Em março deste ano, fui para o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Fui participar do lançamento de um programa de microcrédito para mulheres, muitas delas quilombolas da região. Sentei-me entre elas, quis saber como era o programa e o que elas iam fazer com o crédito. A Diane, uma mulher linda, que mora no Quilombo do Baú, me contou que ela é uma das três pessoas da sua família – com 300 pessoas – que conseguiu estudar, sendo que ela foi a única que conseguiu concluir os estudos.
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Com o programa de microcrédito, ela está realizando um sonho: empreender. Por meio do aplicativo Dona de Mim, ela mandou os documentos, recebeu treinamento on-line sobre o uso do crédito e recebeu o recurso em uma conta no Banco Pérola.
Ouvindo a história, não consegui conter o choro. Naquele momento, via a história de diversas mulheres se cruzavam: a Diane, a Alessandra – fundadora do Banco Pérola (que conheço há anos) e a Ana Cabral-Gardner, CEO da Sigma Lithium. Foi emocionante presenciar a materialização de sonhos.
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Esse programa de microcrédito é uma parceria do Fundo Dona de Mim com a Sigma Lithium, Grupo Mulheres do Brasil e plataforma n2. A Sigma Lithium investiu R$20 milhões no programa e pretende atender 10 mil mulheres. Além disso, a Sigma doou 2.000 caixas d´agua e 2.000 barragens para a população – que passa grande parte do ano sem água.
A Sigma Lithium é uma empresa de mineração de lítio sediada no Brasil, com operações no estado de Minas Gerais. Seu principal projeto é a Grota do Cirilo, localizada no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres de Minas Gerais.
O lítio é um elemento químico utilizado na produção de baterias para carros elétricos, celulares, notebooks, entre outros dispositivos eletrônicos. A Sigma Lithium possui uma das maiores reservas de lítio do mundo e está investindo em tecnologias de extração sustentável e inovadora para atender à crescente demanda global por baterias de lítio.
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A Sigma produz o lítio verde, utiliza tecnologias e práticas de mineração mais eficientes e sustentáveis, como a recuperação de água, o uso de energia renovável, a reciclagem de materiais e a redução do uso de produtos químicos tóxicos.
A produção do lítio é feita de maneira responsável e consciente e atende à crescente demanda global por baterias de lítio sem comprometer o meio ambiente e a qualidade de vida das comunidades locais.
A liderança
Segundo meu amigo Marco Gorini da Din4mo, atrás de todo CNPJ sempre tem um CPF. Se esse CPF estiver realmente comprometido com as pessoas e o planeta, o CNPJ vai apenas fazer acontecer – por mais desafiador que possa ser.
Neste caso, o CPF é Ana Cabral-Gardner, a CEO da Sigma Lithium. Além disso, Ana e seu sócio, Marcelo Paiva, por meio da A10 Investimentos, são os maiores investidores da Sigma Lithium. Ana também é uma das cofundadoras do grupo Mulheres do Brasil.
Ela começou a carreira no Banco Garantia na década de 90. Depois, trabalhou no Banco Pactual, Goldman Sachs, Merrill Lynch, Credit Suisse e Barclays – quando eu a conheci. Em 2012 fundou a A10 Investimentos, uma boutique focada em fusões e aquisições e cuja ideia sempre foi não distribuir o resultado para que, um dia, conseguisse constituir um fundo para co-investir em bons negócios.
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A Sigma Lithium foi fundada em 2012 por seu ex-marido, Calvin Gardner. Em 2016, depois de viagens para Australia, China, Japão e outros países para entender o mercado de lítio, Ana e seu sócio na A10 decidiram então investir todo o capital na Sigma.
Para levantar capital, a Sigma foi listada em 2018 na bolsa do Canadá e em 2021 na Nasdaq, que é uma das bolsas que tem os parâmetros mais altos em exigências de governança corporativa, de performance, e de transparência. Esses são pontos imprescindíveis para uma empresa que valoriza e promete atuar de acordo com os princípios ESG.
Desde o início, Ana entendeu que para ter licença para operar, o olhar para o social e ambiental deveriam ser essenciais. Naquele momento, o ESG ainda não havia aterrissado no Brasil. Poucas mineradoras olhavam para suas externalidades.
Em 2018 a Sigma usou todo o recurso do IPO para fazer uma planta de demonstração, onde a ideia era mostrar que era possível agregar valor ao insumo (mineral), produzir o lítio verde e assim gerar dez vezes mais valor – naquele momento, de US$ 80 para US$ 800. Isso já era uma ousadia.
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A demanda internacional por lítio verde explodiu, principalmente depois da pandemia e, atualmente, o preço de uma tonelada pode chegar a US$8.000 – sendo que os mercados compradores estão cada vez mais rigorosos em como consideram fatores ESG em suas cadeias de suprimento.
Planta verde
A Sigma Lithium conseguiu entregar uma “Greentech plant” (planta verde), obteve a licença operacional em março e deve enviar ainda esse semestre seu primeiro carregamento, de 15.000 toneladas. Isso é a prova de que é possível ganhar (muito) dinheiro ao adotar uma estratégia sustentável. O valor de mercado da Sigma atualmente está em US$ 3,6 bilhões. A Sigma não só gerou valor financeiro, mas impactou toda uma região.
O compromisso com a geração de valor foi feito com um olhar para além da empresa, e incluiu todos os stakeholders. Gastaram 15% a mais do capital investido para instalar uma estação de tratamento de esgoto no Rio Jequitinhonha, em vez de usar o riacho que abastecia a população para suas operações. A Sigma usa apenas energia hidrelétrica, preserva e restaura florestas da região, recicla 100% dos rejeitos e reusa 100% da agua usada em seus processos.
A proposta ESG afeta diretamente a vida pessoal de Ana, tendo em vista que ela atrela sua remuneração e dos executivos ao cumprimento dessas métricas. O salário dos executivos é relativamente abaixo do mercado, e todo bônus é atrelado 100% a metas de atingimento de capitalização de mercado, sendo que um aspecto disso é atingir carbono zero até 2025.
Por inúmeras razões sinto uma admiração imensa pela Ana. Ana é uma mulher, brasileira, trabalhou e conquistou tudo que tem, é mãe de 3 filhos, sendo que o mais velho, hoje com 24 anos, tem deficiência desde o nascimento – o que a ensinou a relativizar muitos problemas. Ana também teve pais que vieram de famílias de militares e, segundo ela, sempre foram muito rígidos e exigentes.
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Ana provou que o Brasil pode ser um exemplo para o mundo, que é possível uma mulher comandar uma mineradora, que é possível fazer mineração de forma sustentável, que é possível ganhar dinheiro ajudando a mudar a realidade de toda a comunidade ao seu redor. A Sigma consegue um preço mais alto no mercado de lítio justamente devido ao seu comprometimento com a sustentabilidade do planeta e das pessoas. A Sigma está crescendo e trazendo consigo toda uma região. Que seja exemplo para muitos brasileiros!!
* Colaborou Gustavo Carvalho.