia da hidrelétrica, que impacta preços e oferta de energia, aí eu acho que nós poderíamos ver uma estagflação da economia no próximo ano. A estimativa é de 1,8% de crescimento do PIB para 2022, mas eu diria que o meu cenário para 2022 é de um desempenho medíocre da economia, e não de uma estagflação.

E-Investidor – Considerando todos os fatores de instabilidade política e fiscal contribuindo para uma tempestade perfeita, o que precisaria acontecer para o Ibovespa deslanchar?

Nóbrega – A volatilidade vai ser a característica do mercado acionário no Brasil nos próximos anos. Algo que pode realmente impactar a Bolsa a partir do segundo semestre de 2022 é a viabilidade de uma terceira via, com o Brasil fugindo da polarização de Bolsonaro e Lula.

Agora, essa terceira via vai depender do enfraquecimento do presidente, que é algo que pode acontecer porque a sua popularidade já está derretendo. Ele pode se beneficiar do aumento da vacinação, mas precisaria de uma recuperação forte da economia em 2022. O discurso do Paulo Guedes de que a economia está decolando é fora da realidade.

E-Investidor – E o que podemos ressaltar de positivo no cenário econômico brasileiro?

Nóbrega – É importante olhar o longo prazo. Temos instituições fortes e de controle que asseguram a estabilidade do processo democrático. Estamos completando 36 anos de democracia, o maior período de estabilidade da história do País. O Brasil tem um Banco Central independente por lei e um sistema financeiro sólido, sofisticado, capitalizado e bem regulado.

O Brasil está desde 1995 sem crise bancária. O país tem uma situação externa confortável, em que temos mais reservas internacionais do que dívida externa, ou seja, somos credores externos.

Além disso, temos um agronegócio competitivo. Somos um dos grandes exportadores de 30 produtos agrícolas e somos número um em seis deles. Temos 13 unicórnios que valem mais de US$ 1 bilhão. E surgir empresas num ambiente hostil, como tem sido nos últimos anos, é uma prova que temos empreendedores com grande capacidade de enxergar oportunidade assumir riscos.

Nós temos várias empresas brasileiras de classe mundial. A Embraer é segunda maior produtora drones, a WEG é uma das maiores produtoras de motores do mundo, presente em vários continentes, a JBS é maior produtora de proteína do mundo. Temos gigantes no varejo como Arezzo e Renner.

O Brasil tem grandes conquistas para mostrar. Precisamos eleger líderes com grande capacidade de mobilizar o país em torno de um conjunto de reformas que destravem o lado fiscal, melhore o sistema tributário, tire a educação da sua qualidade medíocre e convença o país que melhorar a educação não é gastar mais.

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