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Colunista

ROE acima de 20%, payout superior a 70% e gringos na mira: este banco merece seu dinheiro?

Na saída dos fundos locais, os gringos ganham espaço nesta small cap; isso é bom ou ruim?

Foto: Divulgação
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Com juros a 15% e bolsa volátil, até bancos com modelos diferentes sentiram impacto, e o BR Partners (BRBI11) não foi exceção. Atuando em fusões e aquisições, emissões de dívida, IPOs (abertura de capital), follow-ons, recuperação judicial e gestão de fortunas, o banco viu a demanda por operações cair no cenário macroeconômico adverso.

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Desde o IPO em 2021, quando captou R$ 400 milhões com 16 fundos institucionais brasileiros, a empresa sofreu uma debandada e muitos desses produtos nem existem mais. Enquanto isso, a base de investidores pessoa física cresceu, representando mais de 60% das ações em circulação de mercado, impulsionada pelos dividendos. O banco distribuiu mais de 60% do lucro em proventos nos últimos anos, com dividend yield (retorno em dividendos) médio de 11,67% desde o IPO, segundo dados do Investidor 10.

No entanto, para follow-on e formação de preço da ação, são os grandes fundos que contam. Dos 38% do capital em circulação nas mãos dos institucionais, 15% já são estrangeiros, segundo Vinícius Carmona, sócio e diretor de RI do banco. Buscando atrair esse público e aumentar a liquidez das ações, o BR Partners prepara listagem nos EUA via ADRs (recibos de ações) até setembro, o que pode triplicar o volume negociado.

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A coluna conversou com o CFO José Flávio Ramos e o diretor de RI Vinícius Carmona para entender o impacto dessa novidade para o investidor de dividendos.

De Missouri à Wall Street: a ousadia de um banco pequeno 

Com valor de mercado de R$ 1,66 bilhão, o BR Partners enfrenta a dúvida sobre por que investidores estrangeiros escolheriam um banco pequeno entre tantas opções nos EUA. Ciente disso, eles atraíram dois fundos estrangeiros, um com 2% do capital da empresa, e aposta na listagem via ADRs sob regulação da SEC (CVM americana) para acessar fundos focados em small caps. “A base de recursos no exterior é infinitamente maior do que aqui”, diz Carmona.

Enquanto o modelo do BR Partners é quase uma “jabuticaba” no Brasil, nos EUA existem 7 bancos similares, como Evercore e PJT. O CFO Ramos destaca que muitos investidores bilionários, especialmente em Missouri, preferem o ADR para não operar na B3, o que aumenta a liquidez e abre caminho para futuras captações.

Ramos nega rumores de venda do BR Partners para um banco americano ou deslistagem do BRBI11 na B3 para trocar por BDRs (recibos) como Inter e JBS já fizeram.  “A ideia é ampliar, não deslistar aqui para ir lá.” No total, o banco mantém mais de 50 mil investidores pessoa física, pilar da base acionária, e tem liquidez diária de cerca de R$ 3,52 milhões.

Atrair investidores estrangeiros será gradual; a meta é captar pelo menos três fundos norte-americanos até o fim de 2025. A participação dos investidores pessoa física deve permanecer forte, beneficiada por dividendos e valorização potencial. “É uma construção, não algo que acontece no dia do toque do sino. Quem sabe sejamos um case de sucesso que fez um movimento ousado e trouxe esses investidores. Já começamos a mapear alguns fundos estrangeiros”, disse Carmona.

M&A menos pessimista

Com juros altos, o mercado de fusões e aquisições (M&A) iniciou 2025 pessimista, com apenas duas transações no primeiro semestre, muito abaixo da média anual de 20 a 25, lembra Carmona. O mercado de IPO e follow-on também ficou parado.

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Apesar disso, Ramos destaca negócios amadurecendo no pipeline e espera um segundo semestre mais movimentado, com maior participação na receita. “Uma tarifa de 50% imposta por Trump ao Brasil atrapalharia, mas as empresas precisam de capital e devem se juntar”, avalia. “Para 2026, avaliaremos melhor no 4º trimestre, por conta da eleição.”

Setores como energia, saneamento, serviços financeiros, seguradoras, real estate, indústria e proteínas estão no radar para internacionalização de ativos. Carmona ressalta que, apesar do cenário macro ruim, muitas empresas estão bem operacionalmente, com consumo forte e boa gestão. “Há uma dinâmica de oportunismo nesse ambiente de crise.”

ROE e os dividendos

O Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) do BR Partners, tradicionalmente elevado, melhorou em 2024, chegando a 23,8% – acima do Banco do Brasil e Itaú. Desde o IPO, o ROE se manteve estável, mas no início de 2025 a gestão projetava variação entre 15% e 25%, com mínimo acima de 15%, o custo de capital.

Após metade do ano, a perspectiva melhorou, e o banco projeta ROE acima de 20% para 2025, alinhado ao que deve ser anunciado no balanço do 2º trimestre. “Não sabemos como vai terminar o impasse com Trump, mas acreditamos em um acordo razoável com o Brasil”, diz o CFO. Ramos destaca que, se o Brasil for penalizado, o risco aumenta. Mesmo assim, o ROE deve superar novamente o custo de capital.

Sobre o payout, a companhia trabalha com uma projeção acima de 70%. O CFO alerta que dividendos extraordinários só ocorreriam em caso de ameaças fiscais ou tributárias, e recomenda não se iludir com o Índice de Basileia em 20,1%, que indica capital elevado. “O investidor precisa olhar não só o dividendo, mas ter na carteira uma empresa saudável”, disse.

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Em 2024, o banco pagou R$ 211 milhões em proventos, incluindo extraordinários, com payout de 110%. A política mínima é pagar 25% do lucro líquido, mas historicamente distribui acima de 60% a 70%. As distribuições são trimestrais.

O modelo de partnership do BR Partners faz com que sócios, que detêm 55% das ações, recebam parte da remuneração variável via dividendos, alinhando seus interesses aos investidores. São 35 sócios atualmente.

Visão sincera

Em tempos difíceis e voláteis, é preciso pilotar a nave com calma e equilíbrio. Os executivos do BR Partners afirmam que a small cap entrega resultados mesmo nos ciclos mais desafiadores. Poderia ser um discurso ensaiado, mas os fatos comprovam.

Em minha segunda conversa com o banco, percebo consistência: apesar dos juros altos, tarifas de Trump e seca de IPOs e follow-ons, o BR Partners mantém firme a remuneração aos investidores, sustenta o payout, reduz custos e busca alternativas para aquecer operações.

Lançar ADRs é uma jogada de quem não fica chorando pelo cenário, mas busca soluções. Na vida, quem se dá bem age assim, e eu gosto dessa postura nos executivos das empresas em que invisto. Todos queremos liquidez, valorização e dividendos. Desde que o foco no investidor pessoa física, que hoje é grande parte da base acionária, seja mantido, mais liquidez beneficiará a todos.

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Boa sorte para fisgarem os gringos. Estaremos de olho!

 

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