Viagem financeira

Formada em jornalismo e com especialização em mídias digitais pela Universidade da Califórnia, Valéria Bretas já passou pelos maiores veículos de comunicação do País e hoje é editora-chefe do E-Investidor. Ao longo de sua carreira, também aperfeiçoou técnicas de planejamento financeiro aplicadas em viagens. Na coluna Viagem Financeira, escreve sobre experiências, organização financeira e notas exclusivas sobre turismo. Instagram: @valeriabretas

Com colaboração do jornalista @andersonfigo

Valéria Bretas

Como foi a experiência de viajar pela Europa durante a pandemia

Vacinas, teste de covid e pagamentos por aproximação. O que mudou nos últimos dois anos

O Palácio Nacional da Pena, em Lisboa, Portugal (Foto: Valéria Bretas)
  • Passei vinte dias incríveis pela Europa, mas já adianto: o jeito como estávamos acostumados a viajar mudou completamente
  • Os tempos ainda estão difíceis e, mesmo com todos os cuidados, uma viagem internacional é desafiadora. No Brasil, a média de óbitos e infecções voltou a subir em janeiro, com as piores marcas desde setembro de 2021
  • Neste relato, conto o que vocês podem esperar de uma viagem internacional e como se preparar para sair e retornar ao País

Desde o fim do ano passado, o turismo reaqueceu com as fronteiras se abrindo novamente. Talvez você tenha comprado uma viagem para o exterior antes da pandemia, precisou adiar e ainda não está confiante para fazer as remarcações –  e é por isso que decidi compartilhar a minha experiência com vocês.

Estou um pouco atrasada, confesso. Em meados de setembro do ano passado, Portugal e Espanha liberaram a entrada para brasileiros vacinados contra a covid-19. Vi ali uma oportunidade de remarcar um trecho comprado em abril de 2020 e encarar a minha primeira viagem internacional desde que o coronavírus tomou conta do mundo.

Passei vinte dias incríveis pela Europa, mas já adianto: o jeito como estávamos acostumados a viajar mudou completamente. Os tempos ainda estão difíceis e, mesmo com todos os cuidados, uma viagem internacional é desafiadora.

No Brasil, por exemplo, a média de óbitos e infecções voltou a subir em janeiro, com as piores marcas desde setembro de 2021. Isso significa que quem decide viajar a lazer neste momento, precisa entender todos os riscos antes de emitir o cartão de embarque e ter responsabilidade como viajante.

Vacinas e pré-embarque

A sensação de pisar novamente em um aeroporto foi muito similar à que senti há onze anos, quando entrei em um avião pela primeira vez com destino a Nova York.

Os preparativos, porém, foram diferentes. Além de checar se a validade do passaporte estava em dia, me preocupar com as malas, seguro viagem e câmbio, precisei verificar diversas vezes as condições de entrada de estrangeiros nos dois países de destino.

Naquele momento, Portugal e Espanha não exigiam teste PCR negativo na imigração, mas a carteira de vacinação (ou aplicativo) precisavam estar em mãos, assim como os formulários obrigatórios exigidos pelos dois países.

Como as exigências de cada país têm mudado com certa frequência, a melhor forma de acompanhar as exigências de cada local é entrando no site da embaixada do local de destino.

Chegando na imigração

Aqui já deixo uma dica: os aplicativos são ótimos, é claro, mas vi muitos passageiros com problemas para acessar o certificado quando chegamos em Portugal. Seja pela falta de internet, bateria ou qualquer outra eventualidade com o seu celular, recomendo levar todos os documentos impressos. Segurança em dobro é mais do que necessária agora!

A inspeção na hora do embarque deixou a desejar. Já havia preenchido um formulário no site da companhia aérea com a data em que fui vacinada contra a covid, mas nenhum funcionário checou a minha carteira de vacinação no Brasil.

O que mudou em terras nacionais foi a demora. Levei cerca de uma hora a mais entre o check-in e a sala de espera em relação há dois anos, data da minha última viagem para fora do País. Por isso, certifique-se de chegar um pouco mais cedo!

