A investidora independente

Luciana Seabra é analista e planejadora financeira certificada (CNPI e CFP®), especialista em fundos e previdência. Fundou a Indê Investimentos, que tem como princípio a ausência de vínculo com corretoras, gestoras ou bancos. Foi premiada pela CVM pelo seu trabalho de educação financeira a investidores. Está nas redes sociais como @seabraluciana, no Instagram e no YouTube, e @luciana_seabra, no Twitter

Luciana Seabra

Manual de sobrevivência em tempos de volatilidade

A volatilidade do mercado é igual uma feira de rua; basta ter atenção e cuidado para não sair no prejuízo

Em tempos de volatilidade, saber o caminho para se dar bem no mercado pode fazer toda diferença. (Foto: M. Lynn/Flickr)
  • Depois de algumas crises – essa parece diferente, eu sei, sempre parece – gostaria de compartilhar com você o que penso ser um pequeno manual para lidar com elas
  • Abra o aplicativo do seu banco ou corretora, converse com investidores menos experientes neste momento: é provável que você mire um cenário parecido com o fim de festa que eu via da minha janela nos últimos minutos da feira

Já tive uma feira embaixo da minha janela. Gostava de observar como ela começava a ser montada na madrugada, em meio a burburinhos. Depois virava um formigueiro humano e se encerrava no caos total – frutas e verduras amassadas no chão, vendedores cansados e clima de fim de festa.

Estudante que eu era, descia nessa última fase, arrastando meu carrinho de metal à moda antiga e munida de uns trocados. Àquela altura, os preços despencavam: o tomate tinha passado de promessa de lucro a um peso na bagagem do vendedor. Lá em casa, ele fazia molho pra macarrão do mesmo jeito.

Bom dizer, na semana seguinte tinha feira de novo. O tomate voltava com todo o seu brilho – e preço cheio.

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Abra o aplicativo do seu banco ou corretora, converse com investidores menos experientes neste momento: é provável que você mire um cenário parecido com o fim de festa que eu via da minha janela nos últimos minutos da feira. E, junto com ele, a disposição para vender a qualquer preço o que, dia desses, parecia tão valioso.

Observadora de cima que era, eu tinha o manual da feira. Sabia que a hora do formigueiro humano estava longe de ser a melhor para ir às compras. Minha estratégia parecia óbvia, por que então poucos a seguiam? Porque é muito difícil agir racionalmente em meio ao caos. A não ser que você tenha um mapa claro com você.

Depois de algumas crises – essa parece diferente, eu sei, sempre parece – gostaria de compartilhar com você o que penso ser um pequeno manual para lidar com elas:

1- Tenha uma reserva de emergência: com 3 a 12 vezes seu custo mensal investidos de forma extremamente conservadora, você não precisa mexer nos investimentos que estão despencando em meio ao caos e pode esperar eles voltarem a um preço mais justo. Também pode lidar com imprevistos, como o desemprego ou redução de renda, também mais prováveis em momentos como esse.

2- Trabalhe com os horizontes certos: as pessoas que fizeram mais dinheiro em Bolsa que conhecemos têm olhar de longo prazo, costumam investir para pelo menos cinco anos, de preferência mais. Então, se você tem uma carteira diversificada de ações e está perdendo nos últimos 12 meses, isso não necessariamente significa que seja hora de vender. Pode ser somente o fim de um dia de feira (e não o fim da feira para sempre).

3- Respeite sua alocação estrutural: essa é sem dúvida a atitude mais difícil, mas, se você decidiu que teria 30% do seu portfólio em Bolsa, por exemplo, e escolheu bons fundos para fazê-lo, com o horizonte correto (para citar o que faço com meu patrimônio pessoal), é possível que essa fatia encolha em um momento como esses. Se possível, é hora de repô-la. O apego à alocação é a arma mais poderosa para se aproveitar dos momentos de baixa do ciclo e controlar o risco na retomada. Você com certeza pode perder mais no curto prazo, mas é quando as pechinchas costumam aparecer para quem tem olhar de longo prazo.

4- Não descuide das proteções: em geral nas crises passadas, o dólar se valorizou em meio ao choque. Bom sempre ter uma pitada dele na carteira. Eu gosto de 7,5% do patrimônio na moeda americana como defesa estrutural.

5- Busque boas companhias: na falta de pessoas com capacidade de olhar de longo prazo à sua volta (elas são raras), apele para os livros. É uma ótima hora para ler os estudiosos das finanças comportamentais, como Daniel Kahneman, ou David Swensen, com seu “Desbravando a gestão de portfólios”. Você vai encontrar alguns puxões de orelha por seguir a multidão. Um de Swensen, apenas para registrar: “Longe de mostrar a coragem necessária para assumir posições contrárias, grande parte dos investidores segue a maioria pelo caminho confortável da mediocridade”.

Tente fugir da mediocridade e ver a feira de cima neste momento – não estou dizendo que é fácil não, mas a recompensa vem com o tempo.