- No início da pandemia começamos a observar inúmeras mudanças no que tange a investimentos sustentáveis.
- Hoje, 8 meses depois, estamos vivendo um tsunami. Segundo a Morningstar, no final de setembro, USD 1.2 trilhões de ativos geridos por fundos mútuos já levam em consideração desde fatores de mudança climática a direitos humanos nos seus investimentos.
Dirigindo pela Marginal Pinheiros, em São Paulo, meu filho de 4 anos me perguntou: Mãe, quem foi o louco que jogou lixo no rio?
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O que responder? Passo o tempo todo falando sobre a importância de cuidar da natureza, de como os rios são importantes, as árvores, os animais… Vivo dizendo que temos que cuidar do nosso planeta, pois é aqui que moramos.
Como foi que chegamos aqui? Como convivemos com isso como se fosse normal? Estamos afundando no lixo e na poluição que nossa ânsia consumista gerou. É possível reverter esse movimento? Acredito que sim. Pode levar anos, mas a mudança começou. O ser humano costuma aprender mais pela dor do que pelo amor – pelo visto, não mudar vai doer no bolso.
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No início da pandemia começamos a observar inúmeras mudanças no que tange a investimentos sustentáveis. Hoje, 8 meses depois, estamos vivendo um tsunami. Segundo a Morningstar, no final de setembro, USD 1.2 trilhões de ativos geridos por fundos mútuos já levam em consideração desde fatores de mudança climática a direitos humanos nos seus investimentos.
Investimentos sustentáveis estão chegando nos índices/fundos passivos (ETFs – Exchange Traded Funds). Para se ter uma ideia, fundos passivos representam 40% (US$20 trilhões) da indústria de gestão de ativos nos Estados Unidos. Segundo Larry Fink, CEO da BlackRock, a customização desses índices vai revolucionar a indústria trazendo uma “lente verde” para esses investimentos. O preço de ativos verdes vai sofrer o reflexo desse movimento. Segundo Larry Fink, sustentabilidade vai ser a lente pela qual avaliamos tudo nos próximos 10 anos.
Muitas empresas que tem como acionistas grandes gestoras globais começam a ser questionadas sobre SASB e TCFD. O que isso quer dizer?
Até outro dia, muitas empresas usavam o relatório de sustentabilidade para contar histórias bonitas mas seguiam fazendo mais do mesmo do outro lado. Finalmente, está claro, que mudanças climáticas representam riscos financeiros e o mercado vai exigir transparência desses riscos e seus impactos. Ou seja, cada vez mais, a sustentabilidade vai afetar o balanço da empresa.
No seu famoso discurso em 2015 “Breaking the tragedy of the horizon – climate change and financial stability”, Mark Carney, então presidente do Banco Central da Inglaterra, apontou três riscos para a estabilidade financeira global vindo de mudanças climáticas: risco físico, risco de balanço e risco de transição. Ele explica que só podemos administrar e controlar aquilo que medimos. Informação de qualidade pode ajudar a criar um ciclo virtuoso, com mais entendimento, precificação correta de riscos futuros para ajudar na tomada de decisão por parte de legisladores e uma transição mais suave para uma economia de baixo carbono.
Em 2015, durante a negociações climáticas em Paris, com apoio de Mark Carney, foi criada a TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) – Força Tarefa Sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima. O objetivo da TCFD é avaliar e relatar riscos relacionados ao clima e questões de governança essenciais para gerenciá-los.
A TCFD desenvolveu uma metodologia para ajudar empresas listadas na divulgação de riscos e oportunidades relacionadas a mudanças climáticas: Governança – a empresa deve apresentar um mapa de riscos, agenda de atuação e seus responsáveis. Estratégia – deve haver uma estratégia com planejamento financeiro para lidar com eventuais impactos ou oportunidades para temas relacionados a mudanças climáticas. Gestão de Riscos – como a organização identifica, acessa e administra tais riscos. Métricas e objetivos – a empresa deve divulgar as metas e objetivos usados para acessar e administrar tais riscos e oportunidades sempre que estas informações forem materiais (afetam o resultado da empresa).
A Inglaterra anunciou que até 2025 a divulgação de riscos climáticos para empresas listadas, instituições financeiras, fundos de pensão e seguradoras será obrigatória. Outros países devem seguir este exemplo. Aqui no Brasil ainda não será obrigatório, mas o Banco Central já informou que vai implementar recomendações da TCFD com orientações para empresas e instituições financeiras na divulgação de informações relativas aos impactos financeiros das mudanças climáticas em seus negócios. Além disso, a agenda BC# prevê um aprimoramento da abordagem no gerenciamento de riscos e a elaboração de um relatório anual de riscos socioambientais do BC.
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Além disso, muitos investidores já usam o SASB – Sustainability Accounting Standards Board e o GRI (Global Reporting Initiative) organizações que fornecem padrões para relatar informações de sustentabilidade que tenham maior potencial de afetar a performance financeira de uma companhia.
Nossa sociedade enfrenta uma série de riscos ambientais e sociais. Mudanças climáticas já ameaçam nossa prosperidade. Ainda dá tempo de agir.
Quem sabe daqui a muitos anos eu possa dizer para meu filho que as pessoas não sabiam o que estavam fazendo, mas acordaram.