O desembarque em outra nação é sempre chato e movimentado. Imaginei que algum tipo de protocolo teria sido desenvolvido por conta da pandemia para evitar multidões, mas não foi o que aconteceu. Encarei uma fila de quase duas horas na imigração ao chegar em Lisboa. Não havia distanciamento e poucos funcionários trabalhavam na checagem dos passaportes e documentos.

No fim das contas eu não precisei mostrar o meu certificado de vacinação e nem o cadastro obrigatório exigido por Portugal. O agente pediu que eu tirasse a minha máscara para conferir a foto do passaporte e fui questionada apenas sobre o tempo da minha estadia. Ou seja, a imigração estava praticamente da mesma forma que eu já conhecia. Mesmo assim, não deixe de ter todos os documentos e certificados, eles podem (e devem) ser solicitados!

Pagamentos por aproximação

Fazer uma compra por aproximação com o cartão de débito e crédito já não é mais novidade nem no Brasil e muito menos na Europa. Durante as férias notei que as pessoas não tiravam mais as tarjetas da carteira na hora de fazer qualquer tipo de transação. O cartão de crédito foi substituído pelo pagamento por aproximação com o celular e o relógio.

Essa tecnologia também não é nova por aqui. No entanto, em um país onde os golpes evoluem na mesma velocidade em que os produtos são lançados, a modalidade era pouco popular. Hoje, em fevereiro de 2022, já observo mais brasileiros utilizando seus smartphones para fazer pagamentos dessa forma.

E é aí que entra o meu segundo ponto de atenção para você, leitor. Eu sou do tipo que prefere economizar nas taxas e levar dinheiro em espécie nas viagens internacionais. Acontece que a pandemia também mudou essa realidade. Tudo é digital agora. E isso exige que você se prepare melhor na hora de organizar as finanças e comprar uma moeda estrangeira.

Não estou dizendo que não é mais possível pagar as coisas com dinheiro vivo em Portugal e na Espanha. Só que você pode levar mais tempo do que o normal para fazer transações de baixo valor. Vou dar um exemplo: o Palácio Nacional da Pena é um dos castelos mais extravagantes de Portugal e fica localizado na cidade de Sintra. É cartão postal na certa! Só que o ticket de entrada precisa ser comprado on-line, por meio de cartão de crédito ou cartão por aproximação. Dinheiro passou longe.

Se você não tem um cartão de crédito internacional habilitado nessas horas, já perdeu uma das principais atrações turísticas de Portugal.

O que me salvou de muitos perrengues foi um cartão de débito em dólar. Fiz a abertura da minha conta corrente on-line na Avenue Securities faltando apenas alguns dias para a data de embarque. E nem precisei esperar o cartão físico chegar na minha residência (não era necessário, na verdade).

O que essa conta faz é gerar um card virtual sem custo e que pode ser cadastrado nas carteiras virtuais do próprio celular, como Apple Pay, Google Pay e Samsung Pay.

Se você está se perguntando como colocar dinheiro aí, é fácil. Funciona como uma transferência entre contas: você faz um pix do seu banco, por exemplo, e a conversão é feita em dólar comercial e não de turismo. Isso significa que você perde menos dinheiro na hora de fazer a operação com câmbio.

Esse é só um exemplo. Em Barcelona, na Espanha, também notei que as máquinas para a compra das passagens do transporte público já foram adaptadas para essa forma de pagamento com o celular.

Ter pelo menos uma parte do dinheiro que você leva para uma viagem alocado em um cartão como esse pode facilitar muito as coisas. Além de ser uma forma mais segura durante a pandemia!

Atrações turísticas

Circulei por pelo menos dez cidades diferentes entre os dois países. Na entrada das principais atrações turísticas que visitei – como a Sagrada Família, em Barcelona, e o Museu do Prado, em Madrid -, havia indicação para o uso de máscara de proteção. Não encontrei nenhum local que oferecesse o adereço aos turistas.

