Tudo sobre Renda Fixa

Marilia Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro. Trabalhou como gestora de renda fixa e câmbio em gestoras como Itaú, Mauá e Kondor, em fundos de até R$ 2 bilhões, com operações nacionais e internacionais. Na Empiricus, ela foi a analista fundadora e responsável pelos relatórios: Tesouro Empiricus e Empiricus Renda Fixa. Marilia é mestre em Economia pelo Insper e autora do livro “Renda Fixa NÃO é fixa!”
Twitter: @mariliadf2

Escreve na terceira sexta-feira de cada mês

Marilia Fontes

“Atividade econômica forte pode atrapalhar queda da Selic”, diz Marilia Fontes

Colunista explica que, além do PIB, outros dados já mostravam essa recuperação

Sede do Banco Central (Fonte: Governo do Brasil/Reprodução)
  • Apesar da redução do risco fiscal ser de fato uma excelente notícia para o nível de taxa de juros brasileiro, ela não é a única variável que entra na composição da taxa
  • O Comitê de Política Monetária se reúne a cada 45 dias para decidir sobre o rumo da taxa Selic
  • Para esta decisão ele leva em conta a inflação corrente, as expectativas de inflação e o nível de atividade econômica

Após a apresentação do novo arcabouço fiscal que coloca um limite no crescimento real de gastos do governo, o mercado veio embarcando em uma onda de otimismo com um possível ciclo que prevê a queda das taxas de juros ainda esse ano.

Essa reprecificação de expectativas levou as taxas de juros longas a caírem mais de 200 pontos base, indo de 13,50% para 11,10%. A queda dos juros de prazos mais longos também animou a Bolsa, que estava parada há mais de 2 anos e agora já acumula uma alta de 15%.

O otimismo também tomou conta da expectativa do investidor de renda fixa, e o mercado futuro de prefixados já estima uma taxa Selic caindo para 12,25% este ano e 9,5% ao longo do ano que vem.

Apesar da redução do risco fiscal ser de fato uma excelente notícia para o nível de taxa de juros brasileiro, porque reduz o prêmio de risco, ela não é a única variável que entra na composição da taxa.

O risco fiscal entra muito mais na precificação da taxa de juros de prazos mais longos, do que de prazos mais curtos. Em se tratando da curva de curto prazo, o nível das taxas tem muito mais a ver com os movimentos do Banco Central.

O Comitê de Política Monetária  (Copom) se reúne a cada 45 dias para decidir sobre o rumo da taxa Selic. Para esta decisão ele leva em conta a inflação corrente, as expectativas de inflação e o nível de atividade econômica.

A inflação está de fato em uma trajetória de queda, e veio surpreendendo para baixo os analistas de mercado nas últimas divulgações. Fato esse que ajudou a animação do mercado na precificação do ciclo de queda.

Mas, uma outra variável está roubando a cena atual, e deixando os economistas intrigados: a atividade econômica.

Tivemos semana passada a divulgação do PIB do primeiro trimestre. O crescimento no primeiro trimestre foi de 1,9% enquanto o mercado esperava uma alta de apenas 1,6%.

Além do PIB, outros dados já mostravam que a melhora é espalhada. O último dado de produção industrial mostrou crescimento de 1,1% frente a queda de 0,2% do dado anterior, e maior que o 0,9% de alta que o mercado esperava.

As vendas no varejo subiram incríveis 3,2% ano contra ano enquanto o mercado esperava uma alta de apenas 1,2%.O IBC-br, uma proxy mensal do PIB subiu 5,46%, enquanto o mercado esperava uma alta  de 3,65%.

A taxa de desemprego caiu de 8,8% para 8,5%, enquanto o mercado esperava uma estabilidade. São tantos dados apontando em uma mesma direção, que não há dúvidas em relação ao cenário de atividade mais forte.

A pergunta que intriga o mercado financeiro é como é possível a atividade estar acelerando tanto em relação aos dados anteriores, uma vez que estamos com taxas de juros em níveis extremamente restritivos.

Será que a Selic a 13,75% não está sendo suficiente para desaquecer a economia?

Mesmo considerando padrões históricos, estamos nos percentis mais altos de juros. O que faz com que realmente nos pareça que a dose do remédio está sendo muito amarga. E provoca toda uma chuva de críticas do governo à condução da Política monetária pelo Banco Central.

Oras, mas se o objetivo do Banco Central com a Selic alta é restringir a atividade e provocar um desaquecimento da demanda, então essa taxa de juros alta realmente não parece estar restritiva o suficiente.

A queda na inflação está acontecendo. Mas fica difícil ela se sustentar em um ambiente de aceleração econômica e queda do desemprego. Mais difícil ainda fica o Banco Central começar a cair juros nas próximas reuniões, como o mercado está atualmente precificando.

Parece que alguma peça desse quebra cabeça não está se encaixando e deveremos ver essa discussão na próxima reunião de política monetária no final desse mês.