- O bom momento do mercado financeiro reflete a melhora no ambiente econômico influenciada principalmente pelo arrefecimento da inflação
- A queda da inflação e dos juros futuros também trouxeram impactos positivos nos índices de confiança do consumidor, construção civil e de serviço
- Infelizmente, nem tudo são flores. Na contramão da inflação e dos índices de atividade econômica, houve piora do resultado fiscal
No mês de julho, a bolsa subiu 3,27% e o dólar recuou 1,25%. O bom momento do mercado financeiro reflete a melhora no ambiente econômico, influenciada principalmente pelo arrefecimento da inflação, que abriu espaço para a queda da taxa Selic em agosto de 2023.
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O IPCA-15 de julho apresentou deflação de 0,07%, maior do que o esperado pelo consenso de mercado (-0,01%), contribuindo para a queda dos juros futuros na renda fixa. A taxa pré para janeiro de 2026 recuou de 10,25% (30/06/23) para 10,16% (31/07/23).
A perspectiva de queda da taxa de juros trouxe impactos positivos para o mercado acionário: a redução da taxa de juros pode aumentar o consumo das famílias e o investimento das empresas, elevando a demanda agregada do país. Já a queda nos prêmios na renda fixa leva os investidores a buscarem prêmios nos ativos de maior risco, como as ações. E a queda de juros diminui o custo de capital das empresas, elevando o valor das companhias no valuation.
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A queda da inflação e dos juros futuros também trouxeram impactos positivos nos índices de confiança do consumidor, construção civil e de serviços. A exceção ficou por conta do comércio e da indústria, cujos índices de confiança apresentaram queda em julho.
O maior otimismo com a economia brasileira foi confirmado pela elevação do rating do Brasil de BB- para BB pela agência de classificação de risco Fitch. De acordo com a agência, a melhora da nota decorre de reformas estruturais (iniciadas desde o governo Temer) e boa condução da política monetária por parte do Banco Central no combate à inflação. Porém, a Fitch ressaltou que melhoras adicionais da nota de crédito brasileira vão depender da condução da política fiscal pelo governo federal.
No mercado de trabalho, as notícias também foram favoráveis. De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego recuou para 8% no trimestre móvel terminado em junho contra 8,3% no trimestre imediatamente anterior (maio, abril e março).
Infelizmente, nem tudo são flores. Na contramão da inflação e dos índices de atividade econômica, houve piora do resultado fiscal. Segundo o Tesouro Nacional, o déficit primário em junho ficou em R$ 48,9 bilhões, bem acima da média das projeções de mercado (déficit de R$ 18,7 bilhões).
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No cenário externo, o ambiente está um pouco mais favorável. Nos EUA, apesar da elevação recente da taxa de juros para o intervalo de 5,25% a.a a 5,5% a.a, o cenário mais provável é de um pouso suave da economia americana para 2023.
A menor probabilidade de recessão nos EUA, mesmo com juros elevados, é confirmada pelo aquecimento do mercado de trabalho, prévia do PIB no 2º trimestre maior que a média das previsões (2,4% contra 1,8%) e resultado das empresas acima do esperado 2º trimestre de 2023.
Na China, os indicadores ligados à indústria e ao setor de serviços têm vindo abaixo do esperado. Com a desaceleração da atividade econômica, o governo anunciou em julho medidas para estimular o consumo de carros, imóveis e serviços. Porém, o mercado tem dúvidas se essas medidas de fato surtirão efeito para gerar um crescimento econômico mais robusto no gigante asiático.
Em suma, houve melhora no cenário interno e no ambiente externo (resiliência da economia americana e estímulos do governo para aquecer a economia chinesa), o que traz sustentação para a bolsa brasileira buscar os 130 mil pontos no curto prazo. O ponto de atenção é para o médio prazo. Se os resultados fiscais continuarem a piorar, a festa de curto prazo poderá acabar.
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