Já em alguns restaurantes, precisei apresentar o meu certificado de vacinação ao entrar ou fazer uma reserva on-line. O que podemos tirar de lição disso tudo é que o documento de identidade não é a única coisa que você precisa carregar ao sair do seu quarto de hotel agora.

Além disso, é importante ficar de olho no noticiário e nos sites das embaixadas para ter certeza que nenhuma regra nova foi estabelecida. No meu último dia em Portugal, por exemplo, houve um novo decreto para os bares e vida noturna: o PCR negativo se tornou obrigatório. Monitorar as redes sociais e as notícias são essenciais, não esqueça!

Experiências intimistas

Pode parecer complexo, mas há boas experiências que podemos tirar disso tudo. A pandemia também trouxe passeios mais seletivos e intimistas aos viajantes, voltados para pequenos grupos ou tours exclusivos.

Fui convidada pela Ségur Estates, grupo que reúne vinícolas portuguesas na região do Alentejo e Vale do Douro, para um tour privativo que a empresa oferece nas adegas Encostas de Estremoz e Ségur Estates Redondo Winery.

O “enoturismo” é uma experiência para conhecer mais o universo do vinho e um dos carros chefes da Ségur, que produz mais de 5 milhões de litros de vinho por ano e exporta para 20 países. Por conta da covid, a vinícola Encostas de Estremoz suspendeu os eventos regulares e um almoço com visita à adega que costuma ser oferecidos aos turistas que se aventuram pela charmosa região.

A alentejana Joana Roque Vale, enóloga-chefe das três vinícolas da Ségur, se encarregou de preparar uma boa prova em barricas de carvalho e fez uma seleção de rótulos para acompanhar um prato tradicional do Alentejo, as “migas” (uma espécie de mingau com bifes de porco preto). Uma delícia, devo dizer. O meu rótulo favorito foi o tinto Terras de Xisto Vinhas Velhas. Apesar de ser um vinho português, a Ségur tem expandido os parceiros comerciais no Brasil, como Pão de Açúcar, Macro e Wine e Adega Alentejana. Se vocês ficaram curiosos, já antecipo que os preços são competitivos e acessíveis. Vale provar!

Há outras opções no turismo europeu que você pode pesquisar. Na plataforma do Airbnb, por exemplo, diversas empresas oferecem passeios privados que vão desde barcos e lanchas até provas gastronômicas com enólogos ao ar livre.

O que é necessário para retornar ao Brasil

Não enfrentei nenhum tipo de problema durante a viagem. No entanto, há uma pressão nos últimos dias para retornar ao Brasil. A embaixada brasileira exige que os passageiros preencham um formulário on-line no site da Anvisa e um teste negativo de covid-19, que pode ser o PCR ou antígeno.

Repito: as orientações podem mudar de um dia para o outro, portanto, fique de olho no portal consular do Brasil para não ser barrado no aeroporto.

A minha recomendação é que você procure um local para realizar o seu teste assim que chegar ao país de destino, isso pode evitar grandes dores de cabeça. Falo por experiência própria, porque a data do meu voo coincidia com um feriado português. Ou seja, precisei ir em pelo menos 5 farmácias para conseguir um teste e garantir meu retorno. Uma pesquisa rápida no Google pode evitar isso! Se possível, já deixe tudo agendado para o último dia da sua viagem. Planejamento faz a diferença, sim.

O principal risco é se o resultado der positivo. Neste caso, você é impedido de voltar ao Brasil.

Me alonguei neste relato, mas acredito que pode ajudar no processo de decisão sobre fazer uma viagem internacional durante a pandemia. Tudo mudou e há muito mais além de máscara de proteção e álcool gel para nos preocuparmos.

Se me perguntarem se valeu a pena, direi que sim. Valeu muito a pena! Mas se você decidir encarar, é necessário ter paciência, cuidados extras e, acima de tudo, planejamento!