Investimento não é cassino

Fabrizio Gueratto tem quase 20 anos de experiência no mercado financeiro. É especialista em investimentos, professor de MBA em Finanças, autor do livro “De Endividado a Bilionário”, fundador da Gueratto Press e criador do Canal 1Bilhão, com quase 21 milhões de visualizações no YouTube

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Fabrizio Gueratto

Por que a Nuconta, do Nubank, vai render como a poupança?

Entenda a matemática que derrubou a rentabilidade da Nuconta

Nuconta vai render mais que a poupança? entenda. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
  • O Nubank, que um dia já foi uma startup, cresceu com a promessa de ser diferente das instituições financeiras tradicionais
  • O problema é que o investidor quer o exit, ou seja, a saída, que nada mais é do que retirar o dinheiro investido com lucro, o que ocorreu no IPO
  • Se o Nubank puder pegar este dinheiro, e aplicar ou até mesmo emprestar e cobrar uma taxa de juros, ele lucra sem precisar pagar nada para o dono do dinheiro

A Nuconta do Nubank agora vai mudar e talvez você não esteja sabendo disso. Esqueça os famosos 100% do CDI desde o primeiro dia de depósito. Agora, se você tirar o dinheiro antes de 30 dias, não rende nada. Você deve estar se perguntando: Mas por quê?

Calma, vou explicar. O Nubank, que um dia já foi uma startup, cresceu com a promessa de ser diferente das instituições financeiras tradicionais. Para isso, investidores de private equity aportaram dinheiro sabendo que, por alguns anos, a empresa ficaria no prejuízo, algo comum no segmento de startups que focam no crescimento em um primeiro momento e não no lucro. Até aí, sem novidades.

O problema é que o investidor quer o ‘exit’, ou seja, a saída, que nada mais é do que retirar o dinheiro investido com lucro – o que ocorreu no IPO. Agora, o Nubank tem um outro problema para resolver. Antes do IPO, as empresas fazem o que chamamos de road show, ou seja, elas contam para os grandes bancos e grandes investidores o que entregarão de resultado após abrirem o capital e baseados nessas promessas os big players aportam dinheiro.

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A tese da fintech começou a cair por terra quando os diretores resolveram colocar como possível bônus uma remuneração de até R$ 800 milhões, algo muito acima do que o Itaú, o maior banco da América Latina, remunera seu time.

Isso jamais aconteceu e jamais aconteceria antes do IPO, até porque o investidor não coloca dinheiro na empresa para este ser repartido entre seus executivos. O recado para o mercado financeiro foi claro. O jogo mudou e agora estamos vendo uma oportunidade de tirar dinheiro legalmente da empresa. Entretanto, a pergunta que fica é: Faz algum sentido um bônus desse enquanto as ações estão desabando? Não, não faz.

Agora, explicando a questão da não remuneração da Nuconta nos primeiros 30 dias. É pura matemática. O Nubank sabe que um determinado percentual das pessoas coloca os recursos e tira depois de 10 ou 20 dias.

Se o Nubank puder pegar este dinheiro e aplicar ou até mesmo emprestar e cobrar uma taxa de juros, ele lucra sem precisar pagar nada para o dono do dinheiro. O que está acontecendo com a empresa é a mesma coisa que acontece com todas no capitalismo. Acabou a história bonitinha e, a partir de agora, a companhia precisa dar lucro.

Essa é a parte fácil. O Nubank consegue dar lucro na hora que ele quiser. A parte difícil é a instituição dar o lucro que prometeu aos seus investidores no Road Show.