- Um plano de saúde não é um investimento, mas incluiria no mesmo nível de prioridade da reserva de emergência
Há poucos dias, a caminho de uma reunião, pisei em falso em uma rampa de acesso de salto alto e torci o pé.
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Um segundo de descuido se transformou em um quinto metatarso quebrado, ligamentos do tornozelo lesionados, uma semana sem colocar o pé no chão e mais algumas andando por aí de bota ortopédica.
“É a vida acontecendo enquanto fazemos planos”, comentou uma cliente. É bem isso. Esses eventos que mudam completamente o rumo das coisas – vários compromissos e a viagem de férias para a Índia foram para o saco – nos fazem refletir sobre riscos.
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A maior parte do meu trabalho felizmente não depende dos meus pés, mas foi muito satisfatório saber que eu poderia fazer uma pausa caso necessário e não ter que sequer pensar sobre o custo da quantidade de exames e excelentes médicos que avaliaram meu pé nos últimos dias.
Sempre falo – e repito – que o primeiro investimento que qualquer pessoa deve fazer é a reserva de emergência: pelo menos três vezes seu custo mensal investidos de forma extremamente conservadora. Um plano de saúde não é um investimento, mas incluiria no mesmo nível de prioridade: acessar bons laboratórios, hospitais e médicos em um momento de fragilidade tem muito valor.
E pagar por isso, especialmente se houver um período longo de internação, pode dilapidar até mesmo patrimônios muito grandes.
Você deveria pensar não somente no seu plano de saúde como no das pessoas que você ama. Se um parente muito próximo depender de um tratamento muito caro oferecido somente em rede particular para sobreviver, você não vai querer pagar por isso?
Se a resposta é sim, está aí um risco relevante para o seu patrimônio. Você deveria, no mínimo, incentivar essas pessoas a ter um bom plano de saúde – ou, se necessário, pagar por isso.
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Na mesma linha, chegam com frequência a mim perguntas sobre ter ou não ter um seguro de vida. Mais uma vez, você tem que pensar nas pessoas que você ama. Em que situação um seguro de vida faz sentido?
Se: 1. Existem pessoas que dependem financeiramente de você – como pais ou filhos.
2. O seu patrimônio acumulado até aqui não é suficiente para sustentá-los na sua falta.
No seguro de vida, se você morre, o valor que será recebido por quem você desejar pode ser maior do que todas as parcelas que você pagou. Como isso é possível?
A seguradora compensa o fato de algumas pessoas morrerem cedo com o de muitas viverem bastante. Então, se você está em uma fase inicial de acúmulo de patrimônio, o seguro de vida pode ser uma bela forma de cuidar de quem você ama mesmo na sua falta.
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Agora, se você já tem patrimônio acumulado suficiente para que seus dependentes não fiquem desamparados – ou sequer tem dependentes – não precisa gastar dinheiro com um seguro de vida. Afinal, o seu dinheiro será liberado para os herdeiros em caso de morte. E, infelizmente, vejo muita gente nessas condições que acaba contratando seguro de vida.
Na venda, é comum o corretor dizer que o seguro é liberado rapidamente e pode ajudar a arcar com os custos do inventário. Agora, se você tem patrimônio, melhor usar a previdência com esse fim. Ela também é liberada antes do inventário. E, ao contrário do seguro, é um investimento de fato. Sendo um dinheiro de longo prazo, você pode construir uma carteira diversificada para perseguir retorno.
Ou seja, o seguro de vida só faz sentido quando você não tem patrimônio acumulado suficiente para que seus dependentes fiquem confortáveis na sua falta. No caso de você falecer, ele funciona como uma alavancagem patrimonial que será aproveitada pelos beneficiários.
Muito importante: estamos falando de seguro de vida, ou seja, aquele dinheiro que é liberado na sua morte. Às vezes ele vem misturado com seguros para proteção em vida, como para invalidez, doença grave, incapacidade temporária… Não é o tema aqui hoje e, caso tenha um patrimônio relevante e ainda assim se interesse por algum deles, você deveria contratar avulso em uma seguradora que o permite, para não pagar pelo que não precisa: o seguro de vida.
E o seguro resgatável? Em primeiro lugar: não, não é uma previdência, ao contrário do que alguns dizem na venda. No seguro resgatável, você pode receber um valor de volta quando ele não for mais necessário – quando seus filhos estiverem crescidos, por exemplo.
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Se venderam que você vai receber tudo que pagou de volta mais um juro (dizem por aí “3% ao ano”), preste atenção nas palavras usadas. Na verdade, é aplicado um juro sobre o saldo da reserva técnica – que não corresponde a todo o dinheiro que você pagou para ter o seguro.
E faz sentido, né? Mesmo que você não tenha morrido, a seguradora contou com seu dinheiro para pagar aos herdeiros de quem faleceu e para tocar o negócio. Ela não pode devolver tudo. A conta não fecha.
Mesmo que a seguradora prometa devolver tudo que você pagou sem correção, você terá deixado na mesa muitos anos de rentabilidade e poder de compra. Ou seja: ao investir em previdência, o potencial de retorno é maior.
Então, vale o mesmo: se você não tem dependentes ou tem patrimônio acumulado suficiente para não deixar dependentes desamparados em sua falta, melhor pra você uma boa previdência do que um seguro de vida resgatável.
Agora, se tem dependentes e quer protegê-los, minha última recomendação é que pesquise em diferentes seguradoras e compare item a item o que está coberto nas diferentes propostas.
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Não é fácil nem agradável pensar em eventos que podem mudar o curso da sua vida ou das pessoas que você ama quando está tudo bem. É nesses momentos, entretanto, que você pode se preparar para que as intercorrências da vida sejam ao menos um pouco mais leves. Pense sobre isso.